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domingo, 2 de agosto de 2020

O TOTALITARISMO (COMUNISMO, NAZISMO) PRECISA ELIMINAR A SOLIDARIEDADE E OS LAÇOS SOCIAIS E FAMILIARES - HANNAH ARENDT

 

A fim de produzir a necessária MASSA ATOMIZADA E AMORFA, precisava primeiro liquidar o resto de poder dos Sovietes. Por volta de 1930, os últimos vestígios das antigas instituições comunais haviam desaparecido. 

O governo bolchevista empreendeu então a liquidação das classes e começou, por motivos ideológicos e de propaganda, com as classes proprietárias, a nova classe média das cidades e os camponeses do interior, cuja liquidação foi mais meticulosa e cruel que a de qualquer outro grupo, e foi levada a cabo por meio de fome artificial e deportação, a pretexto de expropriação dos kulaks e de coletivização. A liquidação das classes média e camponesa terminou no início da década de 30: os que não se incluíam entre os muitos milhões de mortos ou milhões de deportados sabiam agora “quem mandava neste país” e haviam compreendido que as suas vidas e as vidas de suas famílias não dependiam dos seus concidadãos, mas somente dos caprichos do governo, aos quais tinham de enfrentar em completa solidão. Não há classe que não possa ser extinta quando se mata um número suficientemente grande de seus membros.

A próxima classe a ser liquidada como grupo era a dos operários. Como classe, ofereciam muito menor resistência que os camponeses, porque a expropriação dos donos de fábricas, que eles haviam realizado espontaneamente durante a Revolução, havia sido imediatamente frustrada pelo governo, que confiscara as fábricas como sendo propriedade do Estado, sob o pretexto de que o Estado pertencia ao proletariado. O sistema stakhanovista, adotado no início da década de 30, eliminou a solidariedade e a consciência de classe dos trabalhadores pela concorrência feroz implantada pela solidificação de uma aristocracia operária, separada do trabalhador comum por uma distância social mais aguda que a distância entre os trabalhadores e a gerência. Esse processo foi completado em 1938, quando a criação do documento de trabalho transformou oficialmente toda a classe operária russa num gigantesco corpo de trabalhadores forçados. 

Finalmente, veio a liquidação daquela burocracia que havia ajudado a executar as medidas anteriores de extermínio. Stálin levou dois anos, de 1936 a 1938, para se desfazer de toda a aristocracia administrativa e militar da sociedade soviética; quase todas as repartições públicas, fábricas, entidades econômicas e culturais e agências governamentais, partidárias e militares passaram a novas mãos, quando “quase a metade do pessoal administrativo havia sido eliminada”, e foram liquidados mais de 50% de todos os membros do partido e “pelo menos outros 8 milhões de pessoas”. E, como esse expurgo geral terminou com a liquidação das mais altas autoridades policiais — as mesmas que antes haviam organizado o expurgo geral —, nem mesmo os oficiais da GPU, que haviam instaurado o terror, podiam pensar que, como grupo, ainda representassem alguma coisa. 

DESFAZER TODOS OS LAÇOS

Desde os tempos antigos, a imposição da igualdade de condições aos governados constituiu um dos principais alvos dos despotismos e das tiranias, mas essa equalização não basta para o governo totalitário, porque deixa ainda intactos certos laços não políticos entre os subjugados, tais como LAÇOS DE FAMÍLIA e de interesses culturais comuns. O totalitarismo deve chegar ao ponto em que tem de acabar com a existência autônoma de qualquer atividade que seja, mesmo que se trate de xadrez. Os amantes do “xadrez por amor ao xadrez”, adequadamente comparados por seu exterminador aos amantes da “arte por amor à arte”, demonstram que ainda não foram absolutamente atomizados todos os elementos da sociedade, cuja UNIFORMIDADE INTEIRAMENTE HOMOGÊNEA É CONDIÇÃO FUNDAMENTAL PARA O TOTALITARISMO.

A atomização da massa na sociedade soviética foi conseguida pelo uso de repetidos expurgos que invariavelmente precediam o verdadeiro extermínio de um grupo. A fim de destruir todas as conexões sociais e familiares, os expurgos eram conduzidos de modo a ameaçarem com o mesmo destino o acusado e todas as suas relações, desde meros conhecidos até os parentes e amigos íntimos. A “culpa por associação” é uma invenção engenhosa e simples; logo que um homem é acusado, os seus antigos amigos se transformam nos mais amargos inimigos: para salvar a própria pele, prestam informações e acorrem com denúncias que “corroboram” provas inexistentes. Em seguida, tentam provar que a sua amizade com o acusado nada mais era que um meio de espioná-lo e delatá-lo como sabotador, trotskista, espião estrangeiro ou fascista. Uma vez que o mérito é “julgado pelo número de denúncias apresentadas contra os camaradas”, é óbvio que a mais elementar cautela exige que se evitem todos os contatos íntimos com aqueles que sejam obrigados, pelo perigo da própria vida, à necessidade de arruinar a de outrem. Em última análise, foi através do desenvolvimento desse artifício, até os seus máximos e mais fantásticos extremos, que os governantes bolchevistas conseguiram criar uma sociedade atomizada e individualizada como nunca se viu antes, e a qual nenhum evento ou catástrofe poderiam por si só ter suscitado.

Os movimentos totalitários são organizações maciças de indivíduos atomizados e isolados. Distinguem-se dos outros partidos e movimentos pela exigência de lealdade total, irrestrita, incondicional e inalterável de cada membro individual. Essa exigência é feita pelos líderes dos movimentos totalitários mesmo antes de tomarem o poder e decorre da alegação, já contida em sua ideologia, de que a organização abrangerá, no devido tempo, toda a raça humana. Contudo, onde o governo totalitário não é preparado por um movimento totalitário (como foi o caso da Rússia em contraposição com a Alemanha nazista), o movimento tem de ser organizado depois, e as condições para o seu crescimento têm de ser artificialmente criadas de modo a possibilitar a lealdade total que é a base psicológica do domínio total. Não se pode esperar essa lealdade a não ser de seres humanos completamente isolados que, desprovidos de outros laços sociais — de família, amizade, camaradagem — só adquirem o sentido de terem lugar neste mundo quando participam de um movimento, pertencem ao partido. 

A lealdade total só é possível quando a fidelidade é esvaziada de todo o seu conteúdo concreto, que poderia dar azo a mudanças de opinião. Os movimentos totalitários, cada um ao seu modo, fizeram o possível para se livrarem de programas que especificas sem um conteúdo concreto, herdados de estágios anteriores e não totalitários da sua evolução. Por mais radical que seja, todo objetivo político que não inclua o domínio mundial, todo programa político definido que trate de assuntos específicos em vez de referir-se a “questões ideológicas que serão importantes durante séculos” é um entrave para o totalitarismo.

O verdadeiro objetivo do fascismo era apenas a tomada do poder e a instalação da “elite” fascista no governo. Já o totalitarismo jamais se contenta em governar por meios externos, ou seja, através do Estado e de uma máquina de violência; graças à sua ideologia peculiar e ao papel dessa ideologia no aparelho de coação, o totalitarismo descobriu um meio de subjugar e aterrorizar os seres humanos internamente.

Referência: Hannah Arendt, "Origens do Totalitarismo" pgs 287-291


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COTAS DE PRISÕES PARA MANTER O POVO ATERRORIZADO

"As prisões políticas em nosso país singularizaram-se durante décadas precisamente pelo fato de serem detidas pessoas em nada culpadas e, por isso mesmo, de modo nenhum preparadas para oferecer resistência.
Criou-se o sentimento geral da fatalidade, a idéia de que era impossível fugir..."
(...)
"Os "Órgãos" não tinham frequentemente motivo profundo para a escolha, não sabendo que pessoa deter ou não deter, mas simplesmente QUAIS OS NÚMEROS A ATINGIR. O cumprimento desses números podia estar de acordo com as normas, mas podia também ter um caráter completamente casual. Em 1937 apareceu na recepção da NKVD de Novotcherkassk uma mulher perguntando que destino devia dar a uma criança de peito que tinha fome, de uma vizinha detida.
"Sente-se", disseram-lhe, "vamos esclarecer isso." Esperou duas horas e levaram-na da recepção à cela: era preciso completar urgentemente a cota prevista e faltavam agentes para mandá-los percorrer a cidade, e aquela mulher já estava ali mesmo!"

A. Soljenítsen, ARQUIPÉLAGO GULAG

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SOLIDÃO ORGANIZADA
A atomização da massa na sociedade soviética foi conseguida pelo uso de repetidos expurgos que invariavelmente precediam o verdadeiro extermínio de um grupo. A fim de destruir todas as conexões sociais e familiares, os expurgos eram conduzidos de modo a ameaçarem com o mesmo destino o acusado e todas as suas relações, desde meros conhecidos até os parentes e amigos íntimos. A “culpa por associação” é uma invenção engenhosa e simples; logo que um homem é acusado, os seus antigos amigos se transformam nos mais amargos inimigos: para salvar a própria pele, prestam informações e acorrem com denúncias que “corroboram” provas inexistentes. Em seguida, tentam provar que a sua amizade com o acusado nada mais era que um meio de espioná-lo e delatá-lo como sabotador, trotskista, espião estrangeiro ou fascista.

O PADRÃO TOTALITÁRIO
https://conspiratio3.blogspot.com/2020/07/o-padrao-totalitario-hannah-arendt-e.html

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O CRIME DE TER VIDA PRIVADA - ORLANDO FIGES - SUSSURROS "Na visão utópica deles, o ativista revolucionário era um protótipo de uma nova espécie de ser humano, uma "personalidade coletiva" que viveria apenas pelo bem comum, que popularia o futuro da sociedade comunista. Muitos socialistas viam a criação desse tipo de ser humano como o objetivo fundamental da Revolução.
Para os bolcheviques, a realização radical da "personalidade coletiva" exigia "romper a concha que envolve a vida privada". A permissão para que houvesse uma "distinção entre vida privada e vida pública levará, mais cedo ou mais tarde, à traição do comunismo", defendia Nadezhda Krupskaia, a mulher de Lenin. Segundo os bolcheviques, a idéia de uma "vida privada" separada do âmbito da política não fazia sentido, pois a política afetava tudo; não havia nada na suposta "vida privada" de uma pessoa, que não fosse política. A esfera pessoal devia, portanto, estar submetida à supervisão e ao controle público. Espaços privados além do controle do Estado foram considerados pelos bolcheviques como perigosas áreas de reprodução de contrarrevolucionários que precisavam ser expostos e extirpados."
https://conspiratio3.blogspot.com/2023/05/o-crime-de-ter-vida-privada-orlando.html

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"Enquanto os esforços para a deformação do senso comum estão em andamento, os meios de comunicação e o sistema de ensino encarregam-se de dar por acabada e exitosa a transformação da sociedade. Isto é, encarregam-se de convencer a todos de que a cartilha vermelha já teria sido devidamente apreendida pela população e de que os brasileiros comungariam das mesmas opiniões a respeito de temas como a união homossexual, legalização do aborto, a liberação das drogas, a demonização dos valores cristãos e a santificação dos valores socialistas, etc. A estratégia é eficaz, pois o indivíduo, isolado no pequeno universo de seu cotidiano, crê que suas ideias são ultrapassadas, dissidentes e pior, preconceituosas; sente-se divorciado de uma realidade que, com efeito, existe apenas no universo fantasioso da mídia e do ensino. Entrementes, o indivíduo vê-se diante de uma dicotomia: o senso comum que lhe próprio e o senso comum que lhe é impingido."  https://web.archive.org/web/20100507051459/http://www.midiasemmascara.org/artigos/movimento-revolucionario/10778-o-senso-comum-fraudado.html

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TÉCNICA TOTALITÁRIA DA FALSIFICAÇÃO DO BEM, DO MAL E DA CULPA - EXCLUSÃO/CANCELAMENTO/EXPURGO/EXTERMÍNIO - ÓDIO DIRIGIDO https://conspiratio3.blogspot.com/p/antiga-tecnica-totalitaria-da.html

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SAUL ALINSK, O DEMÔNIO VIVEU ENTRE NÓS
https://youtu.be/0X9qyHX8x_c

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TÉCNICA DO ISOLAMENTO
 
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O INCENTIVO À DELAÇÃO NO TOTALITARISMO: DIVIDIR PARA CONQUISTAR - TÉCNICA DE ATOMIZAÇÃO SOCIAL https://conspiratio3.blogspot.com/2013/02/o-incentivo-delacao-no-totalitarismo.html
 
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A PROIBIÇÃO DE PERGUNTAR - Por linguagem ideológica, refiro-me ao fenômeno diagnosticado por Eric Voegelin em uma fração considerável do pensamento político moderno e que marcaria um ineditismo em relação à antiguidade clássica: a "PROIBIÇÃO DE PERGUNTAR". Não se trata aí, diz Voegelin, de uma simples resistência à análise, coisa que, decerto, também existia no passado. Não estamos falando apenas de um apego passional a opiniões (doxai) em face de uma análise (episteme) que as contrarie. Como esclarece o filósofo alemão: "Em vez disso, confrontamos-nos aqui com pessoas que sabem que, e por que, suas opiniões não podem resistir a uma análise crítica, e que, portanto, fazem da proibição do exame de suas premissas parte do seu dogma." (Eric Voegelin). Essa linguagem ideológica, sustentada sobre a proibição de perguntar, é um dos traços mais característicos do ambiente intelectual marxista e esquerdista de modo geral. (...) Gramsci foi, inegavelmente, um dos mais hábeis técnicos em linguagem ideológica. (FLÁVIO GORDON - A CORRUPÇÃO DA INTELIGÊNCIA) 

Flávio Gordon - "Se, durante a ditadura, tínhamos uma censura autoritária e visível (frequentemente burlada, como muitos artistas e jornalistas da época já cansaram de confessar, até com certa graça), hoje temos uma censura totalitária, invisível, grave, onipresente. Ela não comporta gracejos nem brechas. Se, antes, ela vinha exclusivamente do governo, hoje ela é mais de tipo soviético-chinês, e o censor pode estar ao lado."
http://obrasileouniverso.blogspot.com/2013/11/censura.html 

 
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NAZISMO É SOCIALISMO

Como a direita conservadora, que recentemente, graças sobretudo à internet, teve acesso ao pensamento conservador, censurado velada e abertamente nas faculdades de Humanas do Brasil, e percebeu que conservadorismo não tem nada a ver com o que a esquerda diz que o conservadorismo é (natürlich), a incipiente direita brasileira lembrou ao mundo que o nacional-socialismo é uma forma de socialismo (…!), e não de conservadorismo ou capitalismo.

O nazismo, que sempre se apresentou como uma terceira via, pega elementos do socialismo (sobretudo as antigas teses germânicas sobre socialismo), do trabalhismo e do sindicalismo político.

O sindicalismo, aliado ao islamismo, já havia realizado o primeiro genocídio da história a superar 1 milhão de mortos: o grupo Jovens Turcos (Jön Türkler), que se opunha à monarquia do Abdülhamid II no Império Otomano (atual Turquia), buscando uma homogeneização cultural com laços com a Revolução Russa, promoveu o genocídio de cristãos armênios em 1915, durante a Primeira Guerra. A Armênia foi, provavelmente, o primeiro lugar do mundo a se converter ao cristianismo.

Mais em: Resposta ao textículo do militante do PSOL no blog do Guga Chacra sobre “nazismo ser de direita”  https://sensoincomum.org/2017/08/17/resposta-guga-chacra-nazismo-direita/ 



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