quarta-feira, 5 de junho de 2019

Superinteressante Superidiotizante

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Chernobyl: o acidente como resultado

“In a true tyranny, everyone lies about everything all the time. And that’s why it’s hell” - Jordan Peterson
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Porém, do ponto de vista simbólico, Chernobyl nos chama mais atenção do que Holodomor. O próprio Mikhail Gorbatchov reconheceu isso quando afirmou que o acidente da usina foi provavelmente a maior razão para a destituição do sistema soviético (o que não quer dizer a destituição do sistema socialista). Por que isso seria verdade? Pelo poder simbólico. Holodomor não foi motivo de propaganda. Chernobyl foi. A usina representava a perfeição do sistema soviético e a explosão do seu reator foi como a voz da realidade gritando contra as elucubrações da mentalidade revolucionária. O acidente provou que a ideologia é um castelo de cartas e quanto mais ela se desenvolve, mais estrondosa é sua queda. “Nosso poder vem da percepção do nosso poder” diz o personagem de Gorbatchev na série. O poder de uma ideologia é o poder das aparências. Ao passo que o poder da verdade é o poder em si mesmo. É um poder que não pode ser teatralizado. Como a força de uma usina nuclear que não pode ser mimetizada por nenhuma outra fonte de energia. É o olho do sol.
A série narra com profundidade a história de Chernobyl, mostrando como o acidente da usina foi resultado de uma série de mentiras escalares. Os operadores da sala de controle mentiram uns aos outros, aceitando a autoridade inconveniente do seu carrasco Anatoly Dyatlov, os superiores de Dyatlov mentiram no cronograma de testes da usina e, por fim, toda a concepção do projeto de usinas nucleares soviético era uma grande mentira. As usinas foram desenvolvidas de maneira insegura, sem possibilidade de desligar os reatores. Os cientistas responsáveis mentiram diante de toda comunidade científica internacional e por isso conseguiram aprovação para realização do seu projeto. É como a inversão dos arcos de uma catedral, que começam imensos e vão se reduzindo um após o outro na medida que a parede da igreja sobe verticalmente. As mentiras vão do microcosmo ao macrocosmo do sistema socialista. Seu resultado é a explosão do núcleo da usina. Valery Legasov, personagem principal da série, magistralmente interpretado por Jared Harris, foi um dos responsáveis pela mentira do projeto de usinas nucleares. Provavelmente movido pela culpa, também foi ele o responsável por investigar e reparar os danos em Chernobyl.
Chernobyl prova que o simplório caminho bidirecional entre a verdade e a mentira, tão bem defendido pelos nossos avós, nunca deixou de existir. Um homem diante desses dois caminhos tem não mais do que duas opções: aceitar ou se sacrificar. A aceitação levará também ao sacrifício inevitável – todos morreremos. Não há segunda opção. Já o sacrifício nos leva ao sofrimento consciente e, por assim dizer, amoroso. O sacrifício que optamos e carregamos como uma cruz. Esse é outro mérito da série. Ela prova que a única maneira de se salvar é aceitando o drama da realidade que grita a partir de seu núcleo.
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 O texto final de Legasov beira a perfeição. Seu início é memorável: “Nossos segredos e mentiras são praticamente o que nos define. Quando a verdade ofende, nós mentimos e mentimos, até que não nos lembremos mais que ela existe, mas a verdade ainda existe. Cada mentira que contamos gera uma dívida com a verdade. Cedo ou tarde essa dívida deve ser paga.”
Craig Mazin é um roteirista consciente de sua arte. Não podemos nos dar o luxo de acreditar que ele escolheu as palavras que fecham sua obra sem dar a devida atenção. “Quando a verdade ofende, nós mentimos”. Mas a série prova que a mentira é impossível. A mentira é somente o atraso de uma cobrança inevitável da realidade. Toda verdade que hoje acreditamos ser ofensiva, toda pergunta inconveniente que deixamos de fazer, tudo é somente o atraso de uma revolta do Real. Como não pensar em nossa civilização que cada vez mais constrói suas instituições, sua linguagem, seus símbolos de poder baseado no politicamente correto e nas mentiras ideológicas?
Em uma das últimas cenas, vemos uma pintura em uma parede da uma velha escola que está representando uma mulher com um bebê no colo. A parede está descascada e a boca da mulher está em ruínas. É como um alerta sobre o silêncio e sobre nossa passividade destrutiva. E se nossa rendição ao politicamente correto, à linguagem ideologicamente viciada, aos termos marxistas de descrição da realidade, aos pronomes de gênero indefinido quando isso é algo ainda amplamente discutido pela ciência, pela psicologia e pela filosofia, enfim, a todos os termos que achamos inconvenientes e ofensivos a determinadas minorias, e se tudo isso é apenas uma nova maneira de negligenciar o núcleo do reator? O desleixo e a irresponsabilidade com nossa linguagem podem gerar uma implosão civilizacional da mesma magnitude nuclear de Chernobyl. E se esse processo for conscientemente orquestrado por aqueles que não conseguimos nomear por estarem demasiadamente escondidos nas estruturas de poder? Eu não tenho a resposta para essas perguntas, mas viver sem perguntá-las seria ceder espaço à mesma espiral de silêncio que causou a morte de milhares de pessoas em Chernobyl.
“O átomo nos torna mais humilde.”
“Não, o átomo nos humilha.”
Diálogo da série

O desenvolvimento narrativo da série presta um grande serviço ao nos colocar diante desses acontecimentos utilizando a arte cinematográfica para sensibilizar nosso olhar. Essa sensibilidade nos abre para as realidades simbólicas e metafísicas dos acontecimentos. A radioatividade, a usina nuclear, a explosão, Pripyat. Nada é por acaso. Vejam a relação entre a radioatividade e a Verdade transcendente. A verdade é aquilo que, apesar de invisível, não pode jamais deixar de ser visto a longo prazo. É aquilo que transpassa o tempo, a materialidade, as civilizações, as cidades, as vidas, a natureza, nossos corpos, nossas paredes, tal como urânio. Invisível e real. Real e mortal. Não seria um gigantesco simbolismo natural que um elemento invisível seja também o mais poderoso e mais mortífero? Como a onisciência, onipresença e onipotência d’Aquele que nos criou.
O acidente da usina foi causado pela explosão de seu núcleo. Simbolicamente, o núcleo é a unidade de tudo. A concentração maciça do que é real. Sua explosão é uma revolta da realidade contra a trama de mentiras ideológicas. Não há luta de classes, não há ideologia de gêneros, não há opressores e oprimidos. Há o núcleo da realidade gritando pela nossa aceitação do inevitável: a finitude e a fragilidade da vida de cada ser humano. No corpo humano, a ação da radioatividade causa convulsões do sistema imunológico desde dentro, corroendo o corpo em seu núcleo celular. Quanto mais nos enganarmos, maior será o risco da nossa implosão. E quando a realidade se vinga - porque a realidade é vingativa - ela expõe toda sua brutalidade. Ela não nos deixa nus, ela nos deixa em carne viva.
Tudo isso é uma pista para compreendermos a misteriosa passagem do livro Cântico dos Cânticos das Escrituras:
“Quem é essa que surge como a aurora, bela como a lua, brilhante como o sol, terrível como um exército em batalhas?”
Quem é essa aurora brilhante como o sol? Brilhante como o sol. Em menor escala, brilhante como o núcleo aberto de uma usina nuclear. Como uma chaga aberta expelindo o sangue luminoso em um corpo de escuridão mentirosa. É a realidade que nos fala. É a Verdade inegável, aquilo que é mais estruturante e ao mesmo tempo mais mortífero.
O registro oficial russo ainda aponta somente 31 mortos no acidente de Chernobyl.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2471940786183877



“A alta cultura é a autoconsciência de uma sociedade. Ela contém as obras de arte, literatura, erudição e filosofia que estabelecem o quadro de referência compartilhado entre as pessoas cultas.” “A alta cultura é uma conquista precária, e dura apenas se apoiada por um senso da tradição e pelo amplo endosso das normas sociais circundantes. Quando essas coisas evaporam, a alta cultura é substituída por uma cultura de falsificações. A falsificação depende em certa medida da cumplicidade entre o perpetrador e a vítima, que juntos conspiram para acreditar no que não acreditam e para sentir o que são incapazes de sentir.”
Roger Scruton
https://www.tercalivre.com.br/por-que-roger-scruton-fara-muita-falta/

"O pesadelo de povos inteiros trucidados ante o olhar indiferente do mundo e os sorrisos sarcásticos dos bem-pensantes repete-se, igualzinho ao dos anos 30.
Oito milhões de ucranianos ameaçados por Stalin poderiam ter sobrevivido se o New York Times não assegurasse que estavam em boas mãos. Seis milhões de judeus poderiam ter sido poupados, se na Inglaterra o sr. Chamberlain, nos EUA os comunistas comprados pelo pacto Ribbentropp-Molotov e na França uma esquerda católica podre, sob a liderança do açucarado Emmanuel Mounier, não garantissem que Adolf Hitler era da paz. A credibilidade dos apaziguadores é uma arma letal a serviço dos genocidas. Mas hoje não é preciso nem mesmo desmentir o horror. Ninguém sabe que ele existe. O mundo estreitou-se às dimensões de uma telinha de TV, de uma manchete de jornal. O que não cabe nelas está fora do universo. A mídia elegante tornou-se o maior instrumento de controle e manipulação jamais concebido pelos supremos tiranos. Joseph Goebbels e Willi Munzenberg eram apenas amadores. Acreditavam em propaganda ostensiva, quando hoje se sabe que a simples alteração discreta do fluxo de notícias basta para gerar nas massas uma confiança ilimitada nos manipuladores e o ódio feroz a bodes expiatórios, sem que ninguém pareça tê-las induzido a isso. O tempo das mentiras repetidas está superado. Entramos na era da inversão total."
Olavo de Carvalho
http://olavodecarvalho.org/para-alem-da-satira/

J.R. GUZZO
O esforço do homem, durante séculos e séculos, para aumentar o seu grau de conhecimento está sendo substituído por um esforço contrário, lamenta J. R. Guzzo no portal Metrópoles. E o pior é que esse esforço contrário viceja dentro das universidades, supostos centros do conhecimento: 

Vivemos, hoje, uma praga talvez sem precedentes na história: o esforço do homem, durante séculos e séculos, para aumentar o seu grau de conhecimento está sendo substituído por um esforço contrário. Isso mesmo: há um movimento cada vez mais potente , em todo o mundo, para diminuir o que o ser humano conhece. Ele se manifesta naquilo que se chama de “realidade alternativa”.
 
Que diabo é isso? É a repetição maciça de crenças que se apresentam com um atraente uniforme de ciência, mas não passam disso – crenças. Grupos montados na universidade, em institutos de pesquisa, em órgãos de governo que administram a ciência, em ONGs, etc. separam uma ideia, uma convicção ou um princípio do seu agrado, e tratam de transformar esse pacote em verdade científica.

Depois de muita massagem nos fatos, muitos milhões investidos na construção da realidade que lhes interessa e muito barulho na mídia, acabam por anunciar que isso ou aquilo está “provado”. Ponto: o que era fé virou ciência. Os desejos do grupo foram “validados” pela massa de pesquisas que fizeram e passam a ser apresentados como se fossem mais um teorema de Pitágoras.
https://otambosi.blogspot.com/2020/01/vivemos-uma-praga-historica-o-triunfo.html

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