quarta-feira, 22 de setembro de 2021

OLAVO DE CARVALHO - A Linguagem dos Símbolos

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Não tem nada a ver com o assunto, mas quando vão entender que a verdade da vida, a virtude também portanto, não consiste em ser um bloco de coerência e sim em manter as contradições sob controle, como o recém-nascido Mercúrio dominando as duas serpentes?

Um exemplo trágico: o grande filósofo Max Scheler não conseguiu trabalhar a contradição interior de ser ao mesmo tempo um católico sincero e um mulherengo incurável. Acobardou-se, abandonando a fé.

"Sêde perfeitos como vosso Pai é perfeito", ensinou Jesus. Não faça disso um motivo de tormento: Deus Pai considerou perfeitos homens tão cheios de contradições como Salomão e Davi. Quem cobra coerência em bloco são os hipócritas e maledicentes. Deus se contenta com muito menos.

Quando Deus nos manda carregar a nossa cruz, Ele quer dizer arcar com a responsabilidade dos nossos pecados. As criaturinhas perfeitas que atormentam o próximo com exigências de perfeição absoluta já jogaram as suas cruzes fora faz muito tempo. Estão leves como um peido.

Sofremos com as contradições interiores que não conseguimos vencer, e é justamente esse fracasso repetido que nos leva a invocar Deus de novo e de novo, até entendermos que é Ele, não nós, quem vai resolver as nossas contradições.

Deus tem soluções que a própria solução desconhece.

Não se pode pedir um milagre só para tirar uma dúvida, mas pode-se pedir vários quando se precisa deles desesperadamente.

Chega um ponto em que você está mais empenhado em invocar Deus do que em resolver as suas miúdas contradições. Então Deus começa a atender ao seu apelo: "Não olheis para os nossos pecados, mas para a fé que anima a Vossa Igreja."

 


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