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A DESCONFIANÇA generalizada gera a sociedade atomizada, condição básica para o totalitarismo.
TÉCNICA DA ATOMIZAÇÃO - O TOTALITARISMO (COMUNISMO, NAZISMO) PRECISA ELIMINAR TODOS OS LAÇOS SOCIAIS E FAMILIARES - HANNAH ARENDT
Desde os tempos antigos, a imposição da igualdade de condições aos
governados constituiu um dos principais alvos dos despotismos e das
tiranias, mas essa equalização não basta para o governo totalitário,
porque deixa ainda intactos certos laços não políticos entre os
subjugados, tais como LAÇOS DE FAMÍLIA e de interesses culturais comuns.
O totalitarismo deve chegar ao ponto em que tem de acabar com a
existência autônoma de qualquer atividade que seja, mesmo que se trate
de xadrez. Os amantes do “xadrez por amor ao xadrez”, adequadamente
comparados por seu exterminador aos amantes da “arte por amor à arte”,
demonstram que ainda não foram absolutamente atomizados todos os
elementos da sociedade, cuja UNIFORMIDADE INTEIRAMENTE HOMOGÊNEA É
CONDIÇÃO FUNDAMENTAL PARA O TOTALITARISMO.
A atomização da massa na sociedade soviética foi conseguida pelo uso
de repetidos expurgos que invariavelmente precediam o verdadeiro
extermínio de um grupo. A fim de destruir todas as conexões sociais e
familiares, os expurgos eram conduzidos de modo a ameaçarem com o mesmo
destino o acusado e todas as suas relações, desde meros conhecidos até
os parentes e amigos íntimos. A “culpa por associação” é uma invenção
engenhosa e simples; logo que um homem é acusado, os seus antigos amigos
se transformam nos mais amargos inimigos: para salvar a própria pele,
prestam informações e acorrem com denúncias que “corroboram” provas
inexistentes. Em seguida, tentam provar que a sua amizade com o acusado
nada mais era que um meio de espioná-lo e delatá-lo como sabotador,
trotskista, espião estrangeiro ou fascista. Uma vez que o mérito é
“julgado pelo número de denúncias apresentadas contra os camaradas”, é
óbvio que a mais elementar cautela exige que se evitem todos os contatos
íntimos com aqueles que sejam obrigados, pelo perigo da própria vida, à
necessidade de arruinar a de outrem. Em última análise, foi através do
desenvolvimento desse artifício, até os seus máximos e mais fantásticos
extremos, que os governantes bolchevistas conseguiram criar uma
sociedade atomizada e individualizada como nunca se viu antes, e a qual
nenhum evento ou catástrofe poderiam por si só ter suscitado.
Os movimentos totalitários são organizações maciças de indivíduos
atomizados e isolados. Distinguem-se dos outros partidos e movimentos
pela exigência de lealdade total, irrestrita, incondicional e
inalterável de cada membro individual. Essa exigência é feita pelos
líderes dos movimentos totalitários mesmo antes de tomarem o poder e
decorre da alegação, já contida em sua ideologia, de que a organização
abrangerá, no devido tempo, toda a raça humana. Contudo, onde o governo
totalitário não é preparado por um movimento totalitário (como foi o
caso da Rússia em contraposição com a Alemanha nazista), o movimento tem
de ser organizado depois, e as condições para o seu crescimento têm de
ser artificialmente criadas de modo a possibilitar a lealdade total que é
a base psicológica do domínio total. Não se pode esperar essa lealdade a
não ser de seres humanos completamente isolados que, desprovidos de
outros laços sociais — de família, amizade, camaradagem — só adquirem o
sentido de terem lugar neste mundo quando participam de um movimento,
pertencem ao partido.
A lealdade total só é
possível quando a fidelidade é esvaziada de todo o seu conteúdo
concreto, que poderia dar azo a mudanças de opinião. Os movimentos
totalitários, cada um ao seu modo, fizeram o possível para se livrarem
de programas que especificassem um conteúdo concreto, herdados de
estágios anteriores e não totalitários da sua evolução. Por mais radical
que seja, todo objetivo político que não inclua o domínio mundial, todo
programa político definido que trate de assuntos específicos em vez de
referir-se a “questões ideológicas que serão importantes durante
séculos” é um entrave para o totalitarismo.
O verdadeiro objetivo do fascismo era apenas a tomada do poder e a
instalação da “elite” fascista no governo. Já o totalitarismo jamais se
contenta em governar por meios externos, ou seja, através do Estado e de
uma máquina de violência; graças à sua ideologia peculiar e ao papel
dessa ideologia no aparelho de coação, o totalitarismo descobriu um meio
de subjugar e aterrorizar os seres humanos internamente.
https://conspiratio3.blogspot.com/2020/08/o-totalitarismo-precisa-eliminar-todos.html
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ATAQUE A VALORES E ATOMIZAÇÃO SOCIAL
MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS ESCREVEU:
"O embotamento, que se nota na sensibilidade moral de grande parte da população a tais fatos, é mero barbarismo. Os chamados "escândalos" já não escandalizam! Publicam-se nos jornais as notícias mais espantosas de atos de corrupção, e não há qualquer estremecimento mesmo superficial da epiderme. Aceita-se tudo isso como algo natural e normal. Ladrões da pior espécie são elevados a altos postos, e muitos são reeleitos em campanha memoráveis. Toda a vida pregressa desses indivíduos não faz enrubescer o rosto de milhares e até milhões de eleitores. Enquanto o inverso é o que se vê. Os políticos mais limpos e dignos veem ameaçadas as suas reeleições, e muitos entram no esquecimento porque seus nomes não estiveram em manchetes de jornais, nem sofreram acusações de crimes dessa espécie. A honestidade é vista como algo ridículo, e o homem crédulo, o homem de boa fé, o homem digno, é motivo de para programas humorísticos. Grande parte dessas figuras é apresentada como sendo verdadeiros hipócritas que, na hora precisa, lançam mão do alheio. A intenção é clara: pôr a dúvida sobre a decência, sobre a honestidade, sobre a honra. Não se respeita mais a honorabilidade de ninguém. "
"O que se observa nos períodos de decadência dos ciclos culturais é o aumento desmedido da negatividade em relação aos principais valores. Tende-se a negar tudo quanto de superior o ciclo admirou e realizou. Há uma completa inversão da escala de valores e todos os setores são atingidos pela ação negativa. Os princípios religiosos, que constituem os fundamentos do ciclo, são abalados pelas doutrinas negativistas, que não se contentam apenas em pôr em dúvida, mas em negar peremptoriamente o que até então era aceito, admitido e venerado. Não pára aí a ação negativista. Ela busca atingir, sobretudo, os costumes, negando a validez ética a determinados atos e modos de proceder, e estabelecendo que outros devem ser preferidos, o que invade o campo das relações humanas e põe em risco o que até então mais aproximava os homens. Não é de admirar que períodos decadentistas e de alheamento aos princípios morais sejam os períodos em que os homens mais se afastaram uns dos outros, e que a ATOMIZAÇÃO SOCIAL aumenta a ponto de não haver mais possibilidade de compreensão entre dois seres humanos, que não podem mais "dialogar", e assistimos aos "diálogos de surdos", em que uns não entendem mais os outros. A barbarização revela-se aí, ameaçando abranger a totalidade da sociedade. "
"À exclamação dos romanos: "bárbaros extramuros!" (os bárbaros estão fora dos muros das cidades, da civilização) hoje podemos responder: "bárbaros intramuros!" (os bárbaros já se acham dentro do âmbito cercado pelos muros, em plena civilização, assumindo aspectos, vestindo-se com trajes civilizados, mas atrás dessa aparência, atuando desenfreadamente para dissolver nossa cultura)."
"Os elementos ativos corruptores, guiados por uma inteligência, de vontade maliciosa, sempre souberam aproveitar-se do barbarismo como instrumento para solapar a cultura. E hoje, mais do que nunca, manejam-no com uma habilidade de estarrecer, dispondo de meios capazes para tal, imprimindo ao trabalho corruptivo uma intensidade e um âmbito nunca atingidos em momento algum."
Mário Ferreira dos Santos
INVASÃO VERTICAL DOS BÁRBAROS
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Viktor Frankl por exemplo, o nunca assás louvado psiquiatra judeu, que no inferno dos campos de concentração descobriu que um sentido da vida é mais necessário ao homem do que a liberdade mesma. Frankl disse a um público norte-americano: “Não foram apenas alguns ministérios de Berlim que inventaram as câmaras de gás de Maidanek, Auschwitz, Treblinka: elas foram preparadas nos escritórios e salas de aula de cientistas e filósofos niilistas, entre os quais se contavam e contam alguns pensadores anglo-saxônicos laureados com o Prêmio Nobel. É que, se a vida humana não passa do insignificante produto acidental de umas moléculas de proteína, pouco importa que um psicopata seja eliminado como inútil e que ao psicopata se acrescentem mais uns quantos povos inferiores: tudo isto não é senão raciocínio lógico e consequente.” (Sêde de Sentido, trad. Henrique Elfes, São Paulo, Quadrante, 1989, p. 45.) https://olavodecarvalho.org/rorty-e-os-animais/
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