A turma do quebra - tudo
Em doze ensaios biográficos, o sociólogo Demétrio Magnoli revela quanto os intelectuais revolucionários foram movidos por conflitos e ambições pessoais (18/12/13) Duda Teixeira - Foi o toque de uma mulher bêbada no corpo de Sayyid Qutb que levou o funcionário do Ministério da Educação do Egito a radicalizar suas ideias. Hoje uma inspiração para terroristas islâmicos do mundo todo, ele estava em viagem aos Estados Unidos, onde viveu por dois anos e meio a mando de seu governo. A experiência foi tão traumática que o funcionário antecipou a volta. Das jovens americanas, concluiu que o poder de sedução estava "nos seios redondos, nas nádegas cheias, nas coxas bem torneadas e nas pernas elegantes'". Para sua completa repulsa, elas nada faziam para esconder seus tesouros. As igrejas não passavam de "praças de recreio sexual". No Cairo, nos anos 1950, Qutb ingressou no grupo radical da Irmandade Muçulmana. Em seu livro Milestones (Marcos), escrito no cárcere, ele desenvolveu o conceito da jihad como uma guerra contra os infiéis do Ocideme. Em meio à globalização, homens como ele viram que, por meio da jihad, poderiam afastar o futuro que os amedrontava e, de quebra, impor seu poder sobre aquilo que estava ao alcanc e: suas próprias mulheres. Quando um demente atira contra cristãos em um shopping no 42 Quênia ou contra urna menina no caminho da escola no Paquistão está, no fundo, seguindo os passos de Qutb — um homem que dizia não ter se casado porque não encontrara uma mulher suficientemente pura.
Expor os problemas privados dos outros é uma tática rasteira, usada com frequência para atacar rivais ideológicos. Desvios sexuais, infidelidades conjugais ou a relação familiar não são medidores confiáveis da qualidade de uma figura pública. Excecões devem ser abertas aos revolucionários. Padecendo de problemas pessoais, muitos deles procuraram resolvê - los destruindo o muodo à sua volta para moldá - lo ao seu interior doentio. Essa é uma das conclusões que se podem tirar de A Vi da Louca dos Revolucionários (Leya; 240 páginas; 39,90 reais), do sociólogo Demétrio Magnoli. A obra recém - lançada traz doze ensaios sobre personagens corno Qutb: com aspirações desmedidas, traumas de infância e preconceitos étnicos. Suas palavras empolada s e em prol de uma humanidade melhor só resistiram até provocar a primeira morte.
No Camboja, o comunista Pol Pot é conhecido por ter levado um quarto da população nacional à morte entre 1975 e 1979. Sem conseguir implantar uma sociedade igualitária nas c idades, obrigou todos os habitantes a mudar - se para o campo. Milhares morreram de fome. Pol Pot dividiu a população em três grupos: o povo, os candidatos a povo e as "novas pessoas", que deveriam ser eliminadas. O alvo dos golpes de picareta, o principal m étodo de assassinato, eram principalmente aqueles com ascendência ou origem vietnamita, pelos quais Pol Pot nutria enorme antipatia. Enquanto os desafetos de Pol Pot eram os vietnamitas, os da alemã Ulrike Meinhof eram os nazistas — de sua própria família. O conhecimento de que seu pai tinha pertencido ao partido de Adolf Hitler a levou a fundar a organização terrorista Baader - Meinhof. Ela dizia que a Alemanha Ocidental, uma democracia em pleno vigor, era um Estado fascista contra o qual toda violência seri a legítima. Ao confundir democracia e totalitarismo, ela expiava a culpa que trazia no sangue. Todos os revolucionários eram membros da classe média. Pol Pot estudou em uma escola francesa de elite. Ulrike era uma jornalista bem - sucedida, mãe de dois filh os. Para Magnoli, o achado não foi uma surpresa; "Os revolucionários são o resultado da abundância do capitalismo". A inclinação pela revolução seria um sintoma da ambição pelo poder. Ao desmomarern o Estado, eles poderiam se tornar os novos monarcas, ou s eus conselheiros diretos. Mesmo quando cometeram a revolução, o cálculo nem sempre funcionou. Com o caos instalado e as instituições corrompidas, eles encontraram o castigo no próprio sucesso.
http://sistemas.mre.gov.br/kitweb/datafiles/Oslo/pt-br/file/Arquivo%20de%20Noticias/Sele%C3%A7%C3%A3o%20de%20Not%C3%ADcias%20Culturais%20-%20168.pdf
'A Vida Louca dos Revolucionários' examina a obsessão pela ruptura
A Revolução Francesa desencadeou um desejo de mudança que marca esta era, defende Demétrio Magnoli em "A Vida Louca dos Revolucionários". No livro, Magnoli examina a vida e as motivações de doze personagens fora do círculo das celebridades revolucionárias. A ideia é tentar compreender a natureza do pensamento que o autor considera utópico.
"A nossa era histórica está marcada precisamente pela obsessão moderna com a ruptura, que forma uma curiosa tradição", escreve. "O culto ao novo é seu traço mais fundamental: desde que caiu a Bastilha, o 'antigo' converteu-se em sinônimo de anacrônico ou ultrapassado".
John Reed (1887-1920), Victor Serge (1890-1947), Filippo Marinetti (1876-1944), Marcus Garvey (1887-1940), Cyril L. R. James (1901-1989), George Orwell (1903-1950), Juan Lechín Oquendo (1914-2001), Frantz Fanon (1925-1961), Sayyid Qutb (1906-1966), Ulrike Marie Meinhof (1934-1976), Steve Biko (1946-1977) e Pol Pot (1925-1998) foram os escolhidos pelo autor. "De alguma forma, os doze vultos desse livro continuam entre nós", diz.
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Revolução é uma obsessão de nossa era histórica, diz Magnoli |
"A Revolução Russa provavelmente seria narrada de outra forma, não fosse pelo célebre livro de Reed. Sem Marinetti, talvez jamais existisse o futurismo italiano. Sem Orwell, pode-se apostar que uma parcela muito menor da humanidade tomasse consciência do totalitarismo".
As personalidades escolhidas compartilharam, por ideais e meios distintos, o desejo de mudar o mundo. "Pátria não é um país ou uma nação para a maior parte dos doze", conta.
Formado em ciências sociais e jornalismo pela USP (Universidade de São Paulo) e doutor em geografia humana pela mesma instituição, Demétrio Magnoli foi professor universitário e colunista da Folha (2004-06).
Entre outros títulos, Magnoli assina "Uma Gota de Sangue", "O Mundo em Desordem" e "O Leviatã Desafiado"
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"A Vida Louca dos Revolucionários"
Autor: Demétrio Magnoli
Editora: LeYa
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha
O erro de Demétrio Magnoli
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anarquismo
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A MENTIRA COMO MÉTODO - Ferreira Gullar
http://conspiratio3.blogspot.com.br/2014/09/a-mentira-como-metodo-ferreira-gullar.html
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