Olavo de Carvalho
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Deus não nos forneceu só regras de conduta, mas também os princípios gerais que devem nortear a sua interpretação. Esses princípios, por serem formais como equações e não se referirem a nenhuma situação concreta, são de validade absoluta e incondicional em todas as situações e servem de pedra-de-toque para aferir a interpretação que damos às normas concretas. Nos Dez Mandamentos, essa distinção é clara. Quando alguém lhe pergunta qual o mínimo necessário para entrar no céu, Jesus responde: “Amarás o teu Deus acima de todas as coisas e amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Os Dez Mandamentos compõem-se portanto de dois princípios e oito regras. Os princípios são as chaves que determinam o sentido das regras em cada caso. Se um sujeito comete adultério, ele infringe uma regra, mas, se você o aponta à execração nas ruas em vez de perdoá-lo e aconselhá-lo em particular como esperaria que fizessem com você caso o pecado fosse seu, você peca muito mais que o adúltero, pois viola um princípio. Deus perdoa os adúlteros, os mentirosos, os ladrões e até os assassinos, mas não perdoa quem não perdoa. Posso estar enganado, mas suspeito que no inferno há menos adúlteros do que cônjuges virtuosos que lhes negaram o perdão.
Ao longo da Bíblia encontram-se muitos princípios formais secundários, derivados dos dois primeiros. São autênticos mapas da mina para a alma atormentada que, nas complexidades da existência, quer fazer o certo mas não sabe o que é o certo. Um desses princípios – o mais freqüentemente esquecido, pelas minhas contas – foi enunciado por S. Paulo Apóstolo: “Experimentai de tudo e ficai com o que é bom.” Não me canso de meditar essa sentença, e as profundidades que nela encontro preencheriam muitos livros, se eu fosse capaz de escrevê-los.
Vejam. São Paulo, ao longo de suas cartas, enunciou muitas regras de conduta, mais pormenorizadas do que aquelas contidas nos Dez Mandamentos. Se você lê essas regras, já sabe portanto o que, segundo o ensinamento do Apóstolo, é bom e é mau. Para que, então, a necessidade de “experimentar”? A distinção mesma entre princípios e regras contém implicitamente a resposta. Para que você evite uma conduta má, não basta saber que, tipologicamente, isto é, genericamente, ela está enquadrada na classificação de “má”. A conduta humana não se dirige por abstrações, mas pela percepção direta e sensível das situações. É preciso que você “veja” com seus próprios olhos o mal e o bem. Seres humanos não aprendem só por ouvir dizer – mesmo que a Palavra ouvida seja a de Deus: eles aprendem pela experiência, pela demorada, trabalhosa e dolorosa distinção entre o bem e o mal não em definições gerais simples, mas em situações alucinantemente complexas e ambíguas da vida real. O símbolo do pão, na Eucaristia, significa as virtudes morais, práticas, assim como o vinho significa as virtudes espirituais, de ordem puramente interior. “Comerás o teu pão com o suor do teu rosto” quer dizer exatamente isso: o pouco de bom que possa haver em nós virá misturado ao mal, e terá de ser separado dele aos poucos, através da experiência, da tentativa e do erro, como numa longa decantação alquímica. Deus pode, é claro, preservar você deste ou daquele pecado por um ato da Graça, mas Ele não está obrigado a fazer isso, muito menos a imunizá-lo de antemão contra todos os pecados possíveis. Ademais, que graça maior você pode receber de Deus além da Sua promessa de justificar os erros tão logo, no caminho da experiência, eles sejam francamente admitidos como tais?
Se o Apóstolo distingue entre a experiência e sua conclusão seletiva, ele subentende que nem tudo o que for experimentado será bom, mas que tudo deve ser experimentado sempre em vista do aprendizado e do bem, não do vulgar desejo de experimentar por experimentar, nem de uma dúvida forçada, artificiosa. Platão dizia que “verdade conhecida é verdade obedecida”. Tão logo você enxergou nitidamente que certa conduta é má, tem de evitá-la por todos os meios. Até lá, tem uma certa margem de erro justificado, como exigência inerente à própria noção de aprendizado, com a condição de confessar o erro tão logo o tenha percebido como tal e de não teimar nele depois disso. Quando você descobriu o que é bom, não o largue por dinheiro nenhum deste mundo.
Mais em https://olavodecarvalho.org/errando-e-aprendendo/
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OLAVO DE CARVALHO ·A
coisa mais difícil e arriscada, na vida intelectual, é apreender um
sistema, uma ordem, uma rede de conexões por trás de dados fragmentários
e inconexos. No mínimo é preciso experimentar muitas hipóteses
contraditórias até encontrar a que seja menos inviável, e essas
hipóteses só acabam se revelando bastante tempo depois dos fatos
transcorridos, quando várias tentativas já falharam (as famosas
"opiniões dos sábios", que segundo Aristóteles são o começo de toda
investigação). Mas, no Brasil, as coisas mal acabam de acontecer e já
aparecem mil espertinhos desvendando as conexões mais espetaculares por
trás de tudo, sem nem mesmo cogitar de outras hipóteses possíveis. É o
método Veadasco de historiografia.
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"O ser humano não tem outro método de aprender senão a tentativa e erro". https://youtu.be/CRWdwVovLTo?t=211
075 09/06/2008 True OutSpeak 00:01:02 Dicta & Contradicta, Enzo Martins Peri, General Augusto Heleno, Globalismo 00:03:30 Prof. Antônio Araujo (14:53 novamente), Grupo permanência, Júlio Fleischmann, Gustavo Corsão, "Errando e aprendendo" (Artigo), São Paulo, São João Crisóstomo, Profecias, Padre Leonel Franca, Paradoxos, Perplexidade, Santo Afonso de Ligório, "Tratado de teologia moral", Santo Tomás de Aquino 00:11:52 Aborto, Planned Paranenthood, Católicas pelo Direito de Decidir, Fundação Ford, Fundação Rockfeller, Acidentes de trânsito 00:14:53 Orlando Fidéli 00:15:57 Pensamento revolucionário (26:09 novamente), Fascismo, Igor Chafarevitch, "O socialismo: fenômeno mundial" (Livro), Edmund Husserl , Vermelho.org 00:20:30 Lula, Movimento gay (30:05 novamente), Graciliano Ramos, "Memórias da cárcere" (Livre), Julien Green, Winston Walden, Bruno Tolentino, Dr. Tufik Mattar, Homofobia, Luiz Mott 00:26:09 Concílio de Trento, Contra Reforma, Companhia de Jesus, Eric Voegelin 00:34:38 "Influências discretas" (Artigo http://www.olavodecarvalho.org/semana...), Frithjof Schuon, Monsenhor Lefèvre, Rama Coomaraswamy, William Blake, Caifás, René Guénon, Islã 00:41:02 Petróleo, Jerome R. Corsi e Craig R. Smith "Black Goldstranglehold" (Livro) - Thomas Gold, "The deep hot biosphere: the myth of fossils foels" (Livro), Arábia Saudita, Soberanias, Estados Unidos, Israel, Palestina, "Visão japonesa dos Palestinas" (Artigo) 00:48:08 Barack Obama, Alan Keyes, Negros americanos, Benedita da Silva, Clube Bilderberg, Hillary Clinton, Rush Limbaugh
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O PODER DE CONHECER - OLAVO DE CARVALHO https://conspiratio3.blogspot.com/2013/09/o-poder-de-conhecer-olavo-de-carvalho.html
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A CENSURA É PIOR QUE A MENTIRA. https://conspiratio3.blogspot.com/2014/04/a-censura-e-pior-que-mentira-mentira.html
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