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segunda-feira, 1 de junho de 2020

George Orwell | 1984 | Revolução dos Bichos | Filosofia e Literatura

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"Era  possível,  sem  dúvida,  imaginar uma sociedade em que a riqueza, no sentido de posse pessoal de  bens  e  luxos,  fosse  igualmente  distribuida,  ficando  o poder  nas  mãos  de  uma  pequena  casta  privilegiada.  Mas  na prática  tal  sociedade  não  poderia  ser  estável.  Pois  se  o lazer e a segurança fossem por todos fruidos, a grande massa de  seres  humanos  normalmente  estupidificada  pela  miséria aprenderia a ler e aprenderia a pensar por si; e uma vez isso acontecesse, mais cedo ou mais tarde veria que não tinha função a minoria privilegiada, e acabaria com ela. 
De maneira permanente, uma sociedade hierárquica só é possível na báse da pobreza e da ignorância. Regressar ao passado agrícola, como imaginaram alguns pensadores no comêço do  século  vinte,  não  era  solução  praticável.  Entrava  em conflito com a tendência para a mecanização, que se tornára pouco  menos  que  instintiva  em  quase  todo  o  mundo,  e  além disso,   qualquer   país   que   permanecesse   industrialmente atrasado ficaria indefeso militarmente e estaria fadado a ser dominado,   direta   ou   indiretamente,   pelos   rivais   mais progressistas.Tampouco era solução satisfatória manter as massas na miséria restringindo  a  produção  de  mercadorias.  Isto  aconteceu,  em grande parte, durante a fase final do capitalismo, mais ou menos  entre  1920  e  1940.  Permitiu-se  que  estagnasse  a economia de muitos países, a terra deixou de ser arroteada, o maquinário  básico  permaneceu  na  mesma,  grandes  setores  da população foram impedidos de trabalhar e mantidos semivivos por  meio  de  caridade  estatal.  Mas  isto  também  provocava debilidade militar, e como fossem evidentemente desnecessárias as privações, tornavam inevitável a oposição. O problema era manter em movimento as rodas da indústria sem aumentar a  riqueza real do mundo.  Era  preciso  produzir mercadorias, porém não distribui-las. E, na prática, a única maneira de o realizar é pela guerra contínua.
O essencial da guerra é a destruição, não necessàriamente de vidas humanas, mas dos produtos do trabalho humano. A guerra é um meio de despedaçar, ou de libertar na estratosfera, ou de afundar nas profundezas do mar, materiais que doutra forma teriam  de  ser  usados  para  tornar  as  massas  demasiado confortáveis e portanto, com o passar do tempo, inteligentes." 1984 

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