Seguidores

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O PRAZER REVOLUCIONÁRIO DA DESTRUIÇÃO - O SONHO DA RAZÃO PRODUZ MONSTROS


"A mentalidade revolucionária, com suas promessas auto-adiáveis, tão prontas a se transformar nas suas contrárias com a cara mais inocente do mundo, é o maior flagelo que já se abateu sobre a humanidade. Suas vítimas, de 1789 até hoje, não estão abaixo de trezentos milhões de pessoas – mais que todas as epidemias, catástrofes naturais e guerras entre nações mataram desde o início dos tempos. A essência do seu discurso, como creio já ter demonstrado, é a inversão do sentido do tempo: inventar um futuro e reinterpretar à luz dele, como se fosse premissa certa e arquiprovada, o presente e o passado. Inverter o processo normal do conhecimento, passando a entender o conhecido pelo desconhecido, o certo pelo duvidoso, o categórico pelo hipotético. É a falsificação estrutural, sistemática, obsediante, hipnótica."  Olavo de Carvalho



        
                                 
A promessa autoadiável

Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 30 de agosto de 2010 

 Quando o nosso presidente diz: “Ainda não sabemos que tipo de socialismo queremos”, ele ecoa aquilo que é talvez o mais clássico Leitmotiv do pensamento revolucionário. Karl Marx já opinava que era inútil tentar descrever como seria o socialismo, já que este iria se definindo a si mesmo no curso da ação anticapitalista. O argumento com que Lula justifica sua afirmativa – leiam em America Libre – é exatamente esse. Em 1968, entre as explosões de coquetéis Molotov que tiravam o sono do establishment francês, Daniel Cohn-Bendit declarava, com orgulho, que os estudantes revolucionários queriam “uma forma de organização social radicalmente nova, da qual não sabem dizer, hoje, se é realizável ou não”.                    
E a versão mais sofisticada do marxismo no século XX, a Escola de Frankfurt, baseou-se inteiramente na convicção de que qualquer proposta definida para a construção do socialismo é bobagem: só o que importa é fazer “a crítica radical de tudo quanto existe”. Critiquem, acusem, caluniem, emporcalhem, destruam tudo o que encontrem pela frente, e alguma coisa melhor vai acabar aparecendo espontaneamente. Se não aparecer, tanto melhor: a luta continua, como diria Vicentinho. Herbert Marcuse resumiu o espírito da coisa em termos lapidares: “Por enquanto, a única alternativa concreta é somente uma negação.”

Tal como o Deus da teologia apofática, o alvo final do movimento revolucionário é sublime demais para que seja possível dizer o que é: só se pode dizer o que não é – e tudo o que não participa da sua indefinível natureza divina está condenado à destruição. Destruição que não virá num Juízo Final supramundano, com a repentina absorção do tempo na eternidade – coisa na qual os revolucionários não acreditam –, e sim dentro da História terrestre mesma, numa sucessão macabra de capítulos sangrentos: não podendo suprimir todo o mal num relance, só resta ao movimento revolucionário a destruição paciente, progressiva, obstinada, sem limite, nem prazo, nem fim. Cumpre-se assim a profecia de Hegel, de que a vontade de transformação revolucionária não teria jamais outra expressão histórica senão “a fúria da destruição” (v. meu artigo “Uma lição de Hegel”, aqui publicado em 14 de novembro de 2008, http://www.olavodecarvalho.org/semana/081114dc.html).
Nessas condições, é óbvio que duzentos milhões de cadáveres, a miséria e os sofrimentos sem fim criados pelos regimes revolucionários não constituem objeção válida. O revolucionário faz a sua parte: destrói. Substituir o destruído por algo de melhor não é incumbência dele, mas da própria realidade. Se a realidade não chega a cumpri-la, isso só prova que ela ainda é má e merece ser destruída um pouco mais.

É claro que, na política prática, os revolucionários terão de apresentar algumas propostas concretas, uma aqui, outra acolá, seduzindo mediante engodo os patetas que não compreendem a sublimidade do negativo. Mas essas propostas não visam jamais a produzir no mundo real os benefícios que anunciam: visam somente a enfatizar a maldade do mundo e a aumentar, na mesma proporção, a força de empuxe do movimento destruidor. Eis a razão pela qual este último não conhece fracassos: como o processo avança mediante contradições dialéticas, todo fracasso de uma proposta concreta, aumentando a quota de mal no mundo, se converte automaticamente em sucesso da obra revolucionária de destruição. Nada incrementou o poder do Estado comunista como o fracasso retumbante da coletivização da agricultura na URSS e na China (50 milhões de mortos em menos de dez anos). O fracasso de Stalin em usar o nazismo como ponta-de-lança para a invasão das democracias ocidentais converteu-se em aliança destas com os soviéticos e na subseqüente concessão de metade do território europeu ao domínio comunista: precisamente o objetivo inicial do plano. A queda da URSS, em vez de extinguir o comunismo, espalhou-o pelo mundo todo sob novas identidades, confundindo o adversário ao ponto de induzir os EUA à passividade cúmplice ante a ocupação da América Latina pelos comunistas. E assim por diante.

Mais ainda: como as propostas concretas não têm nenhuma importância em si mesmas, não apenas cabe trocar uma pela outra a qualquer momento, mas pode-se com igual desenvoltura defender políticas contraditórias simultaneamente, por exemplo incentivando o sex lib, o feminismo e o movimento gay no Ocidente, ao mesmo tempo que se fomenta o avanço do fundamentalismo islâmico que promete matar todos os libertinos, feministas e gays. Só se escandaliza com isso quem seja incapaz de perceber a beleza dialética do processo.

Se não têm nenhum compromisso com qualquer proposta concreta, muito menos podem os revolucionários ter algum sentimento de culpa ante os resultados medonhos das suas ações. O que quer que aconteça no trajeto é sempre explicado, seja como destruição necessária, justa portanto, seja como reação do mundo mau, que deste modo atrai sobre si novas destruições, ainda mais justas e necessárias. Isso é tanto mais assim porque o estado paradisíaco final a ser atingido (ou a demonstrar-se impossível por ser o mundo ainda mais mau do que o revolucionário supunha no começo) não pode ser descrito ou definido de antemão, mas tem de criar-se por si mesmo no curso do processo. Por isso o movimento revolucionário não pode reconhecer como obra sua nenhum estado de coisas que ele venha a produzir historicamente. O que quer que esteja acontecendo não é jamais – “ainda” não é – o socialismo, o comunismo, a jóia perfeita na qual o movimento revolucionário poderá reconhecer, no momento culminante do Fim da História, o seu filho unigênito: é sempre uma transição, uma etapa, uma conjuntura provisória, criada não pelo movimento revolucionário, mas pelo confronto entre este e o mundo mau; confronto que por sua vez faz parte, ainda, do próprio mundo mau, ao qual portanto cabem todas as culpas.

Por sua própria natureza, a promessa indefinida é auto-adiável, e nenhum preço que se pague por ela pode ser considerado excessivo, não sendo possível um cálculo de custo-benefício quando o benefício também é indefinido.

A oitava maravilha do mundo, na minha modesta opinião, é que pessoas alheias ou hostis aos ideais revolucionários imaginem ser possível uma convivência pacífica e democrática com indivíduos que, pela própria lógica interna desses ideais, se colocam acima de todo julgamento humano e só admitem como medida das suas ações um resultado futuro que eles mesmos não podem nem querem dizer qual seja ou quando virá. Só o conservador, o liberal-democrata, o crente devoto da ordem jurídica, pode imaginar que a disputa política com os revolucionários é uma civilizada concorrência entre iguais: o revolucionário, por seu lado, sabe que seu antagonista não é um igual, não é nem mesmo um ser humano, é um desprezível mosquito que só existe para ser esmagado sob as rodas do carro da História.

http://www.olavodecarvalho.org/semana/100830dc.html

*



"O SONHO DA RAZÃO PRODUZ MONSTROS" - GOYA


Pra mim, o erro de muitos ativistas é passar por cima da lei e apoiar a depredação da ordem, das instituições, do estado de direito. Tudo isso (protestos, vandalismos, black blocs, etc) não está acontecendo por acaso, mas com a permissão, e na verdade, por encomenda da nossa elite dirigente, comprometida com a agenda alienígena do Foro de São Paulo.

Creio que a maioria dos ativistas militantes se compraz nessa atividade mais como um reforço fácil de ego/identidade, já que destruir é mais fácil que construir. A maioria foi apanhada por uma falsa religião, que ocupa a vaga deixada pelo esvaziamento da religião espiritual. A maioria preenche sua carência de sentido com um propósito construído de sonhos e ódio, restando só este no final.

Quero ver mudarem a ordem das coisas sem o uso do caos, que desencadeia mais caos, mais injustiça, mais sofrimento e permite a intrusão dos poderes mais obscuros dos que existem aqui e além.  Quero ver esses militantes sem a máscara heróica que substitui o verdadeiro combate consigo mesmo para chegar ao Real.  
 
Conservadores preferem agir com base conhecimento do passado, na experiência . A mentalidade revolucionária se baseia na projeção de um futuro, no imaginário, e, sem compromisso com nada, utiliza o mundo como cobaia. Sacrifica tudo por um sonho que sempre acaba em pesadelo.

Vejam "O SONHO DA RAZÃO PRODUZ MONSTROS" ou "el sueño de la razón produce monstruos", que é o título de uma água-forte de Goya. Acho que ela diz alguma coisa sobre isso, sobre essa predominãncia, essa autoridade do sonho, da imaginação, do desejo sobre a consciência que ainda se crê desperta.

"Goya criou esta gravando após os terríveis massacres do Terror na França. Este homem, que havia apoiado a Revolução Francesa, contra os conselhos de muitos de seus conterrâneos, fica terrivelmente desapontado. (...) Em espanhol, o título é El sueño de la razon produce monstruos. Como a palavra sueño significa tanto o sonho e sono, isso pode significar que a razão dorme, ela sonha ser - ou ambos. Ela não vê os monstros que a assaltam, mas os pesadelos são ainda seus. O real e a fantasia se fundem."

http://www.idixa.net/Pixa/pagixa-0709210814.html

 "A mentalidade revolucionária, com suas promessas auto-adiáveis, tão prontas a se transformar nas suas contrárias com a cara mais inocente do mundo, é o maior flagelo que já se abateu sobre a humanidade. Suas vítimas, de 1789 até hoje, não estão abaixo de trezentos milhões de pessoas – mais que todas as epidemias, catástrofes naturais e guerras entre nações mataram desde o início dos tempos. A essência do seu discurso, como creio já ter demonstrado, é a inversão do sentido do tempo: inventar um futuro e reinterpretar à luz dele, como se fosse premissa certa e arquiprovada, o presente e o passado. Inverter o processo normal do conhecimento, passando a entender o conhecido pelo desconhecido, o certo pelo duvidoso, o categórico pelo hipotético. É a falsificação estrutural, sistemática, obsediante, hipnótica. "  Olavo de Carvalho

O erro de Demétrio Magnoli  

ARROGÂNCIA REVOLUCIONÁRIA NÃO PODE MELHORAR O MUNDO - CONHECIMENTO REAL X FALSO CONHECIMENTO  

O PENSAMENTO CONSERVADOR

O QUE É SOCIALISMO? O SOCIALISMO REAL, CRIMES E ARGUMENTAÇÕES DESONESTAS - OLAVO DE CARVALHO
*

REVOLUÇÃO DE INTELECTUAIS - PATRULHAS IDEOLÓGICAS - JOSÉ GUILHERME MERQUIOR


O PRAZER REVOLUCIONÁRIO DA DESTRUIÇÃO - O SONHO DA RAZÃO PRODUZ MONSTROS



http://conspiratio3.blogspot.com.br/search/label/SONHO%20DA%20RAZ%C3%83O
                       

Nenhum comentário:

Postar um comentário