***
CONSEQUÊNCIAS MAIS QUE PREVISÍVEIS DO POLITICAMENTE CORRETO:
Conseqüências mais que previsíveis http://www.olavodecarvalho.org/consequencias-mais-que-previsiveis//
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 04 de junho 2007
Como não cabe ao
analista político dizer às pessoas o que devem ou não devem fazer nas
suas vidas privadas, nunca escrevi uma linha a favor ou contra as
práticas homossexuais ou qualquer outra conduta erótica existente ou por
inventar. Escrevi, sim, contra o movimento gay como fórmula
ideológica e projeto de poder. Isso bastou para que eu fosse rotulado de
“homofóbico” vezes sem conta. Conclusão: se estivesse em vigor a lei
maldita que o nosso Parlamento quer aprovar, eu iria para a cadeia por
conta de opiniões políticas.
Na verdade a lista de atitudes humanas puníveis como “homofóbicas” é bem variada. Ela abrange:
1. Citações da Bíblia ou de livros sagrados de qualquer religião que façam objeções morais ao homossexualismo.
2. Opiniões médicas, psiquiátricas e
psicoterapêuticas que ponham em dúvida, de maneira mais ou menos
explícita, a sanidade da conduta homossexual. Isso inclui obras
clássicas de Freud, Adler, Szondi, Frankl e Jung, entre outros.
3. Manifestações pessoais de repulsa física
ante o homossexualismo, emoção tão espontânea e irreprimível quanto o
próprio desejo homossexual. (Inversa e complementarmente, a repulsa do
homossexual pela sexualidade hetero, ou até por variantes homossexuais
que não coincidam com a sua, como por exemplo a repulsa dos gays
machões pelos travestis e transexuais, não apenas será considerada
lícita mas estará sob a proteção da lei, condenando-se como “homofóbica”
toda objeção que se lhe apresente ou, mais ainda, toda tentativa de
reprimi-la. Ou seja: o direito à repulsa sexual será monopólio exclusivo
da comunidade gay.)
4. Expressões verbais populares, de uso espontâneo e irreprimível, consideradas depreciativas e anti-homossexuais.
5. Piadas e gracejos que mostrem a conduta homossexual sob um ângulo risível.
6. Opiniões políticas contrárias aos
interesses do movimento gay, que já são e serão cada vez mais
necessariamente interpretadas como adversas aos direitos da comunidade
homossexual.
7. Análises sociológicas, históricas ou
estatísticas que ponham em evidência qualquer conduta negativa da
comunidade gay. Essas análises já estão praticamente excluídas do
universo cultural decente. A lei vai proibi-las por completo.
8. Qualquer resistência que um pai ou mãe
de família oponha à doutrinação homossexual de seus filhos nas escolas
ou à participação deles em grupos e entidades homossexuais.
9. Qualquer tentativa de impedir ou
reprimir, por atos ou palavras, as expressões públicas de erotismo gay,
discretas ou ostensivas, moderadas ou extremas, mesmo diante de crianças
ou em lugares consagrados ao culto religioso.
10. Qualquer observação casual, feita no
escritório, na rua ou mesmo em casa (se houver testemunhas) que possa
ser considerada desairosa aos homossexuais ou ao movimento gay. Isso
inclui a simples expressão de satisfação que um cidadão possa ter por
ser heterossexual.
A lei, enfim, criminaliza e pune com pena
de prisão inumeráveis condutas consideradas normais, legítimas,
aceitáveis e até meritórias pela quase totalidade da população
brasileira. E não pensem que ficará no papel. Neste momento já estão
sendo organizados grupos de olheiros – espalhados primeiro nas escolas,
depois em toda parte – para vigiar, delatar e punir os dez tipos de
conduta acima assinalados.
As conseqüências mais que previsíveis da
aprovação dessa lei são tão portentosas e ilimitadas que a maioria dos
cidadãos tem dificuldade de concebê-las, limitando-se a apreender por
alto suas aparências mais superficiais e patentes, se não a tratar o
assunto com leviana indiferença. Mas essas conseqüências podem ser
resumidas da seguinte maneira: Com um só golpe de caneta, um grupo
militante organizadíssimo, fartamente subsidiado do Exterior, associado
aos partidos de esquerda e agindo em consonância com a estratégia geral
que os orienta, terá conquistado uma quantidade de poder policial
discricionário tão vasta e ameaçadora quanto se poderia obter mediante
um golpe de Estado ou uma revolução. Dotado do aparato jurídico
necessário para aterrorizar toda oposição, reduzi-la a um silêncio
humilhante, marginalizá-la e torná-la socialmente inoperante, esse grupo
terá se tornado, nas mãos da aliança esquerdista que nos governa, mais
um poderoso instrumento de controle social e político somando-se à
polícia fiscal, à ocupação do território pelos “movimentos sociais”, ao
domínio hegemônico sobre as instituições de cultura e ensino, às
campanhas policiais soi disant moralizantes que só atingem
sempre os desafetos da esquerda ou bandos criminosos menores,
politicamente inócuos, jamais os agentes das Farc, os verdadeiros
grão-senhores do crime no continente, cada vez mais ostensivamente
protegidos pelo establishment petista.
Na verdade, o movimento gay não precisou
esperar pela aprovação da lei para fazer sentir o peso das suas ambições
policialescas sobre os que ousaram contestar sua pretensa autoridade. O
assédio judicial a D. Eugênio de Araújo Sales (v. http://www.olavodecarvalho.org/semana/040724globo.htm ),
os esforços de gayzistas e simpatizantes para destruir a carreira, a
família e até a alma do escritor Júlio Severo, a repetição do mesmo
procedimento contra o pastor catarinense Ademir Kreuzfeld (v. http://www.juliosevero.blogspot.com/ ), mostram que não faltam armas à elite gay
para perseguir, amedrontar e marginalizar seus adversários, quanto mais
para defender-se dos perigos imaginários que a ameaçam. A nova lei é
material bélico excedente, só utilizável em eventuais demonstrações de
força perfeitamente supérfluas.
Que tão avassaladora ascensão do
autoritarismo seja necessária para proteger os pobrezinhos homossexuais
contra piadas, gracejos e citações da Bíblia é um argumento tão risível
que somente um idiota completo ou um mentiroso desavergonhado poderia
fazer uso dele num debate sério.
Pior ainda é a alegação de violência contra
os homossexuais. Já expliquei o que o simples uso do termo “homofóbico”
contra os adversários do movimento gay tem de maquiavélico, de perverso, de criminoso ( http://www.olavodecarvalho.org/semana/070523dce.html ).
Mas ao delito semântico acrescenta-se ainda a perversão aritmética.
Entre os cinqüenta mil brasileiros assassinados anualmente, o movimento gay
não tem conseguido apontar mais de dez ou doze indivíduos que o teriam
sido – se é que o foram – por motivos “homofóbicos”. Pretender que a
fúria anti-homossexual seja um fato social alarmante e epidêmico,
necessitado de legislação especial e drástica, é nada mais que uma farsa
cínica, um estelionato parlamentar que, houvesse na política brasileira
um pingo de racionalidade e decência, custaria a seus autores a perda
do mandato por falta de decoro, por uso indevido do Congresso como
instrumento para servir a ambições grupais injustificáveis.
Muito maior que o número de vítimas fatais
da “homofobia” é o de homossexuais assassinos, um fato óbvio que a mídia
esconde sistematicamente, reforçando o engodo legislativo com a fraude
jornalística. E digo que é óbvio por um motivo ainda mais óbvio. Não
sendo racionalmente aceitável que a porcentagem de homossexuais seja
muito diferente entre os criminosos e a população honesta, a alegação
usual do movimento gay de que esta última quota é de cinco a
dez por cento nos levaria necessariamente a alguns milhares de
homossexuais assassinos, sem contar os homossexuais ladrões, os
homossexuais traficantes e, evidentemente, os homossexuais chantagistas
parlamentares.
Mas nem esse cálculo seria preciso para
desmascarar a fachada protetiva com que a lei se apresenta. Um dos
traços mais salientes do movimento gay é seu esforço de
combater a discriminação onde ela não existe e de ignorá-la por completo
onde existe. No Irã o homossexualismo é punido com a pena de morte.
Vocês já viram a liderança gay organizar um protesto
internacional contra isso? Ao contrário, ela se alia às demais forças de
esquerda para defender a ditadura dos aiatolás contra o “imperialismo
ianque”. Em Cuba os homossexuais e travestis são considerados casos de
polícia, e quando pegam Aids são isolados para sempre da sociedade. A
elite gayzista não apenas se abstém de protestar contra esse tratamento
desumano, mas também não quer que ninguém proteste. Recentemente, um
documentário sobre a condição humilhante dos homossexuais em Cuba foi
excluído de um festival em Nova York – por exigência da militância gay .
Em compensação, nos EUA e na Europa
ocidental, onde os gays têm um lugar privilegiado na sociedade e a
prática do homossexualismo é uma tradição elegante entre o beautiful people pelo
menos desde a década de 20 do século passado, o clamor por legislações
que criminalizem toda crítica à conduta homossexual vem num tom de quem
advogasse medidas de emergência para salvar a comunidade gay de um genocídio iminente.
No Brasil — uma das sociedades mais
permissivas do planeta, onde homossexuais declarados ocupam cadeiras no
Parlamento sob aplausos gerais, onde as vovós assistem a shows de
travestis na TV junto com seus netinhos e onde um espetáculo público de
carícias lésbicas entre a esposa de um governador e a de um ministro não
suscita o menor escândalo na mídia –, a gritaria “anti-homofóbica” dá a
impressão de que os homossexuais estão sendo abatidos a tiros, nas
ruas, por um exército de talibãs cristãos.
Ao longo das últimas décadas, à medida que
toda resistência moralista à conduta homossexual cedia lugar à
compreensão generosa e à aceitação incondicional, as reivindicações do
movimento gay no Ocidente vieram num crescendo, exigindo
primeiro a equiparação moral de suas práticas com o casamento
heterossexual, depois o ensino do homossexualismo nas escolas infantis,
por fim as penas da lei para padres, pastores e rabinos que citem os
versículos da Bíblia contrários ao homossexualismo.
O contraste entre discurso e realidade é patente: o movimento gay
cresce em arrogância, virulência e pretensões ditatoriais à medida que a
sociedade se torna mais tolerante, simpática e subserviente às
exigências da comunidade homossexual. Quem diria que a inversão sexual,
com tanta freqüência, viesse junto com a inversão mental?
Basta observar esse fenômeno para perceber imediatamente que a alegação característica do discurso gay ,
de proteger uma comunidade oprimida, é apenas uma camuflagem, um véu
ideológico estendido por cima de objetivos bem diferentes,
incomparavelmente mais ambiciosos.
Uma pista para a compreensão efetiva do
fenômeno são os grupos de intelectuais, políticos e artistas
homossexuais, tremendamente poderosos e influentes, que marcaram a
história política e cultural do século XX com o culto da supremacia gay .
Três deles são particularmente importantes: o círculo de Stefan George
na Alemanha, o de André Gide na França e, na Inglaterra, a confraria dos
“Apóstolos” de Cambridge. Em cada um dos três casos, a militância
pública – sempre do lado errado, nazista ou comunista – encobria uma
dimensão mais profunda e mais sinistra, de seita gnóstica empenhada em
subjugar a humanidade comum a uma elite homossexual imbuída de um senso
de superioridade quase divina.
Voltarei ao assunto quando possível. Por enquanto, basta dizer o seguinte: o atual movimento gay
é a materialização possante e assustadora de um projeto de revolução
civilizacional que, a pretexto de proteger oprimidos, não hesita em
entregá-los às feras quando isso convém à sua grande estratégia. Que
esse projeto seja apenas um desenvolvimento específico dentro do quadro
maior do movimento revolucionário mundial é algo tão óbvio que não
necessita ser enfatizado. Mas, por absoluta incompreensão desse ponto,
os adversários do movimento gay, quase sem exceção, têm cometido dois
erros monstruosos.
Primeiro: Combatem, junto com o movimento, a homossexualidade em si. Politicamente , isso é loucura. O movimento gay
existe há algumas décadas e só em alguns lugares do planeta; o
homossexualismo existe por toda parte desde que o mundo é mundo. O
primeiro pode ser derrotado; o segundo não pode ser eliminado.
Condicionar a vitória sobre o movimento gay à erradicação do homossexualismo é adiar essa vitória para o Juízo Final.
Segundo: Procurando atenuar a má impressão
de autoritarismo dogmático que essa atitude inevitavelmente suscita,
apressam-se a declarar que respeitam os direitos dos gays e que desejam
apenas preservar, lado a lado com eles, os direitos da consciência
religiosa. Com isso, igualam o inigualável, negociam o inegociável,
nivelam a liberdade de consciência a uma “opção sexual”, à preferência
por determinado tipo de prazer erótico. Será preciso lembrar a esses
cavalheiros que, privado de satisfação erótica, o ser humano sofre
alguma incomodidade, mas, desprovido da liberdade de consciência, perde o
último resquício de dignidade, o sentido da vida e a razão de existir?
Em suma: são intransigentes onde deveriam
ceder, cedem onde deveriam ser intransigentes, inflexíveis e até
intolerantes. Não há nada de mais em aceitar o homossexualismo como uma
realidade social que não pode ser erradicada e que, se deve ser
combatida, é com todos os cuidados necessários para não ferir e humilhar
pessoas. Em contrapartida, tratar como igualmente nobres e respeitáveis
o mais elevado princípio da moralidade e o simples direito legal de
fazer determinadas coisas na cama é uma inversão hedionda da hierarquia
lógica e moral, é uma desobediência acintosa ao Primeiro Mandamento,
cuja implicação mais óbvia é o dever incondicional de colocar as
primeiras coisas primeiro. Se os adversários do movimento gay querem a proteção de Deus na sua luta, deveriam começar por não ofendê-Lo dessa maneira.
Da minha parte, afirmo que defenderia por
todos os meios ao meu alcance o direito que os homossexuais têm de que
sua preferência sexual não lhes custe humilhações ou constrangimentos.
Mas, tão logo uma dessas criaturas pretendesse igualar ou sobrepor esse
direito à liberdade de consciência, da qual ele próprio não é senão uma
decorrência lógica aliás bem remota e secundária, eu lhe responderia, na
mais polida das hipóteses, com as seguintes palavras:
— Cale a boca, burro. Não me peça para
respeitar um direito que você mesmo, embora talvez sem se dar conta,
está pisoteando com quatro patas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário