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O PODER POR TRÁS DAS ONGS
Não há estado de sujeição mais completo do que ignorar a estrutura de poder sob a qual se vive.
É verdade que a mera complexidade crescente da administração estatal
moderna já era, por si, conflitiva com as pretensões democráticas de
transparência, informação acessível, "voto consciente", enfim, com as
presunções da "cidadania". Mas o que vem acontecendo no último meio
século é o aproveitamento deliberado e sistemático da complexidade
burocrática para criar, acima do governo representativo, uma nova
estrutura de poder que o domina, o estrangula e acaba por eliminá-lo. A
maior parte das nações já vive sob o controle dessa nova estrutura
global sem ter disso a menor consciência e acreditando que continua a
desfrutar das garantias e meios de ação assegurados ao eleitor pelo
antigo sistema de governo representativo, hoje reduzido a um véu de
aparências tecido em torno do poder mais centralizado, abrangente e
incontrolável que já existiu ao longo de toda a história humana.
Não só essa transição já aconteceu, mas ela foi realizada sob a
proteção de um conjunto de pretextos retóricos altamente enganosos,
criados para dar à população a idéia de que a mudança ia no sentido da
maior liberdade para os cidadãos, da maior participação de todos no
governo e de mais sólidas garantias para a empresa privada. Todos os
termos-chave dessa retórica – "governo reinventado", "parcerias
público-privadas", "terceira via", "descentralização" – significam
precisamente o contrário do que parecem indicar à primeira vista.
Os dois diagramas que acompanham este artigo tornarão isso bastante
claro. As flechas aí indicam a origem do poder e o objeto sobre o qual
se exerce. No antigo sistema representativo, o eleitorado escolhia o
governo segundo os programas que lhe pareciam os mais convenientes, e o
governo eleito – executivo e parlamento – repassava esses planos aos
órgãos da administração pública, para que os executassem. No novo
sistema de "parcerias público-privadas", a administração pública é só
uma parcela do órgão executor. A outra parcela é escolhida por entidades
sobre as quais o eleitorado não tem o menor controle e das quais não
chega às vezes a ter sequer conhecimento. Tal como apresentado na sua
formulação publicitária, o novo sistema é mais democrático, porque
reparte a autoridade do governo com "a sociedade". Mas "a sociedade" aí
não corresponde ao eleitorado e sim a ONG's criadas sob a orientação de
organismos internacionais não-eletivos – ONU, UE, OMS, OMC, etc – e
subsidiadas por bilionárias corporações multinacionais cuja diretoria
não é mesmo conhecida do público em geral.
A orientação geral dessas ONG's reflete um conjunto de novas
concepções socioculturais e políticas que jamais foram postas sequer em
discussão, e que por meio delas são implantadas do dia para a noite, sem
que o eleitorado chegue a saber nem mesmo de onde vieram. A própria
velocidade das transformações é tamanha, que serve para reduzir as
populações ao estado de passividade atônita necessário para tornar
inviável não só qualquer reação organizada, mas até uma clara tomada de
consciência quanto ao que está acontecendo. Paralelamente, muito do
poder de decisão do parlamento é transferido aos órgãos burocráticos,
que, agindo já não como braços do eleitorado, mas como agentes a serviço
de parcerias controladas pelo triunvirato de ONG's, corporações e
organismos internacionais, passa então a introduzir na sociedade
mutações radicais que, no sistema de governo representativo, jamais
seriam aprovadas nem pela população, nem pelo parlamento.
Ao desfazer-se de uma parte das suas prerrogativas, sob as desculpas
de "privatização", "democratização", "descentralização",
"desburocratização" etc., o governo não as transfere ao povo, mas a um
esquema de poder global que escapa infinitamente à possibilidade de
qualquer controle pelo eleitorado. As ambigüidades decorrentes, que
desorientam o público, são então aproveitadas como instrumentos para
gerar artificialmente novas "pressões populares", que não são populares
de maneira alguma, mas que refletem apenas a vontade da chamada
"sociedade civil organizada", isto é, da rede de ONGs criadas pelo
próprio esquema de poder global.
Subsidiadas pelas grandes corporações e fundações, essas ONGs,
prevalecendo-se da "parceria" que têm com órgãos do governo, passam
então à parasitagem voraz de verbas públicas, somando aos recursos que
as alimentam desde fora o sangue extraído do próprio eleitorado que as
ignora e que elas falsamente representam. Essa nova estrutura de poder
não é um plano, não é um objetivo a ser alcançado: ela já é o sistema de
poder sob o qual vivemos, construído sobre os escombros do antigo
governo representativo, que hoje em dia só subsiste como aparência
legitimadora da transformação que o matou.
Uma ambigüidade especialmente irônica e por isto mesmo proveitosa da
situação é que um dos instrumentos principais para a implantação do novo
esquema reside na rede mundial de ONG's e movimentos esquerdistas,
desde os mais radicais até os mais brandos e inofensivos em aparência.
Ao mesmo tempo, como a violência e rapidez das mutações gera toda sorte
de desequilíbrios, temores e insatisfações, essa rede de organizações
esquerdistas é usada por outro lado como megafone para lançar a culpa de
todos esses males no velho capitalismo liberal, apontado como
beneficiário maior das mesmas transmutações que o esmagam. Os sintomas
colaterais mórbidos da transformação servem eles próprios como pretextos
para acelerá-la e aprofundá-la, canalizando em favor dela as dores que
ela gerou.
Numa obra memorável, "Du Pouvoir. Histoire Naturelle de Sa
Croissance", Bertrand de Jouvenel mostrou que a história da modernidade
não é a história da liberdade crescente, como pretendia Benedetto Croce,
mas a história do poder crescente do Estado avassalador.
Esse livro é de 1945. Desde então, o curso da História tomou um rumo
que o confirma na medida mesma em que aparenta desmenti-lo. A
"descentralização" dos governos nacionais, simulando em escala local uma
vitória do liberal-capitalismo sobre as tendências centralizadoras e
socialistas, foi posta a serviço da construção do Leviatã supranacional
que, inacessível e quase invisível, controla dezenas de Estados
reduzidos à condição de entrepostos da administração global. Não só o
eleitorado foi submetido a essa gigantesca mutação sem a menor
possibilidade de interferir nela ou de compreendê-la, porém até mesmo
alguns dos mais intelectualizados porta-vozes do liberal-capitalismo,
enxergando apenas o fator econômico e recusando-se a investigar a nova
estrutura de poder político por trás da globalização comercial,
colaboraram ativamente para que o processo de centralização mundial se
implantasse pacificamente, sob a bandeira paradoxal da liberdade de
mercado.
O camponês antigo, o servo da gleba e até mesmo o escravo romano
gemiam sob o tacão de um poder incontrastável, mas pelo menos tinham uma
idéia clara de quem mandava neles e compreendiam perfeitamente o
funcionamento do sistema que os governava. O cidadão da "democracia de
massas" está cada vez mais submetido a decisões que não sabe de onde
vieram, implantadas por um sistema de governo que ele nem conhece nem
compreende. O globalismo é a apoteose do processo de centralização do
poder, centralizando até o direito de conhecer o processo.
Artigo completo de Olavo de Carvalho
http://www.olavodecarvalho.org/semana/080705dc.html
RECUPERADO EM:
https://web.archive.org/web/20081011045938/http://www.olavodecarvalho.org/semana/080705dc.html
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GENERAIS ALERTAM SOBRE MACRON - VISTA PÁTRIA
https://conspiratio3.blogspot.com/2019/08/generais-alertam-sobre-macron-vista.html
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AQUECIMENTO OU ENGANAÇÃO GLOBAL? - JOSÉ CARLOS SEPÚLVEDA E THIAGO MAIA
https://youtu.be/PMECOqPV9B0
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