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Não
tem nada a ver com o assunto, mas quando vão entender que a verdade da
vida, a virtude também portanto, não consiste em ser um bloco de
coerência e sim em manter as contradições sob controle, como o
recém-nascido Mercúrio dominando as duas serpentes?
Um exemplo
trágico: o grande filósofo Max Scheler não conseguiu trabalhar a
contradição interior de ser ao mesmo tempo um católico sincero e um
mulherengo incurável. Acobardou-se, abandonando a fé.
"Sêde
perfeitos como vosso Pai é perfeito", ensinou Jesus. Não faça disso um
motivo de tormento: Deus Pai considerou perfeitos homens tão cheios de
contradições como Salomão e Davi. Quem cobra coerência em bloco são os
hipócritas e maledicentes. Deus se contenta com muito menos.
Quando
Deus nos manda carregar a nossa cruz, Ele quer dizer arcar com a
responsabilidade dos nossos pecados. As criaturinhas perfeitas que
atormentam o próximo com exigências de perfeição absoluta já jogaram as
suas cruzes fora faz muito tempo. Estão leves como um peido.
Sofremos
com as contradições interiores que não conseguimos vencer, e é
justamente esse fracasso repetido que nos leva a invocar Deus de novo e
de novo, até entendermos que é Ele, não nós, quem vai resolver as nossas
contradições.
Deus tem soluções que a própria solução desconhece.
Não se pode pedir um milagre só para tirar uma dúvida, mas pode-se pedir vários quando se precisa deles desesperadamente.
Chega
um ponto em que você está mais empenhado em invocar Deus do que em
resolver as suas miúdas contradições. Então Deus começa a atender ao seu
apelo: "Não olheis para os nossos pecados, mas para a fé que anima a
Vossa Igreja."
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