HOJE É ONZE DE AGOSTO
FALAR LATIM, DAR NÓ DE
GRAVATA E BEBER CERVEJA...
QUE TEM ISSO A VER COM
A MORTE DE HERZOG?
Dias depois cruzo na rua com um
“camarada” que não sabia que eu há muito havia abandonado os “cumpanheros” por
não concordar com a violência.
Após os cumprimentos e minha explicação
da cirurgia, ele perguntou: “Paga uma cerveja pra mim?”
Concordei. Assentamos num bar do centro
de SP. Não deixei encher meu copo e fui perguntando: “Como se sente com a
repressão?” Responde ele: “Não temos grandes problemas... Estamos infiltrados
em toda parte...” Continuei: “Viu o Herzog? Nenhum de nós pode aceitar
suicídio, após ver aquela foto...”
Após mais uma cerveja ele completou: ”Foi
uma bênção para o Partidão essa morte.”
Mais uma cerveja e ele comentou: “Foi um
camarada encarregado de fazer o trabalho... Foi lá e outro camarada lhe abriu o
caminho como amigo que ia consolar o jornalista... E depois, não havia registro
dessa visita.” Revidei: “Mas, como isso pode aproveitar ao PC?” Com uma boa
risada, após esvaziar mais um copo, completa ele: ”O Wladô era judeu... Burguês,
classe média. Escrevia muito bem. Porém era contra a revolução armada. Agora
atiramos a culpa nos militares, ao mesmo tempo que ficamos livres de um
companheiro inconveniente”.
Ele já não estaria enxergando bem. Não
percebeu que fiquei gelado. Eu também sabia ter ascendência dos ladinos da
Espanha... Também tinha renda de classe média. Também gostava de escrever e
recebi elogios pelas redações. E também havia deixado os que queriam terror...
Paguei a conta e segui meu caminho, que
passava pelo Largo de São Francisco. Relembrei os tempos de estudante.
Monologuei: “Dar nó de gravata... Assim se foi o Wladô... Beber cerveja? Nem pensar.
Falar Latim? Nem poderia contar isso a ninguém, em Latim ou em qualquer língua!
Como fazer as provas?”
Passei muitos anos relembrando essa
noite, com um nó na garganta.
Hoje é Onze de agosto.
Agora posso dizer – Eu entendi nessa
noite de 1975 o verdadeiro significado de “Saber o que é falar, ou calar, em
Latim; saber dar nó em gravata; saber beber ou não beber cerveja”.
Texto completo em
*
Um
absurdo gritante na narrativa esquerdista da era militar é que, de um
lado, a tortura fosse descrita como um processo complicadíssimo, que
requeria a assistência de técnicos e cientistas estrangeiros (entre os
quais cita-se, evidentemente sem provas, o capitão americano Charles
Chandler, que sob esse pretexto viria a ser assassinado pelos
comunistas); e que, de outro lado, os tais técnicos não fossem capazes
nem mesmo de simular um suicídio verossímil no caso do Vladimir Herzog,
deixando o morto, ao contrário, numa posição em que só faltava mesmo
ele voltar à vida para informar que fora assassinado. Na época, a
contradição patente entre os propalados requintes da arte da tortura e a
grosseria pueril do suicídio simulado me escapou totalmente, e, tendo
sido um dos primeiros a promover o abaixo-assinado que exigia a
investigação do episódio, tive toda a razão em apostar na hipótese do
homicídio, mas, levado pela gritaria geral que eu mesmo ajudara a
fomentar, dei por pressuposto, sem exame, que se homicídio houvera seus
autores só poderiam ter sido os militares. Estes, por seu lado,
insistindo na tese do suicídio, caíram no ridículo e acabaram levando a
culpa do ocorrido. Hoje em dia, porém, vejo que entre as duas hipóteses
há uma terceira que foi rapidamente varrida para baixo do tapete e
jamais investigada. Na época, o consul da Inglaterra em São Paulo
informou ao então governador paulista, Paulo Egydio Martins, que Herzog
era um agente do serviço secreto inglês infiltrado entre os comunistas
brasileiros. O cônsul dizia ainda ter sido um dos últimos a encontrar-se
com Herzog antes da morte deste. Martins, sabe-se lá por que, em vez de
mandar tirar isso a limpo preferiu guardar a informação em segredo, só a
revelando muito depois no seu livro de memórias, onde ela não teve a
menor repercussão e foi enterrada ainda mais fundo pelo decurso do
tempo, consagrando na memória jornalística e popular a versão do
homicídio praticado pelos militares contra um intelectual comunista
inocente de qualquer participação em atos terroristas. Para mim, hoje, É
CLARO que a declaração do cônsul inglês fornece a única explicação
possível para a hipótese absurda de que os habilíssimos torturadores
científicos não fossem capazes de simular um suicídio mais acreditável.
Herzog não foi, obviamente, assassinado por militares treinados, mas por
militantes comunistas, presos como ele, alertados pela intimidade
suspeita entre o prisioneiro e o cônsul. A coisa toda não foi um “crime
da ditadura”, mas um dos tantos “justiçamentos” praticados pelos
comunistas contra aqueles a quem consideravam traidores e espiões.
*
Revisão da Revolução Russa
http://diariodonordeste.globo.com/1999/10/18/050052.htm
A TRAGÉDIA DE UM POVO
Revolução: rebelião armada; revolta; conflagração, sublevação. Estes e outros significados do vocábulo encontrados em dicionário não são capazes de dar conta do verdadeiro sentido de uma ‘revolução’. Principalmente quando ela envolve milhares de pessoas e interesses políticos e econômicos. A Revolução Russa, por exemplo, um dos maiores eventos da história mundial, pelo menos nos seus efeitos a curto e a longo prazos. A partir da criação do poder soviético, e no espaço de uma única geração, um terço da humanidade passou a viver sob regimes inspirados nesse poder.
Esta história que definiu a forma do mundo contemporâneo, a partir principalmente do ano de 1917, é revista agora no livro “A Tragédia de um Povo – A Revolução Russa (1891 - 1924)”, de Orlando Figes, lançado recentemente pela Record. Figes defende a tese de que na verdade a Revolução Russa não foi exatamente uma revolução, “mas todo um complexo de diferentes revoluções, desencadeadas em meio à Primeira Guerra Mundial, e que provocaram uma reação em cadeia de mais revoluções, guerras, civis, étnicas e entre nações”.
O historiador de Cambridge, Orlando Figes, escreve com a convicção de quem foi um dos primeiros a vasculhar os arquivos da Revolução de Outubro e do partido Comunista em Moscou quando eles foram abertos no final dos anos 80. Este livro é o resultado de suas pesquisas, um trabalho rigoroso e fundamental, sob a ótica do povo russo. É assim que sai do porão a história da mais importante revolução política dos tempos modernos, desde a decadência do czarismo no final da década de 1890 até a tomada do poder por Stalin nos anos de 1920, terminando com a morte de Lenin, em 1924, quando a revolução já tinha feito um círculo completo e estavam estabelecidas as instituições básicas, se não todas as práticas do regime stalinista. Portanto, a proposta é abrangente e aborda todo o período revolucionário e não apenas o do seu estopim.
O objetivo é explicar por que a Rússia não seguiu um curso mais democrático e sim o da ditadura bolchevique. O autor sugere que o fracasso democrático da Rússia decorreu das profundas raízes culturais, políticas e histórico-sociais do seu povo. A primeira parte do livro fala da ausência de um contrapeso em nível estatal, capaz de fazer frente ao despotismo do czar; o isolamento e a fragilidade da sociedade civil liberal; o atraso e a violência vigentes na aldeia russa, fato que levou muitos camponeses a sair em busca de uma vida melhor nos centros industriais; e o estranho fanatismo da “intelligentsia” radical russa, temas que aparecem constantemente nos capítulos dois, três e quatro.
Porém, como sugere o próprio título, o foco principal aqui é o povo comum, as principais forças sociais – o campesinato, a classe trabalhadora, os solados e as minorias nacionais – participantes do drama revolucionário e não meras vítimas da revolução.
Na verdade, o autor considera as provas de que há um lado complexo e convincente do relacionamento entre o partido e o povo do que aquele apresentado pelas antigas versões ‘de cima para baixo’. “ “A Tragédia de um Povo” é um esforço no sentido de sintetizar essa reavaliação e levar a questão a um estágio mais avançado, demonstrando, como o título indica, que a revolução popular continha as sementes de sua própria degeneração na violência e na ditadura”, defende Figes no prefácio do livro.
Nas quase mil páginas da obra, há ainda as histórias pessoais de várias figuras ilustres, como o escritor que mantinha uma relação de amor e ódio com Lenin, Maximo Gorki, o general Brusilov e o príncipe Lvov, e também o esquecido camponês reformista Sergei Semenov e o soldado Dmitry Os'kin. Tal cuidado reforça a preocupação do historiador em apresentar a revolução como um evento humano de complicadas tragédias individuais. “Uma história em grande dimensão de pessoas que abraçam elevados ideais e acabam chegando a resultados muito diferentes.”
Trata-se de uma percepção construída ao longo de seis anos. Para este historiador inglês, a revolução foi uma grande tragédia para os russos, tanto como povo quanto individualmente. As fotos que ilustram o livro reforçam a força da argumentação mas também colocam em jogo a própria versão do historiador que subestima ou eleva ao historicismo empírico outras grandes conquistas sociais do sistema que se implantou na Russia pós-czarista.
VEJA AQUI QUEM MUDOU O NOME DO PAÍS DE JUDEIA PARA SYRIA PALESTINA
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