Reuni num mesmo post estes textos de Olavo de Carvalho porque eles tocam no tema da percepção e da fonte interior do conhecimento. Acho que se pode dizer que são instâncias da mente, ou possibilidades da consciência individual que na atualidade vêm sofrendo violento ataque do mundo (ou crime organizado: ONU, governos, educação, mídia, etc.), que quer nos convencer de que tudo pode ser terceirizado, por assim dizer, que só podemos ter "vivências de segunda mão" e depender de um coletivo que tem a autoridade para destruir ou construir a "verdade".
Texto de Olavo de Carvalho
"Jesus Cristo afirmou que seu sacrifício se destinava a salvar almas humanas do jugo da Lei. Se professamos acreditar nisto, entendemos que cada ser humano pode optar entre a ordem exterior da Lei e a ordem interior da caridade. Se opta pela primeira, cai nas malhas da opinião dominante, isto é do “mundo”. Se escolhe a segunda, não tem outro senhor senão Cristo, e Cristo não está em parte alguma senão no segredo interior de um coração humilde, onde um homem, conhecendo a si mesmo, conhece a seu Senhor – bem longe do que o “mundo” enxerga.
"Podemos aceitar ou rejeitar esta mensagem. O que não podemos é ter dúvidas quanto ao seu sentido: não existe, acima da consciência do indivíduo, outra autoridade, outro juiz, senão o Cristo mesmo. Mas este “acima” quer dizer na verdade, “dentro”. Deus não está acima de nós no sentido em que o capitão está acima do tenente. In interiore hominis habitat veritas, explicou Sto. Agostinho. Deus não é exterior à consciência: é o seu núcleo mais íntimo e pessoal, Aquele que, segundo Claudel, “é em mim mais do que eu mesmo”. Todo ser humano possui esse núcleo e, logo, está apto a distinguir o verdadeiro do falso, o bem e o mal, o útil e o nocivo. Nenhum Estado, nenhuma sociedade, nenhuma agremiação ou partido pode ter autoridade maior que a do homem interior. A Igreja mesma, que tantas vezes abusou de seu poder de mestra, sempre reconheceu, como fronteira intransponível, a soberania da consciência individual."
Olavo de Carvalho - VERDADE SEM DONO
Olavo de Carvalho - VERDADE SEM DONO
Artigo na íntegra:
http://www.diariodecuiaba.com.br/arquivo/081197/artigos2.htm
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APEIROKALIA
Olavo de Carvalho
(...)
Os gregos chamavam-no apeirokalia. Quer dizer simplesmente "falta de experiência das coisas mais belas". Sob esse termo, entendia-se que o indivíduo que fosse privado, durante as etapas decisivas de sua formação, de certas experiências interiores que despertassem nele a ânsia do belo, do bem e do verdadeiro, jamais poderia compreender as conversações dos sábios, por mais que se adestrasse nas ciências, nas letras e na retórica. Platão diria que esse homem é o prisioneiro da caverna. Aristóteles, em linguagem mais técnica, dizia que os ritos não têm por finalidade transmitir aos homens um ensinamento definido, mas deixar em suas almas uma profunda impressão. Quem conhece a importância decisiva que Aristóteles atribui às impressões imaginativas, entende a gravidade extrema do que ele quer dizer: essas impressões profundas exercem na alma um impacto iluminante e estruturador. Na ausência delas, a inteligência fica patinando em falso sobre a multidão dos dados sensíveis, sem captar neles o nexo simbólico que, fazendo a ponte entre as abstrações e a realidade, não deixa que nossos raciocínios se dispersem numa combinatória alucinante de silogismos vazios, expressões pedantes da impotência de conhecer.
Mas é claro que as experiências interiores a que Aristóteles se refere não são fornecidas apenas pelos "ritos", no sentido técnico e estrito do termo. O teatro e a poesia também podem abrir as almas a um influxo do alto. À música — a certas músicas — não se pode negar o poder de gerar efeito semelhante. A simples contemplação da natureza, um acaso providencial, ou mesmo, nas almas sensíveis, certos estados de arrebatamento amoroso, quando associados a um forte apelo moral (lembrem-se de Raskolnikov diante de Sônia, em Crime e Castigo), podem colocar a alma numa espécie de êxtase que a liberte da caverna e da apeirokalia.
Porém, com mais probabilidade, as experiências mais intensas que um homem tenha tido ao longo de sua vida serão de índole a desviá-lo do tipo de coisa que Aristóteles tem em vista. Pois o que caracteriza a impressão vivificante que o filósofo menciona é justamente a impossibilidade de separar, no seu conteúdo, a verdade, o bem e a beleza. De Platão a Leibniz, não houve um só filósofo digno do nome que não proclamasse da maneira mais enfática a unidade desses três aspectos do Ser. E aí começa o problema: muitos homens não tiveram jamais alguma experiência na qual o belo, o bem e o verdadeiro não aparecessem separados por abismos intransponíveis. Esses homens são vítimas da apeirokalia — e entre eles contam-se alguns dos mais notórios intelectuais que hoje fazem a cabeça do mundo.
Infelizmente, o número dessas vítimas parece destinado a crescer. Já em 1918, Max Weber assinalava, como um dos traços proeminentes da época que nascia, a perda de unidade dos valores ético-religiosos, estéticos e cognitivos. O bem, o belo e a verdade afastavam-se velozmente, num movimento centrífugo, e em decorrência
As duas fortalezas do sublime, que Weber menciona, não demoraram a ceder: a vida mística, assediada pela maré de pseudo-esoterismo que se apropriou de sua linguagem e de seu prestígio, acabou por se recolher à marginalidade e ao silêncio para não se contaminar da tagarelice profana. A intimidade, vasculhada pela mídia, violada pela intromissão do Estado, tornada objeto de exibicionismo histérico e de bisbilhotices sádicas, desapropriada de sua linguagem pela exploração comercial e ideológica de seus símbolos, simplesmente não existe mais.
Toda a literatura do século XX reflete esse estado de coisas: primeiro a "incomunicabilidade" dos egos, depois a supressão do próprio ego: a "dissolução do personagem". Mas, desde Weber, muita água rolou. Nas proximidades do fim do milênio, o que se entende por mística é um cerebralismo de filólogos; por intimidade, o contato carnal entre desconhecidos, através de uma película de borracha. Os três valores supremos já não são apenas autônomos, mas antagônicos. O belo já não é apenas alheio ao bem: é decididamente mau; o bem é hipócrita, pseudo-sentimental e tolo; a verdade, feia, estúpida e deprimente. A estética celebra os vampiros, a morte da alma, a crueldade, o macho que mete o braço até o cotovelo no ânus de outro macho. A ética reduz-se a um discurso acusatório de cada um contra seus desafetos, aliado à mais cínica auto-indulgência. A verdade nada mais é o consenso estatístico de uma comunidade acadêmica corrompida até à medula.
Nessas condições, é um verdadeiro milagre que um indivíduo possa escapar por instantes da redoma de chumbo da apeirokalia, e outro milagre que, ao retornar ao pesadelo que ele denomina "vida real", esses instantes não lhe pareçam apenas um sonho, que não se deve mencionar em público. Mas nada proíbe um escritor de dirigir-se, em suas obras, aos sobreviventes do naufrágio espiritual do século XX, na esperança de que existam e não sejam demasiado poucos. Acossados pelo assédio conjunto da banalidade e da brutalidade, esses podem conservar ainda uma vaga suspeita de que em seus sonhos e esperanças ocultos há uma verdade mais certa do que em tudo quanto o mundo de hoje nos impõe com o rótulo de "realidade", garantido pelo aval da comunidade acadêmica e da Food and Drug Administration. É a tais pessoas que me dirijo exclusivamente, ciente de que não se encontram com mais freqüência entre as classes letradas do que entre os pobres e os desvalidos.
NOTAS Max Weber, "A ciência como vocação", em Ensaios de Sociologia, org. H. H. Gerth e C. Wright Mills, trad. Waltensir Dutra, rev. por Fernando Henrique Cardoso, 5ª ed., Rio, Guanabara, 1982, p.182.
Texto integral em:
http://www.olavodecarvalho.org/livros/apeirokalia.htm
***
"Por isso mesmo, é bom lembrar ao leitor, com insistência, que a capacidade de argumentar, por necessária que seja nas circunstâncias práticas da vida intelectual, é habilidade menor e derivada em relação ao perceber e ao intuir; que mesmo a prova, no sentido da demonstração apodíctica, é apenas serva e discípula da verdade intuída; que mais vale saber sem poder provar do que produzir um milhão de provas daquilo que, no fundo, não se intui de maneira alguma. No mais das vezes, a simples afirmação direta do que se enxerga tem mais força do que muitos argumentos. Contra as tentações do erro e da fantasia, não há outra arma senão dizer a verdade com tal clareza, com tal precisão, que nenhuma finta, nenhum rodeio, nenhum jogo de cena ou artifício de palavras possa prevalecer contra ela.
"O imbecil coletivo não é, de fato, a mera soma de um certo número de imbecis individuais. É, ao contrário, uma coletividade de pessoas de inteligência normal ou mesmo superior que se reúnem movidas pelo desejo comum de imbecilizar-se umas às outras. Se é desejo consciente ou inconsciente não vem ao caso: o que importa é que o objetivo geralmente é alcançado. Como? O processo tem três fases. Primeiro, cada membro da coletividade compromete-se a nada perceber que não esteja também sendo percebido simultaneamente por todos os outros. Segundo, todos juram crer que o recorte minimizados assim obtido é o único verdadeiro mundo. Terceiro, todos professam que o mínimo divisor comum mental que opera esse recorte é infinitamente mais inteligente do que qualquer indivíduo humano de dentro ou de fora do grupo, já que, segundo uma autorizada porta-voz dessa entidade coletiva, "a psicanálise, com o conceito de inconsciente, e o marxismo, com o de ideologia, estabeleceram limites intransponíveis para a crença no poderio total da consciência autônoma, enfatizando seus limites" ( sic )13. Assim, se um dos membros da coletividade é mordido por um cachorro, deve imediatamente telefonar para os demais e perguntar-lhes se foi de fato mordido por um cachorro. Se lhe responderem que se trata de mera impressão subjetiva ( o que se dará na maioria dos casos, já que é altamente improvável que os cachorros entrem num acordo de só morder as pessoas na presença de uma parcela significativa da comunidade letrada ), ele deve incontinente renunciar a considerar esse episódio um fato objetivo, podendo porém continuar a falar dele em público, se o quiser, a título de expressão pessoal criativa ou de crença religiosa. Para o imbecil coletivo, tudo o que não possa ser confirmado pelo testemunho unânime da Intelligentzia, simplesmente não existe." (O IMBECIL COLETIVO, de Olavo de Carvalho)
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Não permitas que o CENSOR cale teu SENSOR. A mentira divide e a verdade integra. Depois de matarem uma parte de si, ELES podem matar qualquer coisa. Com as armas da mentira, eles obtém o que querem: a tua MENTE DISSOCIADA, superficial e submissa, preparada para acatar tudo. O caminho de volta é a sinceridade interior, é voltar a dar atenção à tua própria percepção, e pensar dialogando com ela.
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COMO VENCER UM DEBATE SEM PRECISAR TER RAZÃO - ARTHUR SCHOPENHAUER -
http://livraria.seminariodefilosofia.org/Olavo-de-Carvalho/Como-Vencer-Um-Debate-Sem-Precisar-Ter-Razão/flypage.tpl.html
"é um tratado de patifaria intelectual, não para uso dos patifes e sim de suas possíveis vítimas, isto é, nós, o povo. Obra de um espírito arguto e particularmente sensível aos ardis da malícia humana, é um receituário de precauções contra a argumentação desonesta - aquele tipo de polêmica interesseira onde o que importa não é provar, mas vencer. No Brasil de hoje, a edição deste livro é um empreendimento de saúde pública." Comentado por Olavo de Carvalho
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O uso de crianças como “agentes de transformação social” é um expediente desonesto do Estado modernizador e dos intelectuais ativistas para fazer que as novas crenças que desejam inocular na sociedade, transportadas por pequenos inocentes úteis, possam penetrar no senso comum (no sentido gramsciano do termo) sem passarem pelo filtro da discussão consciente. Esse expediente, inventado pelos Estados totalitários, foi depois imitado pelas democracias e hoje se tornou prática corriqueira, que já nem escandaliza mais uma opinião pública extenuada pelos estupros repetidos.APEIROKALIA
Olavo de Carvalho
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Os gregos chamavam-no apeirokalia. Quer dizer simplesmente "falta de experiência das coisas mais belas". Sob esse termo, entendia-se que o indivíduo que fosse privado, durante as etapas decisivas de sua formação, de certas experiências interiores que despertassem nele a ânsia do belo, do bem e do verdadeiro, jamais poderia compreender as conversações dos sábios, por mais que se adestrasse nas ciências, nas letras e na retórica. Platão diria que esse homem é o prisioneiro da caverna. Aristóteles, em linguagem mais técnica, dizia que os ritos não têm por finalidade transmitir aos homens um ensinamento definido, mas deixar em suas almas uma profunda impressão. Quem conhece a importância decisiva que Aristóteles atribui às impressões imaginativas, entende a gravidade extrema do que ele quer dizer: essas impressões profundas exercem na alma um impacto iluminante e estruturador. Na ausência delas, a inteligência fica patinando em falso sobre a multidão dos dados sensíveis, sem captar neles o nexo simbólico que, fazendo a ponte entre as abstrações e a realidade, não deixa que nossos raciocínios se dispersem numa combinatória alucinante de silogismos vazios, expressões pedantes da impotência de conhecer.
Mas é claro que as experiências interiores a que Aristóteles se refere não são fornecidas apenas pelos "ritos", no sentido técnico e estrito do termo. O teatro e a poesia também podem abrir as almas a um influxo do alto. À música — a certas músicas — não se pode negar o poder de gerar efeito semelhante. A simples contemplação da natureza, um acaso providencial, ou mesmo, nas almas sensíveis, certos estados de arrebatamento amoroso, quando associados a um forte apelo moral (lembrem-se de Raskolnikov diante de Sônia, em Crime e Castigo), podem colocar a alma numa espécie de êxtase que a liberte da caverna e da apeirokalia.
Porém, com mais probabilidade, as experiências mais intensas que um homem tenha tido ao longo de sua vida serão de índole a desviá-lo do tipo de coisa que Aristóteles tem em vista. Pois o que caracteriza a impressão vivificante que o filósofo menciona é justamente a impossibilidade de separar, no seu conteúdo, a verdade, o bem e a beleza. De Platão a Leibniz, não houve um só filósofo digno do nome que não proclamasse da maneira mais enfática a unidade desses três aspectos do Ser. E aí começa o problema: muitos homens não tiveram jamais alguma experiência na qual o belo, o bem e o verdadeiro não aparecessem separados por abismos intransponíveis. Esses homens são vítimas da apeirokalia — e entre eles contam-se alguns dos mais notórios intelectuais que hoje fazem a cabeça do mundo.
Infelizmente, o número dessas vítimas parece destinado a crescer. Já em 1918, Max Weber assinalava, como um dos traços proeminentes da época que nascia, a perda de unidade dos valores ético-religiosos, estéticos e cognitivos. O bem, o belo e a verdade afastavam-se velozmente, num movimento centrífugo, e em decorrência
"os valores mais sublimes retiraram-se da vida pública, seja para o reino transcendental da vida mística, seja para a fraternidade das relações humanas diretas e pessoais... Não é por acaso que hoje somente nos círculos menores e mais íntimos, em situações humanas pessoais, é que pulsa alguma coisa que corresponda ao pneuma profético, que nos tempos antigos varria as grandes comunidades como um incêndio".1
As duas fortalezas do sublime, que Weber menciona, não demoraram a ceder: a vida mística, assediada pela maré de pseudo-esoterismo que se apropriou de sua linguagem e de seu prestígio, acabou por se recolher à marginalidade e ao silêncio para não se contaminar da tagarelice profana. A intimidade, vasculhada pela mídia, violada pela intromissão do Estado, tornada objeto de exibicionismo histérico e de bisbilhotices sádicas, desapropriada de sua linguagem pela exploração comercial e ideológica de seus símbolos, simplesmente não existe mais.
Toda a literatura do século XX reflete esse estado de coisas: primeiro a "incomunicabilidade" dos egos, depois a supressão do próprio ego: a "dissolução do personagem". Mas, desde Weber, muita água rolou. Nas proximidades do fim do milênio, o que se entende por mística é um cerebralismo de filólogos; por intimidade, o contato carnal entre desconhecidos, através de uma película de borracha. Os três valores supremos já não são apenas autônomos, mas antagônicos. O belo já não é apenas alheio ao bem: é decididamente mau; o bem é hipócrita, pseudo-sentimental e tolo; a verdade, feia, estúpida e deprimente. A estética celebra os vampiros, a morte da alma, a crueldade, o macho que mete o braço até o cotovelo no ânus de outro macho. A ética reduz-se a um discurso acusatório de cada um contra seus desafetos, aliado à mais cínica auto-indulgência. A verdade nada mais é o consenso estatístico de uma comunidade acadêmica corrompida até à medula.
Nessas condições, é um verdadeiro milagre que um indivíduo possa escapar por instantes da redoma de chumbo da apeirokalia, e outro milagre que, ao retornar ao pesadelo que ele denomina "vida real", esses instantes não lhe pareçam apenas um sonho, que não se deve mencionar em público. Mas nada proíbe um escritor de dirigir-se, em suas obras, aos sobreviventes do naufrágio espiritual do século XX, na esperança de que existam e não sejam demasiado poucos. Acossados pelo assédio conjunto da banalidade e da brutalidade, esses podem conservar ainda uma vaga suspeita de que em seus sonhos e esperanças ocultos há uma verdade mais certa do que em tudo quanto o mundo de hoje nos impõe com o rótulo de "realidade", garantido pelo aval da comunidade acadêmica e da Food and Drug Administration. É a tais pessoas que me dirijo exclusivamente, ciente de que não se encontram com mais freqüência entre as classes letradas do que entre os pobres e os desvalidos.
NOTAS Max Weber, "A ciência como vocação", em Ensaios de Sociologia, org. H. H. Gerth e C. Wright Mills, trad. Waltensir Dutra, rev. por Fernando Henrique Cardoso, 5ª ed., Rio, Guanabara, 1982, p.182.
Texto integral em:
http://www.olavodecarvalho.org/livros/apeirokalia.htm
***
"Por isso mesmo, é bom lembrar ao leitor, com insistência, que a capacidade de argumentar, por necessária que seja nas circunstâncias práticas da vida intelectual, é habilidade menor e derivada em relação ao perceber e ao intuir; que mesmo a prova, no sentido da demonstração apodíctica, é apenas serva e discípula da verdade intuída; que mais vale saber sem poder provar do que produzir um milhão de provas daquilo que, no fundo, não se intui de maneira alguma. No mais das vezes, a simples afirmação direta do que se enxerga tem mais força do que muitos argumentos. Contra as tentações do erro e da fantasia, não há outra arma senão dizer a verdade com tal clareza, com tal precisão, que nenhuma finta, nenhum rodeio, nenhum jogo de cena ou artifício de palavras possa prevalecer contra ela.
Ora, essa clareza não se obtém sem um tremendo esforço de atenção que é quase um exercício ascético. Olhando fixamente para dentro de seu coração, um homem "lê" o que está inscrito na sua consciência íntima, como palavras de um texto supremamente auto-evidente. Ao subir para a periferia da mente onde estão depositadas, como redes superpostas, a gramática do idioma pátrio, as regras de estilo, os usos do vocabulário comum, os esquemas argumentativos padronizados e as exigências da moda —, as palavras do discurso íntimo se embaralham, entrando por automatismo nesses canais e arranjos pré-moldados que as desfiguram e as afastam infinitamente do significado originário. Então é preciso mergulhar de novo e de novo, até que a imagem do discurso interior fique tão nítida na memória, que as formas da linguagem externa se amoldem a ela como meras vestimentas, sem deformá-la ou incomodá-la.
Esse é todo o trabalho do autêntico escritor: dizer exatamente o que percebeu desde o centro do coração, afeiçoando o discurso ao conteúdo intuído, sem que este se deixe arrastar pelas exigências daquele. Essa é também sua única força: ela sobe com um impulso avassalador que rompe os muros da indiferença, rasga as máscaras do fingimento e demole a fortaleza de palha da tagarelice.
Talvez por pressentir essa força é que o adversário maldoso busca sempre desviar-se do centro das questões para algum detalhe miúdo e periférico que possa, bem explorado, dar margem a controvérsias sem fim; ou — o que dá na mesma — colocar alguma objeção sabidamente tola, mas que não possa ser contestada sem longas e tediosas explicações; ou, ainda, obrigar-nos, mediante resistências fingidas, às vezes sublinhadas com emocionalismo teatral, a repetir mil vezes nosso discurso sob mil formas diferentes, descendo a exemplos e detalhes cada vez mais elementares, até à exaustão. Ele sabe que, quanto mais tivermos de nos gastar no esforço de provar ninharias,mais excitado ficará o nosso cérebro e mais longe estaremos do centro do nosso coração. E este é o seu verdadeiro propósito: tornar-nos iguais a ele, fazer de nós uns sonsos tagarelas, irritados, maliciosos, revoltados, cínicos, sem consciência nem inteligência. Uma vez neutralizada a diferença qualitativa que era nossa única superioridade, ele pode nos vencer pelo mais simples dos expedientes: reúne meia dúzia de comparsas e nos esmaga pela força do número.
Ir ao centro já é difícil. Ir e voltar muitas vezes, velozmente, é uma habilidade que não se conquista sem décadas de treino, e o melhor dos treinos é lutar contra as nossas próprias mentiras. Por isto, em geral, o superior de uma ordem religiosa proíbe os noviços de entrar em disputa com o argumentador mundano, pelo menos até estar seguro de que não se perderão no caminho entre o coração e o mundo. Mais vale, às vezes, a verdade muda, conservada no fundo da alma, mesmo na linguagem pessoalíssima de um sonho, de uma imagem, do que sua expressão clara e distinta em termos lógicos, a qual, por perfeita que seja, há se ser alvo de malentendidos tão logo caia no mundo, e tornar-se objeto de controvérsias tediosas que reduzirão a cinzas o fogo da sua intuição originaria.
Somente um longo aprendizado da concentração habilita o homem a sair imune dessas controvérsias, de modo a poder retornar, sempre que queira, àquele centro de si mesmo, àquela fonte viva onde a alma e a verdade se interpenetram. Para quem não esteja seguro de possuir essa via de retorno, os combates de argumentos são uma dispersão fatal no mundanismo.
"O primado da interioridade, tal como aqui o defendo, não deve porém ser compreendido como apologia do irracional, nem muito menos como proclamação da superioridade da "arte" em relação ao saber científico, e à reflexão filosófica."
Do livro de Olavo de Carvalho
“COMO VENCER UM DEBATE SEM PRECISAR TER RAZÃO”
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FORMAÇÃO DO IMBECIL COLETIVO PELA EDUCAÇÃO
http://conspiratio3.blogspot.com.br/2013/02/formacao-do-imbecil-coletivo-pela.html
EDUCAÇÃO NA NOVA ORDEM MUNDIAL - MAQUIAVEL PEDAGOGO
http://conspiratio3.blogspot.com.br/2013/02/educacao-na-nova-ordem-mundial-e.html
EDUCAÇÃO NA NOVA ORDEM MUNDIAL - MAQUIAVEL PEDAGOGO
http://conspiratio3.blogspot.com.br/2013/02/educacao-na-nova-ordem-mundial-e.html
CRISES, CRIMES E MENTIRAS SÃO FERRAMENTA DE TRABALHO (MARXISTA/ILLUMINATI, NOVA ORDEM MUNDIAL) http://conspiratio3.blogspot.com.br/2013/02/crimes-e-mentiras-sao-ferramenta-de.html
***"O imbecil coletivo não é, de fato, a mera soma de um certo número de imbecis individuais. É, ao contrário, uma coletividade de pessoas de inteligência normal ou mesmo superior que se reúnem movidas pelo desejo comum de imbecilizar-se umas às outras. Se é desejo consciente ou inconsciente não vem ao caso: o que importa é que o objetivo geralmente é alcançado. Como? O processo tem três fases. Primeiro, cada membro da coletividade compromete-se a nada perceber que não esteja também sendo percebido simultaneamente por todos os outros. Segundo, todos juram crer que o recorte minimizados assim obtido é o único verdadeiro mundo. Terceiro, todos professam que o mínimo divisor comum mental que opera esse recorte é infinitamente mais inteligente do que qualquer indivíduo humano de dentro ou de fora do grupo, já que, segundo uma autorizada porta-voz dessa entidade coletiva, "a psicanálise, com o conceito de inconsciente, e o marxismo, com o de ideologia, estabeleceram limites intransponíveis para a crença no poderio total da consciência autônoma, enfatizando seus limites" ( sic )13. Assim, se um dos membros da coletividade é mordido por um cachorro, deve imediatamente telefonar para os demais e perguntar-lhes se foi de fato mordido por um cachorro. Se lhe responderem que se trata de mera impressão subjetiva ( o que se dará na maioria dos casos, já que é altamente improvável que os cachorros entrem num acordo de só morder as pessoas na presença de uma parcela significativa da comunidade letrada ), ele deve incontinente renunciar a considerar esse episódio um fato objetivo, podendo porém continuar a falar dele em público, se o quiser, a título de expressão pessoal criativa ou de crença religiosa. Para o imbecil coletivo, tudo o que não possa ser confirmado pelo testemunho unânime da Intelligentzia, simplesmente não existe." (O IMBECIL COLETIVO, de Olavo de Carvalho)
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A ROUPA NOVA DO REI
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COMO VENCER UM DEBATE SEM PRECISAR TER RAZÃO - ARTHUR SCHOPENHAUER -
http://livraria.seminariodefilosofia.org/Olavo-de-Carvalho/Como-Vencer-Um-Debate-Sem-Precisar-Ter-Razão/flypage.tpl.html
"é um tratado de patifaria intelectual, não para uso dos patifes e sim de suas possíveis vítimas, isto é, nós, o povo. Obra de um espírito arguto e particularmente sensível aos ardis da malícia humana, é um receituário de precauções contra a argumentação desonesta - aquele tipo de polêmica interesseira onde o que importa não é provar, mas vencer. No Brasil de hoje, a edição deste livro é um empreendimento de saúde pública." Comentado por Olavo de Carvalho
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A PERCEPÇÃO HUMANA NÃO SE ENGANA FACILMENTE - OLAVO DE CARVALHO
http://www.youtube.com/watch?v=nQrMrnA1Kwo
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O POLÍTICAMENTE CORRETO COMO ARMA - DESCONSTRUINDO A MENTE - RACISMO E CENSURA MENTAL
http://conspiratio3.blogspot.com.br/2013/04/o-politicamente-correto-como-arma.html
http://www.youtube.com/watch?v=nQrMrnA1Kwo
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O POLÍTICAMENTE CORRETO COMO ARMA - DESCONSTRUINDO A MENTE - RACISMO E CENSURA MENTAL
http://conspiratio3.blogspot.com.br/2013/04/o-politicamente-correto-como-arma.html
Racismo e Censura Mental
Olavo de Carvalho
Na edição de 14 de setembro do Estadinho, suplemento infantil de O Estado de S. Paulo, Eduardo Martins, autor do Manual de redação e estilo desse jornal, toma a iniciativa de doutrinar as crianças contra o uso de expressões como “a situação está preta”, “negra infelicidade”, “destino negro”, etc., que a seu ver são racistas.
No caso, porém, esse ardil se torna ainda mais perverso porque é empregado para disseminar um hábito lesivo à inteligência: para reprimir, sob pretextos políticos de ocasião, o uso de metáforas naturais que remontam às origens da espécie humana e que se tornaram, ao longo dos milênios, fundamentos indispensáveis da nossa percepção do mundo. O simbolismo do claro e do escuro vem do tempo das cavernas, das sensações primevas de terror e deslumbramento. O negro do destino negro não é o marrom da pele dos nossos irmãos, mas a escuridão da noite. É a pura e simples ausência de luz. O sentido natural dessa experiência é vivenciado de maneira perfeitamente idêntica por pessoas de raça negra e branca, como se vê pelo simbolismo das cores na tradição Yoruba: nosso improvisado professor de moralidade das cores pode conferi-lo, por exemplo, no estudo Yoruba Traditional Religion do filólogo nigeriano Dr. Wande Abimbola (Tehran, Imperial Academy of Philosophy, 1977). Só a mentalidade torpe do moderno intelectual ativista pode procurar associar esse nobre simbolismo arcaico a motivações racistas e bani-lo do vocabulário humano como “politicamente incorreto”. Reprimir o uso de expressões que refletem uma experiência primordial e universal é impedir o ser humano de pensar, é introduzir entre a percepção e a fala um bloqueio paralisante, é perverter todo o sentido das comunicações entre sensação e pensamento, é neurotizar e desestruturar a mente infantil. E tudo isso para quê? Para atender às exigências de uma suscetibilidade mórbida e antinatural que os mesmos intelectuais ativistas, por outro lado, buscam cultivar nas pessoas de raça negra, com a finalidade de torná-las perpetuamente imaturas e sempre manipuláveis por slogans demagógicos.
Se proibidas de associar a cor negra ao perigo e ao sofrimento da ausência de luz, as crianças submetidas a essa lavagem cerebral serão forçadas, pelo superego politicamente correto, a negar a realidade de sua experiência sensível mais direta e a substituí-la por um sistema de artificiosos rodeios verbais desnecessários e sem sentido. Com isso, aprenderão a duvidar do que sentem e a crer, em vez disto, no que ouvem dizer, tornando-se cada vez mais incapazes de julgamento independente e mais necessitadas de ser guiadas por intelectuais prestativos como o Sr. Eduardo Martins. Para apressar este resultado, o Sr. Martins, além de empregar na educação das crianças o método pavloviano de criar reflexos irracionais de repulsa ante certas palavras, ainda reforça seu procedimento mediante o recurso francamente blasfematório a uma falsa retórica teológica, afirmando que o uso dessas palavras, além de crime, “é pecado”. Pecado, digo eu, é desprezar a advertência de Cristo: “O mal que fizerdes ao menor destes pequeninos, a mim o fizestes”.
Conforme bem viu Christopher Lasch, a nova classe dominante de burocratas e de intelectuais ativistas, que velozmente vai tomando o lugar da burguesia no império do mundo, não governa pela posse jurídica dos meios de produção, mas pelo jogo da informação; mais ambiciosa que sua antecessora, ela não se contenta em ter poder sobre a força de trabalho das pessoas, mas quer moldar sua mente, seus valores, sua vida e o sentido da sua vida; não quer só possuir o mundo, mas reinventá-lo à sua imagem e semelhança.
(Olavo de Carvalho, em O Imbecil Coletivo I – pp. 457 a 460)
A gente sabe, mas não sabe que sabe. E só chega a esse saber assumindo que não sabe. Isso começou a fazer mais sentido para mim em 2009, quando dei de frente com a Conspiração sob a forma de "pandemia" de gripe suína. Daí em diante não parei mais de me surpreender com minha ignorância e com um certo saber que começou a emergir de dentro. Talvez seja o perigo que nos põe em alerta e nos obriga a abrir para outras possibilidades salvadoras e outras atenções para percebê-las.
Assim, montando o quebra-cabeça da Conspiração Global sou, ao mesmo tempo, obrigada a fazer um trabalho de integração interior. Uma busca honesta deflagra a sondagem das impressões interiores, sendo uma delas a que sabe, ou tem uma pista consistente. Na verdade, isso depende da sinceridade e da coragem de mergulhar mais fundo.
Nós não somos só pensamento e emoção. Se entrarmos numa guerra só com pensamento e emoção, não temos condições de sobreviver; temos que estar inteiramente alertas, com nossa percepção, intuição, instintos, tudo. E na guerra Illuminati nosso lado interior também está vulnerável, também será atacado se não tivermos a atenção redobrada para o que está acontecendo por dentro, onde ninguém pode ver. É lá que se encontra nossa fonte primária de informação ou de triagem e confirmação/rejeição das informações que nos chegam.
Agora não podemos nos dar ao luxo de ser maria-vai-com-as-outras, porque é assim que ELES estão nos engolindo. Abandonando nossa percepção própria, ficamos à mercê da guerra de idéias pré-fabricadas pela ONU e suas armas politicamente corretas. As maiores carnificinas já foram iniciadas e continuam sendo cometidas com essas armas. E posso supor que o sadismo e as perdas de vidas não foram tão devastadores quanto a destruição que se processou, invisivel, da mente e da alma.
SE NÃO INVESTIRMOS EM CONSCIÊNCIA, O TOTALITARISMO SERÁ INEVITÁVEL?
http://conspiratio3.blogspot.com.br/2013/04/se-nao-investirmos-em-consciencia-o_1916.html
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DESCOBRINDO O SENTIDO DA VIDA
http://conspiratio3.blogspot.com.br/2013/08/descobrindo-o-sentido-da-vida.html
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A PROIBIÇÃO DA REALIDADE
"Nossos momentos são vividos em sucessão, fugindo irreparavelmente. Não obstante, sabemos que o fogo-fátuo que brilhou um instante na superfície das aparências, desaparecendo em seguida, nunca mais será revogado, nunca mais poderá tornar-se “um nada”. O acontecido não desacontece: passado e esquecido, o que uma vez ingressou no real está inscrito para sempre no registro do ser. Cada momento é, nesse sentido, eterno. Se não tivéssemos uma clara antevisão disso, não haveria consciência de tempo histórico. Se não soubéssemos que para além do horizonte que lembramos há milhões de coisas a ser lembradas, tão reais quanto as que lembramos, não haveria memória humana. Muito menos haveria o sistema dos tempos verbais que, em todas as línguas, organizam as vivências de tempos diversos, passados e futuros, reais e possíveis, em torno de um “não-tempo” que é o presente eterno.
Não possuímos a eternidade no nosso ser temporal, mas não poderíamos sequer apreender a temporalidade se nada possuíssemos da eternidade intelectivamente. É uma posse precária, imperfeita. Mas, sem ela, não saberíamos nem mesmo da nossa própria imperfeição e precariedade. Não podemos nem alcançar a eternidade nem pular fora dela. Por isso, dizia Platão, vivemos num território intermediário, num entremundo."
https://olavodecarvalho.org/a-proibicao-da-realidade/
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