A ameaça do politicamente correto à cultura
A censura politicamente correta se alastra mundo afora, proibindo
palavras, ceifando livros e relativizando a verdade. O caso mais
recente é o de Barcelona, que tirou da biblioteca cerca de 200 livros
para crianças de até seis anos de idade. O fato é que, quanto mais
mergulham no politicamente correto e no multiculturalismo - atacando a
cultura ocidental -, mais os países europeus são vítimas do terrorismo
islâmico, o verdadeiro inimigo. A propósito, segue editorial da Gazeta do Povo:
Nessa semana, mais uma polêmica envolvendo o politicamente correto
veio à tona. Uma escola pública de Barcelona, seguindo as recomendações
da Associação Espaço e Leitura da mesma cidade, resolveu retirar da
biblioteca 200 livros para crianças de até seis anos de idade. Entre os
livros se encontravam vários clássicos da literatura infantil como
Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida e Cinderela.
De acordo com a associação, os livros vetados teriam representações
“fortemente estereotipadas” de relacionamentos e comportamentos, o que
faria com que as crianças os considerassem normais.
Por que contos consagrados, de longevidade centenária, estariam agora
sendo um problema para educação infantil? Seriam eles realmente um
problema para a formação das crianças?
Antes de entrar no mérito da questão, é preciso salientar que a arte
versa sobre o possível e, portanto, é justamente nessa atividade que
hipérboles, metáforas e outras figuras de linguagem são empregadas para
atingir determinados efeitos sobre quem a está apreciando.
É também por isso que muitas vezes histórias são utilizadas para
exemplificar dramas morais e podem adquirir um caráter verdadeiramente
pedagógico. Esse é um expediente usado desde Antiguidade. É só o leitor
lembrar, por exemplo, das fábulas de Esopo.
Os contos de fadas são excelentes meios de explicar temas morais às
crianças justamente por serem histórias “estereotipadas” em que o mal e o
bem são facilmente distinguidos. Ou, como uma vez disse o famoso
escritor britânico G. K. Chesterton, com muito humor: “os contos de
fadas não servem para informar que dragões existem, mas para mostrar que
podem ser derrotados”.
Em particular, as histórias que foram vetadas imortalizaram formas de
expressar valores fundamentais para a humanidade. Como em Cinderela,
que ressalta que devemos dar mais importância à bondade do que à beleza
física, ou em A Bela Adormecida que mostra a importância do amor na
superação das dificuldades, ou ainda em Chapeuzinho Vermelho, que indica
como o mal pode estar presente em situações fortuitas; e mesmo em
questões mais práticas como a atenção que devemos aos pais etc. Exemplos
como esses ajudam em muito a formação dos valores morais. Por mais que
eventuais imperfeições apareçam em questões secundárias – em relação ao
enredo da obra –, estas não tiram o mérito central das lições valiosas
que os contos dão, tanto para as crianças como para os adultos.
Mas essa não é a primeira vez que obras de literatura e ficção entram
na mira do politicamente correto. O seriado Os Simpsons já foi
considerado xenófobo pela forma como retrata o personagem Apu;
Shakespeare, machista pela peça A megera domada; e até Monteiro Lobato,
racista por conta de algumas cenas envolvendo a Tia Anastácia no Sítio
do Pica-Pau Amarelo.
Todas essas obras podem conter algum detalhe que expresse
preconceitos de época ou de lugar, mas nem por isso deveriam deixar de
serem apreciadas. Nelas são retratados os mais variados aspectos da vida
humana, e certamente o mundo seria menor sem elas. Até mesmo em relação
ao humor por vezes ácido de Os Simpsons.
Desde que uma opinião, ou obra, não seja meramente uma injúria a
determinada pessoa ou grupo, não haveria por que querer eliminá-la.
A tolerância em relação a opiniões desagradáveis ou incômodas é um
dos grandes avanços de nossa sociedade. E é isso que o politicamento
correto acaba por destruir, com sua exacerbação doentia de questões que
têm sua importância e precisam ser discutidas – porém, em seu devido
contexto.
Portanto, não é possível que o legado centenário da educação infantil
através de contos e fábulas seja abandonado porque as personagens das
histórias não se comportam como alguns grupos minoritários gostariam.
É compreensível que alguns grupos queiram, por exemplo, reduzir a
discussão de um ícone da literatura como Shakespeare a questões de
agenda esquerdista, mas seria inaceitável a ideia de suprimi-lo, ou
alterá-lo para que ficasse mais palatável a ideias politicamente
corretas.
A privação das formas de expressão consagradas em literatura seria
uma perda lastimável para a nossa civilização. É preciso um empenho
constante de todos para preservar o legado universal da arte das
investidas de ideologias autoritárias. Senão, corremos o risco de não
ter uma cultura para passar para as próximas gerações.
https://otambosi.blogspot.com/2019/04/a-ameaca-do-politicamente-correto.html
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JORDAN PETERSON denuncia pseudo-moralismo
https://conspiratio3.blogspot.com/2019/03/jordan-peterson-denuncia-pseudo.html
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