Assim, depois do assalto ao Palácio de Inverno, Lenin instalou
no Estado soviético a famigerada Cheka, o órgão repressor que, mais tarde, sob
a tirania de Stalin, ganharia o nome de NKVD e, posteriormente, KGB. Com a
Cheka, que operava de forma clandestina sob o controle de um "jacobino
firme" (Feliz Dzerzhinsky, ex-presidiário, que botava o carrasco de
Stalin, Beria, no chinelo), Lênin criou as bases sólidas para a implantação do
"Terror Vermelho", a devastadora prática bolchevique responsável pela
fome endêmica, fuzilamento, tortura, campos de trabalho forçado, prisões e
morte de milhões de camponeses, operários, soldados, burgueses e, em especial,
dos próprios "camaradas" caídos em desgraça.
Os métodos de tortura da Cheka, aprovados com entusiasmo por
Lenin, ultrapassam o imaginário de qualquer gênio inquisitorial. Um deles,
muito freqüente, o "truque da luva", consistia em mergulhar a mão da
vítima em água fervente, até que estivessem em carne viva e sangrando, quando,
então, os torturadores arrancavam a pele, de preferência inteira, guardando-a
como um troféu; durante os interrogatórios, costumava-se serrar os ossos do
prisioneiro ou, quando não, colocá-los em barricas crivadas de pregos, roladas,
em seguida, de um lado para outro; em outras ocasiões, aquecia-se uma gaiola
cheia de ratos presa ao tronco do condenado; desesperados pela ação do fogo, os
ratos abriam caminho pelas vísceras do suspeito.
Mas Lênin, por conta da implantação do regime comunista na
Rússia e em todo o mundo, não queria apenas se apossar do corpo das vítimas.
Seu objetivo era muito mais ambicioso: queria dominar a alma das pessoas.
Assim, conforme registra Sokolov em White Nights, convocou o fisiologista 1. P.
Pavlov, o homem da teoria do reflexo condicionado, para uma conversa
particular, quando explicou ao cientista que o seu desejo era fazer com que
"as massas sigam o padrão comunista de pensamento e ação", pois,
segundo ele, havia "individualismo demais na Rússia, resquício do passado
burguês", uma "tendência", afirmava, "perniciosa que
interfere nos planos da revolução socialista e que deve ser urgentemente abolida".
(Diante da proposta do ditador, Pavlov, ele próprio vítima do
"Terror Vermelho", indagou petrificado: `O senhor gostaria que eu fizesse
todos se comportarem do mesmo modo?". "Exatamente", respondeu Lênin,
eufórico: `0 homem pode ser corrigido, fazendo-se dele o que se quiser".
Não havia o que duvidar: o infectante revolucionário socialista queria a
robotização da natureza humana para melhor escravizá-la.)
No capítulo destinado à exportação da revolução comunista, que
nos toca de perto, Lenin, assim como o seu auxiliar Leon Trotski, sempre que
podia não vacilava em "agir". Repetia para os comparsas, entre
palavrões cabeludos, com ênfase incontrolada (quem sabe excitado pelo
espiroqueta da sífilis?): "0 melhor é corromper! 0 melhor é
corromper!". E, passando da teoria à prática, contratou os serviços do
notório "camarada Thomas", uma mistura de Zé
Dirceu, Delúbio Soares e Marcos Valério, com livre acesso a milhões em ouro e
jóias saqueados da burguesia e dos cofres públicos para comprar futuros aliados
e propagar o regime comunista em todo o mundo.
LULA, LENIN E 0 OURO DE FIDEL
A eficácia da KGB foi comprovada através dos anos, e sua
modernização atingia o zênite à medida que se ampliavam suas metas e objetivos.
Em várias oportunidades foram realizadas alterações de rumo, mas o escopo final
permanecia intacto. O esforço em obter o maior e o mais detalhado conhecimento
de tudo que se passava nos países fora de sua órbita propiciara à KGB um
rendimento estupendo. Sua criatividade também era notável.
A LAVAGEM CEREBRAL, por exemplo, foi concebida nos anos
cinqüenta, quando seus cientistas descobriram que o método, inédito, estava
fadado ao sucesso. O processo consistia na aplicação direta de técnicas
psicológicas geradoras de fenômenos de pânico, ou seja, inibição, obsessão,
sentimentos de culpa e traição. De acordo com a classificação de Hipócrates dos
quatro tipos humanos, a saber: colérico, sangüíneo, linfático e melancólico,
qualquer lavagem cerebral, para ser minuciosa e completa, tem de levar em
consideração esses tipos. Através do método, torna-se possível,
cientificamente, reformar uma personalidade em todos os sentidos. Lavagem
cerebral não significa exatamente violência física ou processo de hipnotizar o
cérebro por intermédio de drogas. O método consegue inculcar uma forma abstrata
de raciocínio sócio-político em um ser humano sem, entretanto, aniquilar os
elementos psicológicos ocultos que representam a essência da sua criatividade.
O método foi universalizado no decorrer dos conflitos da Coréia
e Vietnã, quando o piloto Joe Danforth tornou-se famoso entre os milhares de
casos análogos. Para desenvolvê-los, a KGB baseou-se na descoberta realizada
pelo renomado cientista soviético Pavlov, que provou ser viável a transformação
— in totum — do comportamento animal. Teleguiado por um
"pesquisador", o prisioneiro era transformado, em apenas três dias,
num robô racional. A lavagem provocava um rompimento brutal do ser como mundo
real. Após quinze dias de isolamento, a vítima revelava indícios de ansiedade.
Aos poucos, sua personalidade começava a desagregar-se. O
"pesquisador" atormentava a vítima seguidamente até provocar-lhe
confusão mental. Seguia-se então uma etapa de soluços infantis até o
prisioneiro cair no chão. Ao acordar, já revelava um grau elevado de debilidade
física. O "pesquisador" responsável pela experiência apresentava-se
como um médico diante de seu doente e não como juiz defronte a um réu. O
prisioneiro, já vencido, via nele uma espécie de salvador. Tinha início uma
conversa sobre a infância, a juventude e a vida adulta do paciente. O
"pesquisador", então, provocava-lhe sonhos, confirmando inteiramente
a teoria dos sonhos descoberta por Freud. Se o prisioneiro ainda resistisse,
uma seringa cheia de insulina ou de escopolamina era capaz de neutralizar
rapidamente os últimos traços de resistência. Ignorando a sua responsabilidade
de homem e sem capacidade de raciocínio, o paciente, desorientado, mergulhava
numa profunda confusão. Ele já estava apto a se sentir culpado, não em
conseqüência da insuportável pressão exercida, mas por causa — e isso é
importante lembrar — de sentimentos reais de culpa. Assim, a lavagem cerebral
atingia seu objetivo, com a vítima passando a fazer confissões e, ao mesmo
tempo, acusando com rancor seu próprio país.
A KGB nunca se preocupou com a escolha dos meios quando visava à
obtenção de seus fins. Além disso, não perdia seu precioso tempo com
futilidades. Para ela, a decifração do enigma da esfinge, por exemplo, não era
mais do que prática banal de criptólogos. O Centro jamais teve dúvidas de que
desvendaria, isto sim, todos os mistérios do universo, descobrindo, inclusive,
a fórmula da vida eterna...
No Congresso dos Sovietes, a 6 de dezembro de 1919, o camarada Lênin
dizia: "O terror e a Tcheka (avó da KGB*) são coisas absolutamente
necessárias. Nossa Tcheka está muito bem organizada". Mais tarde, entre 11
de maio e 16 de junho de 1920, Bertrand Russell manteve uma longa conversação
com Lênin. Suas impressões: "Gradualmente passei a achá-lo algo cruel. É
ditatorial... no desejo de ver sua teoria compreendida e na fúria para com
aqueles que não compreendem ou que com suas idéias não concordem". Russell
caracterizou o comunismo com uma afirmação: "a fonte final de toda a
cadeia de mentiras danosas do bolchevismo reside em seu dogmatismo do ódio, em
sua crença de que a natureza humana pode ser transformada pela força".
Para depositar seu apoio na Nova Política Econômica - NEP, os
camponeses exigiram de Lênin providências contra a polícia secreta que pilhava
as suas colheitas. Queriam proteção contra a apreensão e confisco de seus
ganhos e mercadorias. Pobres camponeses!... Nutriam enorme esperança de que a
famosa Tcheka seria destituída de alguns de seus poderes. Mas ocorreu apenas
uma mudança de nome. A GPU —Administração Política do Estado tornou-se
sucessora da Tcheka. Essa metamorfose consagrou-se no calendário: 6 de
fevereiro de 1922. Entretanto, no dia 1° de março, Lenin escreveu a J. X.
Peters, segundo comandante da GPU: "A Administração Política do Estado
pode e deve enfrentar o suborno, etc., e punir com fuzilamento, de acordo com a
sentença do tribunal. A GPU deve coordenar-se com o Comissariado da Justiça e
com todos os órgãos governamentais" (Louis Fischer, A Vida de Lenin, pág.
818). Nessa época, o Comissariado (ministério) controlava os tribunais, o
Politburo, com a assistência da GPU. A justiça permanecia uma instituição
eminentemente política, como na gestão da Tcheka.
Na época de Lenin, os decretos de Moscou chegavam apenas onde
havia núcleos do partido comunista e unidades da polícia secreta que pudessem
executá-los. Quando os camponeses se recusaram a pagar impostos, a polícia
secreta foi requisitada para agir. Por conseguinte, o terror não parou de
proliferar e foi Lenin seu principal fomentador. Em correspondência dirigida ao
ministro da Justiça, camarada Dimitri Kurski, Lenin disse: "... Estou-lhe
enviando o texto de um parágrafo adicional do Código Criminal. A idéia básica,
espero, está clara. Proclamar abertamente a proposição justa por princípio e
justa politicamente (e não estritamente jurídica), que motiva a essência e a justificativa
do terror, sua necessidade, seus limites. Os tribunais não devem eliminar o
terror; prometer seria enganar a si próprio e aos outros" ( Lenin,
Leninski Sbornik, vol. XXVII, pág. 296).
A vontade inabalável de Lênin de fazer uso racional do terror
vermelho contra inimigos reais ou imaginários serviu para equacionar, a
princípio, problemas políticos, depois econômicos e, por último, sociais ou
culturais. A profunda confiança depositada no terror acabou promovendo a
simbiose entre o partido estatal e a polícia secreta.
Nos primórdios da Glasnost, o ministro-chefe da KGB, Mktor
Chebrikov, citou a justificativa de Lenin para o maciço terror contra os
camponeses. Na cúpula do poder, Lenin advogava, de modo explícito, o uso da
violência e do terror de massa para alcançar seus objetivos. Declarou em sua obra Estado e Revolução que, ao se referir à
democracia, o que desejava significar o termo era "uma organização para o
uso sistemático da força por uma classe contra a outra, por um setor da
população contra o outro".
Em suas Obras Selecionadas, Lenin permaneceu irredutível neste
ponto: "A definição científica da ditadura é um poder não limitado por
quaisquer leis, não atado por quaisquer regras e baseado diretamente na força.
Nós estamos postados a seu lado e não podemos passar sem ela". (...) O
terror fazia parte de cada pronunciamento: "Fuzilamento, no local, de um
em cada grupo de dez considerados culpados de ociosidade". Kalinin, presidente
decorativo do Presidium, e Molotov, ministro do Exterior, chegaram a compilar
listas dos comunistas de primeira linha a serem fuzilados. Ao mesmo tempo, as
vidas de suas mulheres permaneciam dependuradas por um fio na prisão. Lênin não
era capaz de suportar alguém discordando de seu ponto de vista. Mandou prender
Maria Spiridonova, sua leal amiga e uma das mais notáveis figuras do movimento
revolucionário desde o fim do século XIX. Ela faleceu na prisão de frio e fome.
Ipojuca Pontes é cineasta, jornalista, e autor de livros como A Era Lula, Cultura e Desenvolvimento e Politicamente Corretíssimos. Também é conferencista e foi Secretário Nacional da Cultura.
mais:
Os
soviéticos foram sempre os campeões absolutos no recrutamento de
jornalistas. Nos EUA, hoje conhecem-se um por um os nomes daqueles que,
na mídia americana, serviram à KGB e ao GRU (serviço secreto militar).
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TÉCNICAS DE ENGODO E MANIPULAÇÃO
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http://grogdocarlosreis.blogspot.com.br/2013/10/sera-ion-mihai-pacepa-um-agente-triplo.html
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