Acuado, o PT decide acionar a tecla da intolerância, com decreto bolivariano e lista negra de jornalistas
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José Serra escreveu no Estadão de ontem um excelente artigo sobre a decadência do petismo e sua guinada autoritária — dentro do autoritarismo que já está na sua origem. Explica a razão do desarvoramento do partido e aponta como evidências do destrambelhamento o decreto bolivariano da presidente Dilma e a lista negra de jornalistas. Leiam trechos:
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O PT não é um partido muito tolerante já a partir de seus próprios pressupostos originais e de seu nome: quem se pretende um partido “dos” trabalhadores, não “de” trabalhadores, já ambiciona de saída a condição de monopolista de um setor da sociedade. Mais ainda: reivindica o poder de determinar quem pertence, ou não, a essa categoria em particular. Assim, um operário que não vota no PT, por exemplo, não estará, pois, entre “os” trabalhadores; do mesmo modo, o partido tem conferido a “carteirinha” de operário padrão a pessoas que jamais ganharam o sustento com o fruto do próprio trabalho.
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José Serra escreveu no Estadão de ontem um excelente artigo sobre a decadência do petismo e sua guinada autoritária — dentro do autoritarismo que já está na sua origem. Explica a razão do desarvoramento do partido e aponta como evidências do destrambelhamento o decreto bolivariano da presidente Dilma e a lista negra de jornalistas. Leiam trechos:
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O PT não é um partido muito tolerante já a partir de seus próprios pressupostos originais e de seu nome: quem se pretende um partido “dos” trabalhadores, não “de” trabalhadores, já ambiciona de saída a condição de monopolista de um setor da sociedade. Mais ainda: reivindica o poder de determinar quem pertence, ou não, a essa categoria em particular. Assim, um operário que não vota no PT, por exemplo, não estará, pois, entre “os” trabalhadores; do mesmo modo, o partido tem conferido a “carteirinha” de operário padrão a pessoas que jamais ganharam o sustento com o fruto do próprio trabalho.
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A fórmula
petista é conhecida: a máquina partidária suja ou lava reputações a
depender de suas necessidades objetivas. Os chamados bandidos de ontem
podem ser convertidos à condição de heróis e um herói do passado pode
passar a ser tratado como bandido. A única condição para ganhar a bênção
é estabelecer com o ente partidário uma relação de subordinação. A
partir daí não há limites. Foi assim que o PT promoveu o casamento
perverso do patrimonialismo “aggiornado”, traduzido pela elite sindical,
com o patrimonialismo tradicional, de velha extração.
(…)
Não tendo mais auroras a oferecer, não sabendo por que governa nem por que pretende governar o País por mais quatro anos, e percebendo que amplos setores da sociedade desconfiam dessa eterna e falsa luta do “nós” contra “eles”, o petismo começa a adentrar terrenos perigosos. Se a prática não chega a ameaçar a democracia – tomara que não! –, é certo que gera turbulências na trajetória do País. No apagar das luzes deste mandato, a presidente Dilma Rousseff decide regulamentar, por decreto – quando poderia fazê-lo por projeto de lei –, os “conselhos populares”. Não por acaso, bane o Congresso do debate, verticalizando essa participação, num claro mecanismo de substituição da democracia representativa pela democracia direta. Na Constituição elas são complementares, não excludentes. Por incrível que pareça – mas sempre afinado com o bolchevismo sem utopia –, o modelo previsto no Decreto 8.243 procura substituir a democracia dos milhões pela democracia dos poucos milhares – quase sempre atrelados ao partido. É como se o PT pretendesse tomar o lugar da sociedade.
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(…)
Não tendo mais auroras a oferecer, não sabendo por que governa nem por que pretende governar o País por mais quatro anos, e percebendo que amplos setores da sociedade desconfiam dessa eterna e falsa luta do “nós” contra “eles”, o petismo começa a adentrar terrenos perigosos. Se a prática não chega a ameaçar a democracia – tomara que não! –, é certo que gera turbulências na trajetória do País. No apagar das luzes deste mandato, a presidente Dilma Rousseff decide regulamentar, por decreto – quando poderia fazê-lo por projeto de lei –, os “conselhos populares”. Não por acaso, bane o Congresso do debate, verticalizando essa participação, num claro mecanismo de substituição da democracia representativa pela democracia direta. Na Constituição elas são complementares, não excludentes. Por incrível que pareça – mas sempre afinado com o bolchevismo sem utopia –, o modelo previsto no Decreto 8.243 procura substituir a democracia dos milhões pela democracia dos poucos milhares – quase sempre atrelados ao partido. É como se o PT pretendesse tomar o lugar da sociedade.
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Ainda mais
detestável: o partido não se inibe de criar uma lista negra de
jornalistas – na primeira fornada estão Arnaldo Jabor, Augusto Nunes,
Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, Guilherme Fiuza, Danilo Gentili,
Marcelo Madureira, Demétrio Magnoli e Lobão –, satanizando-os e,
evidentemente, expondo-os a riscos. É desnecessário dizer que tenho
diferenças, às vezes severas, com vários deles. Isso é parte do jogo. É
evidente que o regime democrático não comporta listas negras, sejam
feitas pelo Estado, por partidos ou por entidades. Mormente porque, por
mais que se possa discordar do ponto de vista de cada um, em que momento
eles ameaçaram a democracia? Igualmente falsa – porque há evidência dos
fatos – é que sejam tucanos ou “de oposição”. Não são. Mas, e se
fossem? Num país livre não se faz esse tipo de questionamento.
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Acuado
pelos fatos, com receio de perder a eleição, sem oferecer uma resposta
para os graves desafios postos no presente e inexoravelmente contratados
para o futuro, o PT resolveu acionar a tecla da intolerância para
tentar resolver tudo no grito. Cumpre aos defensores da democracia
contrariar essa prática e essa perspectiva. Não foi assim que
construímos um regime de liberdades públicas no Brasil. O PT está
perdendo o eixo e tende a voltar à sua própria natureza.
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Leia a íntegra aqui
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Leia a íntegra aqui
Por Reinaldo Azevedo
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Fome de poder
Se chegarmos ao cerne dos embates
político-ideológicos, teremos dois grupos claros: (I) o dos famintos
pelo poder; e, (II) o dos amantes da liberdade. No final das contas, ao
que parece, essa é a divisão fundamental. Do primeiro grupo, surgem
totalitaristas, ditadores e coletivistas de todos os matizes. Do
segundo, liberais (clássicos), libertários e conservadores. Há, também, o
meio do caminho, normalmente representado pelos socialdemocratas. Mas,
aparentemente, estes últimos vêm se aproximando de liberais nos últimos
tempos, desde que seus “welfare states” começaram a eclodir por toda a
Europa. É uma esperança…
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Qual seria a diferença central entre os
defensores da liberdade e aqueles, que, a todo custo, pretendem
reduzi-la? Defensores das liberdades, de um modo geral, querem um Estado
mínimo, o império das leis, condições para a livre competição no
mercado e meritocracia. Eles acreditam que esta filosofia seja capaz de
expandir as oportunidades para todos, indistintamente.
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Não se trata, portanto, de ser contra
pobres. Não (!), é justamente o contrário. Em um ambiente livre – sem a
influência excessiva de um Estado agigantado e dos famosos “amigos do
rei” – o cidadão terá mais chances de alcançar seus objetivos, sejam
eles quais forem. Alguns podem estar dispostos a gerar mais riquezas,
outros imbuídos de alcançar uma vida mais tranquila. A escolha é uma das
facetas da liberdade. Todavia, a liberdade para perseguir seus
interesses gera consequências e responsabilidades.
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No intuito de distorcer esse pensamento,
os famintos pelo poder apresentam a seguinte lógica: os homens vão
“explorar” uns aos outros, e, assim, o Estado deve intervir de modo a
tornar as relações socialmente mais “justas”. Eles não explicam,
contudo, em que consistiria essa “exploração”; nem, tampouco, como o
Estado faria essa “justiça social”. Pior ainda. Por que razão o Estado e
os governantes seriam tão magnânimos e mais eficientes do que a
colaboração individual de cidadãos livres?
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O primeiro ponto que eles escondem,
avaramente, é que governantes são pessoas que passaram a vida toda
buscando ter poder sobre os demais. Esse fato, ao menos, já os coloca em
posição de dúvida. Por que essas pessoas, após alcançarem o poder,
prefeririam buscar o bem-comum ao invés de perseguir seus próprios
objetivos? Não há qualquer razão. A rigor, prevalece a regra básica:
todos buscam, intrinsecamente, maximizar os seus interesses
particulares. O segundo aspecto, consequência do primeiro, consiste em
um embate: centralizar ou descentralizar?
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A descentralização do poder é elemento
fundamental para o exercício da liberdade. Por ocasião da Revolução
Americana, os “Founding Fathers” entenderam isso muito bem, preservando a
soberania dos estados membros. Daí surgiu um Federalismo real, muito
diferente do que temos por aqui. Lá, cada Estado abriu mão de uma
parcela de sua soberania em prol da União; cá – especialmente após a
Constituição Federal de 1988 (esse texto não permite uma digressão
histórica sobre o Brasil) – a União Federal relegou uma parcela diminuta
de poder para os estados e municípios. Não é preciso conhecimento
jurídico ou político para concluir que diversas questões seriam
definidas de forma mais eficaz no âmbito estadual ou municipal.
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Coletivistas, eminentemente
centralizadores, precisam da concentração do poder para alcançar seus
objetivos. Para tanto, não têm pudor em limitar as liberdades e manter
as rédeas curtas. Como isso é feito? Por que os cidadãos aceitam as
restrições em suas liberdades? Não é difícil responder.
Em grande parte isso é fruto da
complacência e insegurança humanas. Cidadãos tendem a esperar por
“salvadores da pátria” que vão solucionar os seus problemas. Além disso,
é mais fácil colocar a culpa no coletivo do que assumir sua própria
responsabilidade ou inércia. Totalitaristas, portanto, se alimentam da
insegurança dos indivíduos e do “medo de perder”.
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Após conquistar certas coisas, o
indivíduo é tomado por um verdadeiro pavor de perder. Esse quadro faz
com que ele se esqueça dos fundamentos que lhe permitiram alcançar seus
objetivos. Assim, ele não se incomoda com a supressão de liberdades,
desde que suas “posses” sejam aparentemente preservadas. O raciocínio é
ilusório. Nada vai garantir a manutenção das conquistas, muito menos um
Estado superpoderoso. Aliás, é muito provável que esse ente usurpe os
“cofrinhos” dos indivíduos. Então, sem as liberdades de outrora, como
reconstruir o seu “castelo”?
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Defender a liberdade, portanto, é
resultado do desapego, da autoconfiança e da consciência de que as
soluções não vêm “de cima para baixo”. A colaboração individual é o
elemento fundamental para uma sociedade próspera. Todavia, ela não é
criada por decreto, mas, sim, de forma espontânea em um ambiente livre
com baixos índices de regulamentação.
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O sonho de um totalitarista é uma caneta
poderosa com uma pilha de papel para ele legislar sobre tudo, conduzindo
a sociedade por sua pena. O sonho dos amigos da liberdade, ao seu
turno, consiste em diversas canetas e papéis distribuídos por todos em
prol da criação e colaboração, bastando, apenas, um conjunto de regras
comum aos cidadãos, com instituições sérias e firmes. Sejam
protagonistas de seus próprios destinos, ao invés de coadjuvantes dos
famintos pelo poder.
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