O inverno brasileiro na agenda revolucionária
| 16 Maio 2014
Artigos - Governo do PT
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Alguns
meses depois das manifestações de junho de 2013, chamadas pelos
organizadores de “Jornadas de Junho”, uma reunião em Brasília com os
principais grupos envolvidos propunha o aprofundamento da revolução em
marcha através de um maior trabalho de base com o fim de manter os
“núcleos populares” mobilizados. Essa mobilização com o trabalho de base
já tinha o objetivo declarado de dar continuidade aos movimentos
iniciados em 2013 também durante a Copa de 2014.
As “Jornadas de Junho”
O principal agente do estopim dos protestos de 2013 foi o Fora do Eixo, um coletivo de movimentos sociais reivindicadores de investimentos e financiamentos culturais, com claros vínculos como Ministério da Cultura, de onde provinham uma parcela importante do apoio financeiro e até logístico daquela onda de protestos, algo que ficou evidente. Tão logo os movimentos tomaram corpo, a presidente Dilma se viu chamada a dar uma resposta. Chegou a se falar em convocação de uma Assembleia Constituinte, o que foi afastado de imediato diante da obviedade do exagero da proposta. No entanto, a expressão da reforma política como solução saiu fortalecida destes episódios e a proeminência de partidos de esquerda ficou evidente. Surgiram à cena política os Black Blocs, outro coletivo de inspiração internacional historicamente ligado a protestos financiados internacionalmente. A presença do Annonymous e outros grupos de ativistas ligados aos grandes grupos internacionais por trás de eventos de Wall Street e da Primavera Árabe, ficou evidente.
O Rolezinho
Já no início de 2014, ano da Copa, o Brasil viu surgir um novo fenômeno social midiático: o rolezinho dos shoppings. Desta vez, um pouco afastada da ideia do suposto lobby cultural do Fora do Eixo, o rolezinho foi apresentado pela mídia como a manifestação autêntica da consciência da periferia urbana, aliando a cultura do hip-hop às reclamações da marginalização vindas diretamente do povo. O que evidentemente era um resultado do trabalho de base, isto é, assimilação de ideias revolucionárias pelas comunidades populares, trouxe de volta os Black blocs e o que se seguiu foi um pequeno retorno de manifestações. A morte do cinegrafista da Band nos protestos parece não ter sido suficiente para que a mídia percebesse o quanto estava sendo utilizada como trampolim revolucionário. Talvez a divulgação do episódio dos militantes pagos pelo PSOL fosse uma tímida revanche midiática como quem dá um alerta aos militantes. A parceria entre mídia e essa militância de base seguiu-se independente disso. A Mídia Ninja, ramificação do Fora do Eixo, cresceu dentro deste processo e se fortaleceu como força integradora e manipuladora de diversas comunidades. O objetivo é deixar tudo pronto para a mobilização total.
A Copa do Povo
Às portas da Copa do Mundo, as notícias sobre a violência e os atrasos das obras da Copa alcançaram a mídia internacional, o que gerou um efeito de pautas negativas ao Brasil. Ameaças de greve acumulam-se pelo país e efetivam-se. Resultado do trabalho de base. O governo parece em maus lençóis, pois há uma parcela dos movimentos que querem forçar mudanças revolucionárias, mas sem descartar a retirada, se necessário, do atual aparato de poder do qual o PT faz parte. Mas a solução para isso já está a caminho.
No
cenário midiático, esfera da opinião pública, o Fora do Eixo esteve
ausente desde o ano passado. Mas sua atuação tem sido chave para a
mobilização gradativa que vem ocorrendo e prometendo a todos um
verdadeiro banquete revolucionário. Na fachada, falam em uma “nova
democracia” e até “nova república”. O coletivo tem preparado uma tomada
de posição importante nos próximos dias e os objetivos não são modestos.
Diz uma matéria já em 2011 sobre o Fora do Eixo:
“Para
o Fora do Eixo a cultura é apenas um pretexto e, atualmente, passaram a
buscar meios para chegar na política. Segundo Capilé, o coletivo
conseguiu nesses 5 anos 'musculatura e capilaridade nacional'...”
Em
entrevista recente para a coletânea “Produção Cultural no Brasil”,
Pablo Capilé responde o que pretendem na política formal: “Pretendemos
criar um ambiente favorável para que daqui há trinta anos o presidente
da República possa sair de uma perspectiva ligada a isso que nós estamos
construindo. Há trinta anos, ele saiu do sindicato, então podemos
tentar criar uma plataforma onde a cultura consiga ganhar mais espaço na
agenda.”
De acordo com as informações do blog de uma participante que se desiludiu com os métodos e organização do Fora do Eixo (http://dapenny.net/2014/05/a-republica-do-fora-do-eixo/),
embora o coletivo se orgulhe de suas decisões em assembléias populares,
tudo vem decidido de cima e apenas comunicado aos membros em uma
verdadeira encenação de deliberação coletiva. A ativista se decepcionou
com o Fora do Eixo porque eles não querem fazer protestos. Segundo ela, o
objetivo deste grupo é politizar os protestos levando-os para o lado do
governo.
“Vão
conquistar corações e mentes dos jovens que ao invés de ir se
manifestar, vão passar a Copa do Mundo acampados ali acreditando que
estão fazendo a revolução. Vão acalmar os ânimos daqueles que estariam
se manifestando. Vão propor atos despolitizados por causas abstratas
como liberdade, paz, contra a corrupção, amor, etc. e, sutilmente, nas
conversas de corredor, vão fazer campanha pra Dilma”, diz a blogueira que parece ainda sonhar com utópicos protestos sociais vindos do povo livre de manipulações.
Agora,
o Fora do Eixo promete fazer uma “ocupação”, criar uma “república”, um
lugar de debates populares. Diz Capilé em entrevista à Zero Hora sobre o
trabalho que eles vêm fazendo:
“a gente tem trabalhado para conectar movimentos que já desenvolvem uma vida comunitária há muito tempo. Indígenas, povos de terreiro, movimentos rurais e urbanos que têm trabalhado de forma comunitária e têm trabalhado para que essa comunidade consiga discutir com o resto da sociedade”.
“a gente tem trabalhado para conectar movimentos que já desenvolvem uma vida comunitária há muito tempo. Indígenas, povos de terreiro, movimentos rurais e urbanos que têm trabalhado de forma comunitária e têm trabalhado para que essa comunidade consiga discutir com o resto da sociedade”.
Agenda global e Foro de São Paulo
Por trás dos movimentos populares no Brasil, está um grosso financiamento internacional de fundações como a Fundação Ford, que de acordo com dados atualizados, despeja investimentos anuais em uma incrível quantidade de instituições e ONGs brasileiras para promover a justiça social e a mobilização nas periferias (http://www.fordfoundation.org/regions/brazil/grant-making)
O
presidente do MST, João Pedro Stédile, em palestra em Roma no início de
2014, disse que os movimentos sociais no Brasil trabalham em duas
frentes específicas: incentivar todas as manifestações populares
possíveis e fazer a conscientização para propor, até setembro de 2014, a
tão sonhada reforma política, evidentemente nos moldes revolucionários
do Foro de São Paulo. Atualmente há duas reformas políticas sendo
discutidas. Segundo são chamadas pelos militantes, há a “reforma
política antidemocrática” e a “reforma política popular democrática”,
sendo esta última a preferida e defendida por eles.
Em
vários países latino-americanos já está havendo discussões de propostas
de novas constituições. No Brasil, embora a menção feita por Dilma
tenha sido descartada, já está entre as metas revolucionárias do Foro de
São Paulo, e portanto é só uma questão de tempo, ou seja, de tempo para
a assimilação da ideia, ou melhor, da necessidade da ideia. Isso não
pode ser feito sem a ajuda da mídia e é por isso que importa, neste
processo, a eficiente construção da imagem dos protestos. Suas
reivindicações precisam ser encaradas pela população como legítimas e os
problemas para os quais buscam soluções, parecerem também verdadeiros.
Se
tudo der errado, porém, os globalistas fabianos que financiam a
brincadeira toda estarão de braços estendidos para ajudar o governo do
PT a permanecer no poder e continuar com o lento processo revolucionário
com o qual estão comprometidos ao mesmo tempo. São dois grandes
comprometimentos do Brasil, com o Foro (de onde vem a ideologia) e com
os globalistas ocidentais (de onde vem o dinheiro), com os quais o
governo terá de se entender se quiser permanecer no poder.
Cristian Derosa é mestre em jornalismo pela UFSC e editor na Rádio Vox.
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