Miguel Otero, dono do último jornal de oposição da Venezuela: “O Brasil está caminhando rumo ao populismo autoritário, cujos líderes querem perpetuar-se no poder”
Gabriel Osorio/Archivolatino)
“BOLSA HOJE, FOME AMANHÔ
O jornalista venezuelano vê nos planos de controle da
imprensa no Brasil o mesmo padrão do chavismo e diz que manter os pobres
dependentes é ruinoso, mas essencial ao populismo
Entrevista a Nathalia Watkins publicada em edição impressa de VEJA
O jornal venezuelano El Nacional é o
último de alcance literalmente nacional a resistir à repressão do
governo de Nicolás Maduro. Sem autorização para comprar bobinas de
papel, o jeito foi reduzir o número de páginas e contar com a
solidariedade de jornais estrangeiros. A matéria-prima, contudo, acaba
no fim do ano e o diário corre o risco de fechar.
Seu proprietário e editor, Miguel Henrique
Otero, de 67 anos, resiste bravamente. O estrangulamento imposto pelo
chavismo por meio da restrição à compra de papel e de ações judiciais
derrubou a tiragem dominical do jornal, fundado pelo avô de Otero em
1943, de 250 000 para 100 000 exemplares. Otero comanda a publicação
desde 1988. Se tiver de fechar as portas, será o golpe final na
liberdade de expressão no país.
O senhor vê semelhanças entre os caminhos trilhados pelo governo petista no Brasil e pelo chavismo na Venezuela?
Sim. O Brasil está seguindo a tendência de uma
parcela da América Latina de caminhar em direção ao populismo
autoritário. Esse modelo começa confrontando o setor privado e logo
passa a transbordar rumo à liberdade de expressão e aos direitos
humanos.
O populismo autoritário também tem como
característica a intenção dos seus líderes de perpetuar-se no poder.
Para isso, eles modificam as leis, de preferência a Constituição como um
todo, para evitar a alternância de poder. Na Venezuela, por exemplo,
Chávez acabou com o limite de mandatos para presidente.
Outra forma de conseguir isso é garantir o
apoio popular, o que é obtido com políticas que distribuem à população
comida e dinheiro. O problema é que essa política não gera riqueza. Com
os benefícios, o povo pode até momentaneamente acreditar que sua
condição melhorou, mas o fato é que permanecerá pobre, porque não terá
boas opções de emprego e a economia ficará estagnada.
Nas estatísticas, eles deixam de ser
considerados pobres porque recebem salário ou ajuda financeira
adicional, mas a longo prazo a ascensão social é nula. É o que na
Venezuela chamamos de “comida hoje, fome amanhã“.
Para esses governantes, manter a população na pobreza é importante
porque isso lhes garante a sustentação política de que precisam.
No Brasil, essa lógica ficou muito clara. No Norte, onde estão muitos dos beneficiários do Bolsa Família,
o apoio ao governo é forte. No Sul, onde há uma classe média em
expansão e a economia é mais produtiva, as pes- soas votaram no
candidato da oposição. Fica claro que grande parte da população
brasileira está condenada a ser mantida na pobreza, no que poderiam
chamar de “bolsa hoje, fome amanhã“.
Qual é a origem desse modelo populista e autoritário?
Sem dúvida, a inspiração é o ex-presidente
venezuelano Hugo Chávez. Mas ele não veio do nada. Chávez é uma criação
do Foro de São Paulo (o encontro de partidos e organizações de esquerda
da América Latina que surgiu em 1990 de uma conversa entre o
ex-presidente Lula e o ditador cubano Fidel Castro). No fundo, é a
ideologia castrista de supressão das liberdades individuais não mais
pela revolução armada, mas por eleições.
Pode parecer legítimo, mas não é. Quando estão
na iminência de perder o pleito, eles trapaceiam, violam os resultados e
exigem reformas políticas boas apenas para eles. São persistentes. Na
reforma constitucional tentada por Chávez em 2007, o presidente perdeu,
mas logo conseguiu o que queria de outra forma (em 2009, Chávez fez
aprovar a reeleição indefinida, que havia sido rejeitada antes, em
referendo).
O uso da democracia para acabar com a
democracia foi a estratégia comum dos populistas na Venezuela,
Nicarágua, Equador, Bolívia e Argentina.
Por essa lógica, quais seriam, a seu ver, os próximos passos do populismo no Brasil?
Provavelmente, dentro de quatro anos, o Brasil
mudará a Constituição para permitir a reeleição de Dilma Rousseff, que
usará a ameaça da volta de Lula para conseguir o que pretende. A
perpetuação no poder é parte integrante do modelo populista totalitário,
mesmo que isso não possa ser feito descaradamente.
Cristina Kirchner, na Argentina, não teve como
disputar uma terceira eleição, mas o poder, que já foi do marido,
Néstor, se depender dela, será passado ao filho, Máximo Kirchner. O
Brasil, por ser um país continental, talvez pareça mais resistente ao
populismo autoritário, mas o que se constata no seu país não é nada
animador.
Quais são as características comuns aos governos que, a exemplo da Venezuela, namoram com o modelo do populismo totalitário?
A principal é reprimir a liberdade de
expressão. Esses regimes simplesmente não podem sobreviver com imprensa
livre. A verdade é tóxica para eles. Na
Venezuela, a prioridade do governo de ter a hegemonia na comunicação
social foi explicitada no Plano da Pátria, programa de governo de 2012
de Hugo Chávez. O objetivo do governo é ter o controle total da
informação. O máximo que esses governos admitem de um órgão de
informação é a neutralidade. Fazer críticas ou ter opinião diferente da
oficial está fora de cogitação.
O que o senhor entende por “neutro”?
Vou usar um exemplo. Uma rádio no interior do
país tinha programas com a participação dos ouvintes, por telefone. O
povo ligava e dava livremente a opinião contra ou a favor do governo.
Era um costume muito tradicional nessa rádio. Hoje,
essa estação eliminou todos os programas de opinião. Não há mais a
participação dos ouvintes. Só toca música. Foi neutralizada.
A censura foi sempre assim com Chávez ou foi recrudescendo aos poucos?
Eles são persistentes, podem até recuar quando
sentem que estão mais fracos, mas a marcha rumo à supressão da
liberdade de expressão continua sempre.
Na Venezuela, o processo começou há quinze
anos. Em 2004, veio a Lei de Responsabilidade de Rádio e TV, conhecida
como Lei Resorte, que permitiu a Chávez fechar estações de rádio e
televisão que não obedeciam à linha oficial. Aos poucos, o espectro de
rádio e televisão foi quase todo ocupado com programas de Chávez em
cadeia nacional, pregações intermináveis, em que ele se dedicava a
ameaçar, insultar adversários e inculcar sua visão de mundo nos ouvintes
e telespectadores.
A fase seguinte foi aparelhar os tribunais de
modo a facilitar o silenciamento das vozes críticas, pois isso implica
criar e aplicar leis de censura que violam a Constituição. No Equador e
na Bolívia, o processo segue o mesmo padrão da Venezuela.
No Brasil, para violar o preceito
constitucional da liberdade de expressão, também foi preciso que um
ministro do Tribunal Eleitoral impedisse um veículo de comunicação de
fazer publicidade da edição e ainda o obrigasse a publicar um direito de
resposta no seu site.
O El Nacional já passou por semelhante violência?
Cada vez que revelamos corrupção ou algum
desastre administrativo, a tática é tentar nos desqualificar. O governo
nem se preocupa mais em nos desmentir ou negar a acusação.
Vocês sofrem muitas ameaças de processo?
Sim, e nunca sabemos se as ameaças serão
cumpridas ou não. De qualquer forma, é algo que visa a assustar os
jornalistas e produzir uma autocensura inconsciente. Eles nos acusam de
terrorismo e de sermos inimigos do povo. Esse modo de agir foi
implantado aqui pelos cubanos. Eles doutrinaram o governo daqui a
considerar qualquer revelação de fatos que desmintam as versões oficiais
como sendo fruto da agressão imperialista e como tendo o objetivo de
destruir o país.
Pelo que o senhor conhece da realidade brasileira, vamos pelo mesmo caminho?
No Brasil, o aparelhamento das instituições,
embora evidente, ainda não é total como na Venezuela. Aqui, todos os
burocratas com algum poder são obrigatoriamente membros do partido do
governo. Ninguém esconde isso. Tudo é feito de forma descarada. Os
membros do Supremo Tribunal de Justiça foram escolhidos por Hugo Chávez
e, depois, por Nicolás Maduro, e obedecem cegamente aos desígnios do
governo.
Além dos meios institucionais, como as leis e os tribunais, como se dá o controle da imprensa na Venezuela?
O ataque direto a jornalistas tem aumentado.
Somente neste ano foram registradas 160 agressões. Muitos preferiram
deixar o país. Entre os que ficaram, a autocensura virou regra. Ninguém
se atreve a dizer nada, porque o governo pode cair em cima a qualquer
hora. A opção que resta é silenciar-se.
Outra ferramenta usada é a compra de meios de comunicação privados com dinheiro público. Ocorreu isso com Últimas Notícias, uma cadeia de rádio, jornal e internet muito grande, e com o jornal El Universal. Isso muitas vezes é feito sem que a identidade dos novos donos seja divulgada. Mas todos sabem que o dinheiro é do governo.
Finalmente, há o estrangulamento pela falta de
papel de imprensa. Em primeiro lugar, o governo não autoriza a venda de
dólares para que possamos importar papel e imprimir as páginas. Há um
ano e meio temos usado o que tínhamos no nosso estoque. Cortamos
suplementos. Hoje, saímos com
dezesseis páginas. Há um ano, eram 48. O jornal nunca foi tão pequeno.
Depois, passamos a contar com a solidariedade de jornais da América
Latina que nos emprestam bobinas.
Não há saídas legais para escapar dessas barreiras?
Como o câmbio é controlado, as empresas
precisam solicitar a compra de dólares ao governo para importar
matéria-prima. Se eles não dão os dólares, não se pode importar nada.
Durante muitos anos essa permissão para comprar moeda estrangeira
funcionou. Fazíamos a solicitação ao governo, que nos autorizava os
dólares, e nós importávamos o papel-jornal.
Há dezoito meses, eles pararam de atender às
nossas solicitações e começamos a protestar publicamente. Disseram que o
país havia entrado em crise e que o papel não era tão prioritário na
lista de importações. Depois, foi inventada uma importadora de papel,
que nada mais é do que uma gráfica que imprime dois jornais do governo.
Eles têm montanhas de bobinas, compram de fora tudo o que têm vontade, e
as utilizam para imprimir seus jornais chapa-branca e para fornecer a
veículos alinhados ao governo.
Maduro ganhou as últimas eleições com
uma diferença de apenas 1,5 ponto porcentual. Essa vitória por raspão
fez com que ele se tornasse ainda mais controlador da imprensa?
Claro que sim. Chávez era carismático e podia
justificar suas atitudes com explicações variadas, que funcionavam.
Maduro não tem a mesma força para responsabilizar os outros pelos seus
erros. Os venezuelanos não acreditam nele, nem nos seus argumentos. Nem
seus partidários gostam dele.
Assim como em todos os regimes autoritários,
Maduro precisa de uma imprensa complacente. Ele sabe que, ao contrário
de Chávez, não conseguirá se esquivar das denúncias e das críticas. Sem
imprensa livre, o regime se torna opaco, com maior capacidade de enganar
os cidadãos permanentemente. Uma das consequências mais deletérias é
que a corrupção e a impunidade se tornam espantosas. Sem imprensa livre,
o governo pode desrespeitar os direitos humanos mais elementares sem
que isso traga qualquer dano a sua imagem.
O governo de Caracas é abusivo?
Pergunte ao oposicionista Leopoldo López. Ele foi preso sem provas,
acusado de fomentar um incêndio em San Cristóbal. As testemunhas foram
unânimes em afirmar perante o juiz que López não tinha nada a ver com o
incêndio. A outra acusação a López foi ainda mais absurda e kafkiana. O
governo recorreu a um especialista em semiótica, membro do partido
chavista, que “provou” que Leopoldo López incitou a violência e o
terror, mesmo não tendo recorrido a nenhuma expressão violenta. O
advogado de defesa quis levar seu próprio especialista em semiótica com
uma análise favorável a López. O juiz não permitiu.
Se o Brasil continuar no mesmo rumo, logo coisas semelhantes poderão acontecer por aí.
***
BOLSAS-ESMOLA E ARMADILHAS. OU COMO SE CAPTURAM PORCOS SELVAGENS
http://conspiratio3.blogspot.com.br/2013/12/bolsa-esmola-e-armadilhas-ou-como-se.html
MIGUEL HENRIQUE OTERO
http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/tags/miguel-henrique-otero/
MIGUEL HENRIQUE OTERO
http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/tags/miguel-henrique-otero/
A fraude do populismo continental
http://www.olavodecarvalho.org/semana/060731dc.html
Em uma entrevista para o jornal francês, Le Monde, Lula repetiu as mesmas palavras de Marco Aurélio Garcia , dizendo que "a democracia é só uma farsa para tomar o poder".
http://www.averdadesufocada.com/index.php/vale-a-pena-ler-de-novo-especial-86/2206-1108-quem--marco-aurlio-Garcia
O REINO DO SUBJETIVISMO - OLAVO DE CARVALHO - RELAÇÕES DE PODER PREDOMINAM SOBRE A RELAÇÃO COM A REALIDADE http://conspiratio3.blogspot.com.br/2015/10/comunismo-o-reino-do-subjetivismo-olavo.html
*
MASSAS DE MANOBRA, IDIOTAS ÚTEIS E PSICOPATETAS FAZEM O CAOS E A REVOLUÇÃO SEM QUERER, PARA OS PSICOPATAS - O GOLPISMO DE ESQUERDA
http://conspiratio3.blogspot.com.br/2015/09/massas-de-manobra-idiotas-uteis-e.html
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O PRIMEIRO EXPERIMENTO SOCIALISTA
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ESTRATÉGIA CLOWARD-PIVEN - PLANO PARA DERRUBAR UM PAÍS PELA ECONOMIA
https://youtu.be/EmFDcRfTfTU
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BOLSAS-ESMOLA E ARMADILHAS. OU COMO SE CAPTURAM PORCOS SELVAGENS
http://conspiratio3.blogspot.com.br/2013/12/bolsa-esmola-e-armadilhas-ou-como-se.html
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Populismo autoritário: projeto de transformar Brasil em Venezuela segue cursohttp://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/democracia/populismo-autoritario-projeto-de-transformar-brasil-em-venezuela-segue-curso/
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“BOLSA HOJE, FOME AMANHÔ
http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/vasto-mundo/miguel-otero-dono-do-ultimo-jornal-de-oposicao-da-venezuela-o-brasil-esta-caminhando-rumo-ao-populismo-autoritario-cujos-lideres-querem-perpetuar-se-no-poder
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