PHVOX - Olavo de Carvalho: O futuro que a Rússia nos promete
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OLAVO DE CARVALHO - As menções freqüentes da mídia ocidental à "máfia russa" só servem para
encobrir dois fatos que os estudiosos da
área conhecem perfeitamente bem:
1) A máfia russa é o próprio governo
russo, e não outra coisa, e o governo
russo é a KGB e nada mais.
2) Desde o começo da década de 90
não há mais máfias nacionais em competição sangrenta, mas uma aprazível
divisão de trabalho entre organizações
criminosas de todos os países, uma autêntica "pax mafiosa" que, por meio do
narcotráfico, do contrabando de armas,
da indústria dos seqüestros etc., gerou
um poder econômico mundial sem similares ou concorrentes imagináveis. https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1804200509.htm
O prof. Alexandre Duguin, à testa da elite intelectual russa
que hoje molda a política internacional do governo Putin, diz
que o grande plano da sua nação é restaurar o sentido
hierárquico dos valores espirituais que a modernidade soterrou.
Para pessoas de mentalidade religiosa, chocadas com a vulgaridade brutal
da vida moderna, a proposta pode soar bem atraente. Só que a
realização da idéia passa por duas etapas. Primeiro
é preciso destruir o Ocidente, pai de todos os males, mediante
uma guerra mundial, fatalmente mais devastadora que as duas anteriores.
Depois será instaurado o Império Mundial Eurasiano sob
a liderança da Santa Mãe Rússia.
Quanto ao primeiro tópico: a “salvação pela
destruição” é um dos chavões mais
constantes do discurso revolucionário. A Revolução
Francesa prometeu salvar a França pela destruição
do Antigo Regime: trouxe-a de queda em queda até à condição
de potência de segunda classe. A Revolução Mexicana
prometeu salvar o México pela destruição da Igreja
Católica: transformou-o num fornecedor de drogas para o mundo
e de miseráveis para a assistência social americana. A
Revolução Russa prometeu salvar a Rússia pela destruição
do capitalismo: transformou-a num cemitério. A Revolução
Chinesa prometeu salvar a China pela destruição da cultura
burguesa: transformou-a num matadouro. A Revolução Cubana
prometeu salvar Cuba pela destruição dos usurpadores imperialistas:
transformou-a numa prisão de mendigos. Os positivistas brasileiros
prometeram salvar o Brasil mediante a destruição da monarquia:
acabaram com a única democracia que havia no continente e jogaram
o país numa sucessão de golpes e ditaduras que só
acabou em 1988 para dar lugar a uma ditadura modernizada com outro nome.
Agora o prof. Duguin promete salvar o mundo pela destruição
do Ocidente. Sinceramente, prefiro não saber o que vem depois.
A mentalidade revolucionária, com suas promessas auto-adiáveis,
tão prontas a se transformar nas suas contrárias com a
cara mais inocente do mundo, é o maior flagelo que já
se abateu sobre a humanidade. Suas vítimas, de 1789 até
hoje, não estão abaixo de trezentos milhões de
pessoas – mais que todas as epidemias, catástrofes naturais
e guerras entre nações mataram desde o início dos
tempos. A essência do seu discurso, como creio já ter demonstrado,
é a inversão do sentido do tempo: inventar um futuro e
reinterpretar à luz dele, como se fosse premissa certa e arquiprovada,
o presente e o passado. Inverter o processo normal do conhecimento,
passando a entender o conhecido pelo desconhecido, o certo pelo duvidoso,
o categórico pelo hipotético. É a falsificação
estrutural, sistemática, obsediante, hipnótica. O prof.
Duguin propõe o Império Eurasiano e reconstrói
toda a história do mundo como se fosse a longa preparação
para o advento dessa coisa linda. É um revolucionário
como outro qualquer. Apenas, imensamente mais pretensioso.
Quanto ao Império Mundial Eurasiano, com um pólo oriental
sustentado nos países islâmicos, no Japão e na China,
e um pólo ocidental no eixo Paris-Berlim-Moscou, não é
de maneira alguma uma idéia nova. Stalin acalentou esse projeto
e fez tudo o que podia para realizá-lo, só fracassando
porque não conseguiu, em tempo, criar uma frota marítima
com as dimensões requeridas para realizá-lo. Ele errou
no timing: dizia que os EUA não passariam dos anos 80.
Quem não passou foi a URSS.
Como o prof. Duguin adorna o projeto com o apelo aos valores espirituais
e religiosos, em lugar do internacionalismo proletário que legitimava
as ambições de Stálin, parece lógico admitir
que a nova versão do projeto imperial russo é algo como
um stalinismo de direita.
Mas a coisa mais óbvia no governo russo é que seus ocupantes
são os mesmos que dominavam o país no tempo do comunismo.
Substancialmente, é o pessoal da KGB (ou FSB, que a mudança
periódica de nomes jamais mudou a natureza dessa instituição).
Pior ainda, é a KGB com poder brutalmente ampliado: de um lado,
se no regime comunista havia um agente da polícia secreta para
cada 400 cidadãos, hoje há um para cada 200, caracterizando
a Rússia, inconfundivelmente, como Estado policial; de outro,
o rateio das propriedades estatais entre agentes e colaboradores da
polícia política, que se transformaram da noite para o
dia em “oligarcas” sem perder seus vínculos de submissão
à KGB, concede a esta entidade o privilégio de atuar no
Ocidente, sob camadas e camadas de disfarces, com uma liberdade de movimentos
que seria impensável no tempo de Stalin ou de Kruschev.
Ideologicamente, o eurasismo é diferente do comunismo. Mas ideologia,
como definia o próprio Karl Marx, é apenas um “vestido
de idéias” a encobrir um esquema de poder. O esquema de
poder na Rússia trocou de vestido, mas continua o mesmo –
com as mesmas pessoas nos mesmos lugares, exercendo as mesmas funções,
com as mesmas ambições totalitárias de sempre.
O Império Eurasiano promete-nos uma guerra mundial e, como
resultado dela, uma ditadura global. Alguns de seus adeptos chegam a
chamá-lo “o Império do Fim”, uma evocação
claramente apocalíptica. Só esquecem de observar que o
último império antes do Juízo Final não
será outra coisa senão o Império do Anticristo.
"O socialismo consiste na promessa de obter um resultado pelos meios que produzem necessariamente o resultado inverso." (Olavo de Carvalho)
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OLAVO DE CARVALHO - "Ideológicamente o eurasismo é diferente do
comunismo, mas, como definiu Karl Marx, ideologia é um vestido de idéias
a encobrir um esquema de poder. O esquema de poder na Rússia trocou de
vestido, mas continua o mesmo." https://youtu.be/ZpjwJ_jRpMo?t=3483
A
direita depende da verdade e a verdade depende da direita. Se não
fizermos nada por ela, a mentira e a censura nos transformarão na
esquerda totalitária que tanto nos horroriza.
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"Quando se deixa de acreditar em Deus, passa-se a acreditar em qualquer coisa." G. K. Chesterton
RELATIVIZAR A VERDADE, ABSOLUTIZA A OPINIÃO. E aqueles que relativizam a verdade querem sua voz absolutizada.
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