Referência: "ORIGENS DO TOTALITARISMO" - Hannah Arendt
A afirmação monstruosa e, no entanto, aparentemente irrespondível do
governo totalitário é que, longe de ser “ilegal”, recorre à fonte de
autoridade da qual as leis positivas recebem a sua legitimidade; que,
longe de ser arbitrário, é mais obediente a essas forças sobre-humanas
que qualquer governo jamais o foi; e que, longe de exercer o seu poder
no interesse de um só homem, está perfeitamente disposto a sacrificar os
interesses vitais e imediatos de todos à execução do que supõe ser a
lei da História (comunismo) ou a lei da Natureza (nazismo). O seu
desafio às leis positivas pretende ser uma forma superior de
legitimidade que, por inspirar-se nas próprias fontes, pode dispensar
legalidades menores.
A política totalitária afirma transformar a espécie humana em portadora
ativa e inquebrantável de uma lei à qual os seres humanos somente
passiva e relutantemente se submeteriam. Se é verdade que os monstruosos
crimes dos regimes totalitários destruíram o elo entre os países
totalitários e o mundo civilizado, também é verdade que esses crimes não
foram consequência de simples agressividade, crueldade, guerra e
traição, mas do rompimento consciente com aquele consensus iuris
(Consensus Juris - união do povo pelo consentimento das regras e do
direito), e que, como lei internacional, tem constituído o mundo
civilizado nos tempos modernos, na medida em que se mantém como pedra
fundamental das relações internacionais, mesmo em tempos de guerra.
Tanto o julgamento moral como a punição legal pressupõem esse
consentimento básico.
A essa altura, torna-se clara a diferença fundamental entre o conceito
totalitário de lei e os outros conceitos. A política totalitária não
substitui um conjunto de leis por outro, não estabelece o seu próprio
consensus iuris, não cria, através de uma revolução, uma nova forma de
legalidade. O seu desafio a todas as leis positivas, inclusive às que
ela mesma formula, implica a CRENÇA de que pode dispensar qualquer
consensus porque promete libertar o cumprimento da lei de todo ato ou
desejo humano; e promete a justiça na terra porque afirma tornar a
humanidade a encarnação da lei.
DARWIN E MARX
A Natureza ou a Divindade, como fonte de autoridade para as leis
positivas, eram tidas como permanentes e eternas e destinam-se
primariamente a funcionar como elementos estabilizadores para os
movimentos do homem, que são eternamente mutáveis. Mas na interpretação
do totalitarismo, todas as leis se tornam leis de movimento porque a
natureza, para os nazistas, e a história, para os bolchevistas, não são
princípios estabilizadores mas de evolução e movimento. Sob a crença
nazista em leis raciais como expressão da lei da natureza, está a ideia
de Darwin do homem como produto de uma evolução natural que não termina
necessariamente na espécie atual de seres humanos, da mesma forma como,
sob a crença bolchevista numa luta de classes como expressão da lei da
história, está a noção de Marx da sociedade como produto de um
gigantesco movimento histórico que se dirige, segundo a sua própria lei
de dinâmica, para o fim dos tempos históricos, quando então se
extinguirá a si mesmo.
Para Engels, o maior cumprimento à obra erudita de Marx era chamá-lo de
“Darwin da história”. Se considerarmos não a obra propriamente dita, mas
as filosofias básicas de ambos, verificaremos que, afinal, o movimento
da história e o movimento da natureza são um só. O fato de Darwin haver
introduzido o conceito de evolução na natureza, sua insistência em que,
pelo menos no terreno da biologia, o movimento natural não é circular,
mas unilinear, numa direção que progride infinitamente, significa de
fato que a natureza está, por assim dizer, sendo assimilada à história,
que a vida natural deve ser vista como histórica. A lei “natural” da
sobrevivência dos mais aptos é lei tão histórica— e pôde ser usada como
tal pelo racismo — quanto a lei de Marx da sobrevivência da classe mais
progressista.
A tremenda mudança intelectual que ocorreu em meados do século xix
consistiu na recusa de encarar qualquer coisa “como é” e na tentativa de
interpretar tudo como um estágio de algum desenvolvimento posterior.
Que a força motriz dessa evolução fosse chamada de natureza ou de
história tinha importância relativamente secundária. Nessas ideologias, o
próprio termo “lei” mudou de sentido: deixa de expressar a estrutura de
estabilidade dentro da qual podem ocorrer os atos e os movimentos
humanos, para ser a expressão do próprio movimento.
A política totalitária expôs a verdadeira natureza desses movimentos, na
medida em que mostrou claramente que o processo não podia ter fim. Se é
lei da natureza eliminar tudo o que é nocivo e indigno de viver, a
própria natureza seria eliminada quando não se pudessem encontrar novas
categorias nocivas e indignas de viver; se é lei da história que, numa
luta de classes, certas classes “fenecem”, a própria história humana
chegaria ao fim se não se formassem novas classes que, por sua vez,
pudessem “fenecer” nas mãos dos governantes totalitários. Em outras
palavras, a lei de matar, pela qual os movimentos totalitários tomam e
exercem o poder, permaneceria como lei do movimento mesmo que
conseguissem submeter toda a humanidade ao seu domínio.
No corpo político do governo totalitário, o lugar das leis positivas é
tomado pelo terror total, que se destina a converter em realidade a lei
do movimento da história ou da natureza.
O terror torna-se total quando independe de toda oposição; reina supremo
quando ninguém mais lhe barra o caminho. Se a legalidade é a essência
do governo não tirânico e a ilegalidade é a essência da tirania, então o
terror é a essência do domínio totalitário. O terror é a realização da
lei do movimento. O seu principal objetivo é tornar possível à força da
natureza ou da história propagar-se livremente por toda a humanidade sem
o estorvo de qualquer ação humana espontânea.
O terror procura “estabilizar” os homens a fim de liberar as forças da
natureza ou da história. Esse movimento seleciona os inimigos da
humanidade contra os quais se desencadeia o terror, e não pode permitir
que qualquer ação livre, de oposição ou de simpatia, interfira com a
eliminação do “inimigo objetivo” da História ou da Natureza, da classe
ou da raça. Culpa e inocência viram conceitos vazios; “culpado” é quem
estorva o caminho do processo natural ou histórico que já emitiu
julgamento quanto às “raças inferiores”, quanto a quem é “indigno de
viver”, quanto a “classes agonizantes e povos decadentes”. Os próprios
governantes não afirmam serem justos ou sábios, mas apenas executores de
leis históricas ou naturais; não aplicam leis, mas executam um
movimento segundo a sua lei inerente. O terror é a legalidade quando a
lei é a lei do movimento de alguma força sobre-humana, seja a Natureza
ou a História. O terror, como execução da lei de um movimento cujo fim
ulterior não é o bem-estar dos homens nem o interesse de um homem, mas a
fabricação da humanidade, elimina os indivíduos pelo bem da espécie,
sacrifica as “partes” em benefício do “todo”.
Confundir o terror total com um sintoma de governo tirânico é tão fácil
porque o governo totalitário, em seus estágios iniciais, tem de
conduzir-se como uma tirania e põe abaixo as fronteiras da lei feita
pelos homens. Mas o terror total não deixa atrás de si nenhuma
ilegalidade arbitrária, e a sua fúria não visa ao benefício do poder
despótico de um homem contra todos, e muito menos a uma guerra de todos
contra todos. Em lugar das fronteiras e dos canais de comunicação entre
os homens individuais, constrói um cinturão de ferro que os cinge de tal
forma que é como se a sua pluralidade se dissolvesse em Um-Só-Homem de
dimensões gigantescas.
O governo totalitário não restringe simplesmente os direitos nem
simplesmente suprime as liberdades essenciais; tampouco, consegue
erradicar do coração dos homens o amor à liberdade, que é simplesmente a
capacidade de mover-se, a qual não pode existir sem espaço. O terror
total, a essência do regime totalitário, não existe a favor nem contra
os homens. Sua suposta função é proporcionar às forças da natureza ou da
história um meio de acelerar o seu movimento. Esse movimento,
transcorrendo segundo a sua própria lei, não pode ser tolhido a longo
prazo; no fim, a sua força se mostrará sempre mais poderosa que as mais
poderosas forças engendradas pela ação e pela vontade do homem.
O terror executa sem mais delongas as sentenças de morte que a Natureza
supostamente pronunciou contra aquelas raças ou aqueles indivíduos que
são “indignos de viver”, ou que a História decretou contra as “classes
agonizantes”, sem esperar pelos processos mais lerdos e menos eficazes
da própria história ou natureza.
Os habitantes de um país totalitário são arremessados e engolfados num
processo da natureza (nazista) ou da história (comunista) para que se
acelere o seu movimento; como tal, só podem ser carrascos ou vítimas da
sua lei inseparável. O processo pode decidir que aqueles que hoje
eliminam raças e indivíduos ou membros das classes agonizantes e dos
povos decadentes serão amanhã os que devam ser imolados. Aquilo de que o
sistema totalitário precisa para guiar a conduta dos seus súditos
é um preparo para que cada um se ajuste igualmente bem ao
papel de carrasco e ao papel de vítima. Essa preparação bilateral, que
substitui o princípio de ação, é a ideologia.
*
Esquerda diz que nazista tem de ser tratado matando. A seguir, chama todo mundo de nazista
Um fenômeno perigosíssimo está ocorrendo no Brasil. A esquerda prega
morte aberta a nazistas, o que seria ótimo. Mas, para esquerdistas,
“nazista” é todo mundo à direita de Stalin
http://sensoincomum.org/2020/01/24/esquerda-nazista-tratado-matando-chama-todo-mundo-nazista/
Massacre de Katyn: quando a União Soviética matou 22 mil poloneses e culpou os nazistas
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-massacre-de-katyn-quando-antiga-urss-executou-22-mil-poloneses-e-jogou-culpa-nas-tropas-nazistas.phtml
COMUNISMO É CRIME - UCRÂNIA APROVA LEI QUE IGUALA O COMUNISMO AO NAZISMO https://conspiratio3.blogspot.com/2019/07/comunismo-e-crime-ucrania-aprova-lei.html
"Rudolph Rummel, o demógrafo perito em contabilizar todos os
homicídios em massa causados por governos, estimou o total de vidas
humanas dizimadas pelo socialismo do século XX em 61 milhões na União
Soviética, 78 milhões na China, e aproximadamente 200 milhões ao redor
do mundo. Todas essas vítimas pereceram de inanições causadas pelo
estado, coletivizações forçadas, revoluções culturais, expurgos e
purificações, campanhas contra a renda não-merecida, e outros
experimentos diabólicos envolvendo engenharia social."
https://www.mises.org.br/ArticlePrint.aspx?id=2795
O PADRÃO TOTALITÁRIO - HANNAH ARENDT E OUTROS https://conspiratio3.blogspot.com/2020/07/o-padrao-totalitario-hannah-arendt-e.html
SOCIALISMO É A PROMESSA DE OBTER UM RESULTADO POR MEIOS QUE PRODUZEM O RESULTADO INVERSO - NÚMEROS MACABROS https://conspiratio3.blogspot.com/2016/08/socialismo-e-promessa-de-obter-um.html
A DESTRUIÇÃO FÍSICA NO COMUNISMO E NO NAZISMO - SOBRE O LIVRO DE ALAIN BESANÇON, A INFELICIDADE SO SÉCULO
https://conspiratio3.blogspot.com/2020/07/a-destruicao-fisica-no-comunismo-e-no.html
ANTIGA TÉCNICA COMUNISTA DA FABRICAÇÃO DO CRIME E DA CULPA - A campanha de expurgo de certas administrações recrudesceu a partir de 1930, quando Stálin, desejoso de acabar definitivamente com os "direitistas" decidiu demonstrar as ligações destes com os "especialistas-sabotadores". Devidamente instruída por Stalin, a GPU (Polícia Secreta) havia preparado dossiês destinados a demonstrar a existência de organizações anti-soviéticas ligadas entre si. Os investigadores conseguiram extrair "confissões" de um certo número de pessoas presas, tanto sobre seus contatos com "direitistas", quanto sobre sua participação em complôs imaginários para eliminar Stalin e derrubar o regime soviético. As técnicas e os mecanismos de fabricação de casos sobre pretensos "grupos terroristas" estavam perfeitamente afinados desde 1930. (Referência: O Livro Negro de Comunismo) https://conspiratio3.blogspot.com/2020/04/click-time-censura-do-apoia-se-e-o-peso.html
Comunismo é genocídio. É genocídio na teoria, é genocídio na estratégia,
é genocídio na prática historicamente conhecida e é genocídio nos
métodos atuais com que subsiste em Cuba, se fortalece na China e se
propaga na Colômbia. É genocídio na apologia da violência por Karl Marx,
na técnica leninista do terror sistemático, na arquitetura stalinista e
maoísta do Estado-presídio cuja máxima eficiência, segundo técnicos da
KGB, foi alcançada em Cuba. O comunismo prega o genocídio, justifica o
genocídio, orgulha-se do genocídio e, onde quer que tenha reinado,
sempre viveu do genocídio. Discuti-lo respeitosamente é admitir que
exista o direito moral à propaganda do genocídio. https://olavodecarvalho.org/brincar-de-genocidio/
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