Sunga, decoro, Mann e Musil
(...)
A exemplo de São Paulo, o meu predileto da Bíblia, na Primeira Epístola aos Coríntios, “tudo me é permitido, mas nem tudo me convém” (I Cor 6,12).
Volto, dia desses, a falar de literatura e das coisas que realmente me
comovem. O poeta latino Horácio está entre os meus prediletos: porque
tinha, ao escrever, uma moderação, um recato, uma economia, que são
admiráveis. Coisas que, infelizmente, não tenho. Sei que sou barroco às
vezes; outras vezes, borrascoso mesmo. Espero que o tempo me confira
serenidade, amanse a minha fúria. Nem que seja já ali, bem perto do fim.
A esperança, a minha, há de morrer comigo.
Numa entrevista que fiz com Contardo Calligaris — e não estou
dizendo, com isso, que ele endossaria este texto —, ele me contou uma
passagem admirável. Ele, Contardo, um jovem comunista, indagou
severamente seu pai: “Como o senhor pode ser um militante antifascista e
não ser comunista?” O pai lhe respondeu: “Sabe o que é? Eu era contra
os fascistas porque eu os achava tão vulgares!” Assim que for
tecnicamente possível, publicarei aqui essa entrevista.
A resposta é encantadora. Trata-se de uma aposta na civilização. A
sunga de Lula, ainda que ele fosse o nosso Péricles, é vulgar. Nenhuma
outra palavra a define. Neste estrito sentido, sem que ela seja causa de
nada, torna-se um emblema de uma falta mais geral de decoro, de
harmonia, de proporção. Na novela Tonio Kröger, o grande Thomas
Mann escreve: “A beleza engendra o pudor” — cito de memória, mas deve
ser isso. Em nome de uma suposta reparação social, tornada magnífica
pelos “intelectuais do regime”, o país está ficando a cada dia mais
vulgar, feio, despudorado. Ladrões descarados evocam em sua defesa uma espécie de amor à causa; querem que sejamos cúmplices morais de sua concupiscência.
Um contemporâneo de Mann, Robert Musil, o meu predileto, vocês sabem, define uma nova era:
“Algo
imponderável. Um presságio. Uma ilusão. Como quando um ímã larga a
limalha, e esta se mistura toda outra vez. Como quando fios de novelos
se desmancham. Quando um cortejo se dispersa. Quando uma orquestra
começa a desafinar. (…) Idéias que antes possuíam um magro valor
engordavam. Pessoas antigamente ignoradas tornavam-se famosas. O
grosseiro se suaviza. (…) havia apenas um pouco de ruindade demais
misturada ao que era bom, engano demais na verdade, flexibilidade demais
nos significados (…)” Está em O Homem Sem Qualidades.
Por Reinaldo Azevedo
artigo completo em:
Sobre Valores – Maynard Marques de Santa Rosa
"Quando um país se encontra à deriva, a vítima principal é a confiança, um ingrediente vital. Sem ela, grassa a insegurança e falta crédito na economia. Sem crédito, não há investimento. E sem investimento, não há progresso, nem emprego.
"O revisionismo cultural produzido pela opinião ideológica é antinatural e corrosivo. A Dra. Marie Louise von Franz concluiu, na década de 1950, que: “O sucesso da propaganda provoca uma repressão das reações inconscientes. E a repressão da massa leva à dissociação neurótica e à enfermidade mental, já que está em oposição aos nossos instintos”
Nenhum comentário:
Postar um comentário