A MÃO DA KGB NO ASSASSINATO DE JFK: A NOVA PROVA
Escrito por Ion
Mihai Pacepa | 25 Novembro 2013
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Desinformação
“Para entender
realmente os mistérios da espionagem soviética, de nada ajuda ver um filme de
agente secreto ou ler um romance de espiões, pois isto é apenas diversão. Você
precisa ter vivido naquele mundo de segredo e falsidade durante uma vida, como
eu vivi, e mesmo assim pode não entender o que está acontecendo nos momentos
mais obscuros, a menos que seja um dos pouquíssimos no topo da pirâmide.”
O presidente John
F. Kennedy foi assassinado faz 50 anos, e a maior parte das pessoas ainda
acredita erroneamente que o culpado foi a CIA ou o FBI, a máfia ou os
empresários conservadores americanos. Também há 50 anos, o Kremlin deu início a
uma intensa operação de desinformação mundial, de codinome “Dragon”, destinada
a desviar a atenção da ligação da KGB com Lee Harvey Oswald. Há uma conexão
entre os fatos: Oswald era um marine americano que desertou para Moscou, retornou
aos Estados Unidos três anos depois com a sua esposa russa, matou o presidente
Kennedy e foi preso antes de conseguir pôr em prática o seu plano de fugir para
Moscou. Em uma carta datada de 1° de julho de 1963, Oswald pediu à embaixada
soviética em Washington, D.C., para conceder à sua esposa um visto imediato de
entrada na União Soviética e outro para ele separadamente (na carta,
“separadamente” está escrito com erro de ortografia e sublinhado).
A operação “Dragon” do Kremlin está descrita no meu
livro Programmed to Kill: Moscow’s Responsibility for Lee Harvey Oswald’s
Assassination of President John Fitzgerald Kennedy. Em 2010, este livro foi exibido na
Organization of American Historians junto com uma resenha do professor Stan
Weber (McNeese State University). Ele descreveu o livro como um “novo e
excelente trabalho exemplar sobre a morte do presidente Kennedy” e “leitura
obrigatória por toda e qualquer pessoa interessada no assunto”. [1]
Programmed to
Kill é uma análise real do crime do século da KGB cometido durante a era
Khrushchev. Naqueles dias, o antigo conselheiro chefe da KGB na Romênia havia
se tornado o comandante do onipotente serviço de espionagem estrangeiro
soviético e me levou para os mais altos círculos da camarilha da inteligência do
bloco soviético. O meu livro também contém uma apresentação real dos frenéticos
esforços de Khrushchev para proteger o seu traseiro. Lembrando-se de que o
assassinato do arquiduque Franz Ferdinand pelo terrorista sérvio Gavrilo
Princip, em 1914, havia dado início à Primeira Guerra Mundial, Khrushchev temia
que o conhecimento pelos EUA do envolvimento da KGB com Oswald podia ser o
estopim da primeira guerra nuclear. Os interesses de Khrushchev coincidiram com
os interesses de Lyndon Johnson, o novo presidente americano, prestes a
enfrentar eleições em menos de um ano, e qualquer conclusão implicando a União
Soviética no assassinato forçaria Johnson a tomar uma ação política ou militar
indesejada, prejudicando ainda mais a sua popularidade, já baixa por causa da
guerra no Vietnã.
De acordo com
novos documentos da KGB, disponíveis após Programmed to Kill ter sido
publicado, o esforço soviético para desviar a atenção do envolvimento da KGB no
assassinato de Kennedy começou no dia 23 de novembro de 1963 – o dia
imediatamente seguinte ao dia em que Kennedy foi morto – e teve início com um
memorando para o Kremlin assinado pelo comandante da KGB Vladimir Semichastny.
Ele pediu ao Kremlin para publicar imediatamente um artigo em um “jornal
progressista em um dos países do Ocidente… mostrando a tentativa, por círculos
reacionários nos EUA, de tirar a responsabilidade pelo assassinato de Kennedy
dos verdadeiros criminosos, (ou seja), os racistas e ultra-direitistas,
culpados pela propagação e crescimento da violência e terror nos Estados
Unidos”.
O Kremlin
concordou. Dois meses mais tarde, R. Palme Dutt, editor de um jornal britânico
controlado pelos comunistas chamado Labour Monthly, assinou um artigo
levantando o espectro do envolvimento da CIA sem oferecer a mínima prova. “(A
maior parte d)os comentaristas” Dutt escreveu “suspeita de um golpe de
ultra-direitistas ou racistas de Dallas… (que), com a manifesta cumplicidade
necessária por parte de uma ampla gama de autoridades, exibe todos os carimbos
de um trabalho da CIA”. A carta super secreta de Semichastny e o subsequente
artigo de Dutt foram reveladas pelo ex-presidente russo Boris Yeltsin no seu
livro The Struggle for Russia, publicado 32 anos após o assassinato de
Kennedy.
Não é de admirar
que Yeltsin tenha sido desalojado do palácio por um golpe da KGB transferindo o
trono do Kremlin para as mãos da KGB – que ainda o segura com firmeza. Em 31 de
dezembro de 1999, Yeltsin surpreendeu a Rússia e o resto do mundo ao anunciar a
sua aposentadoria. “Entendo que devo fazê-lo” (2) explicou, falando em frente a
uma árvore festivamente decorada para o Ano Novo junto a uma bandeira russa
azul, vermelha e branca e uma águia russa dourada. Yeltsin em seguida assinou
uma lei “no uso dos poderes do presidente russo” declarando que, sob o Artigo
92 Seção 3 da Constituição Russa, o poder do presidente russo seria
temporariamente exercido pelo Primeiro Ministro Vladimir Putin, a partir do
meio-dia de 31 de dezembro de 1999. (3) De sua parte, o recentemente designado
presidente assinou um decreto perdoando Yeltsin, supostamente ligado a pesados
escândalos de suborno, “de quaisquer possíveis delitos” e concedendo a ele
“total imunidade” a processos (ou até mesmo investigações e interrogatórios)
referentes a “toda e qualquer” ação realizada durante o governo. Putin também
deu a Yeltsin uma pensão vitalícia e uma dacha do estado (4).
Logo em seguida,
a pequena janela no arquivo da KGB, aberta com estrondo por Yeltsin, foi
fechada silenciosamente. Felizmente, antes disso ele foi capaz de revelar o
memorando de Semichastny, responsável por gerar a conspiração Kennedy que nunca
mais parou.
O artigo de Dutt
foi seguido pelo primeiro livro sobre o assassinato de JFK publicado nos
Estados Unidos: Oswald: Assassin or Fall Guy? Escrito por um antigo membro
do Partido Comunista da Alemanha, Joachim Joesten, foi publicado em Nova Iorque
em 1964 por Carlo Aldo Marzani, antigo membro do Partido Comunista Americano e
agente da KGB. O livro de Joesten alega, sem fornecer nenhuma prova, que Oswald
era “um agitador do FBI com passado na CIA”. Documentos altamente secretos da
KGB contrabandeados da Rússia pelo desertor Vasili Mitrokhin, com a ajuda do
MI6 britânico, em 1993 – bem depois das duas investigações do governo americano
sobre o assassinato terem sido concluídas – mostram que no início dos anos
1960, Marzani recebeu subsídios num total de 672 mil dólares do Comitê Central
do Partido Comunista. Isto levanta a questão do porquê Marzani ter sido pago
pelo partido e não pela KGB, da qual era agente. A carta recentemente liberada
de Semichastny nos dá a resposta: no dia seguinte ao do assassinato, o Kremlin
assumiu o controle da operação de desinformação destinada a culpar os Estados
Unidos pelo assassinato de JFK. Por este motivo, Oswald: Assassin or Fall
Guy? foi promovido por uma operação conjunta do partido com a KGB.
A primeira
resenha do livro, altamente elogiosa, foi assinada por Victor Perlo, membro do
Partido Comunista Americano, e publicada em 23 de setembro de 1964 na
publicação New Times, a qual eu conhecia como uma fachada da KGB por ter
sido impressa uma vez na Romênia. Em 9 de dezembro de 1963, o jornalista
“progressista” americano I. F. Stone publicou um longo artigo no qual tentou
justificar porque os Estados Unidos haviam assassinado o seu próprio
presidente. Ele chamou Oswald de louco direitista, mas colocou a culpa real na
“belicosa Administração” dos Estados Unidos, que estava tentando vender para a
Europa uma “monstruosidade nuclear”. Stone foi identificado como agente pago da
KGB, de codinome “Blin”.
Joesten dedicou o
seu livro a Mark Lane, esquerdista americano autor, em 1966, do
best-seller Rush to Judgment, segundo o qual Kennedy fôra assassinado por
um grupo americano conservador. Documentos do Arquivo Mitrokhin mostram que a
KGB enviou indiretamente dinheiro para Mark Lane (dois mil dólares) e que o
agente da KGB Genrikh Borovik mantinha contato regular com ele. Outro desertor
da KGB, o coronel Oleg Gordievsky (antigo chefe do posto da KGB em Londres)
identificou Borovik como cunhado do general Vladimir Kryuchkov; Kryuchlov se
tornou comandante da KGB em 1988 e em agosto de 1991 liderou o golpe em Moscou
tentando recriar a União Soviética.
O ano de 1967 viu
a publicação de mais dois livros atribuídos a Joesten: The Case Against
Lyndon Johnson in the Assassination of President Kennedy e Oswald:
The Truth. Ambos sugeriam que o presidente Johnson e a CIA haviam matado
Kennedy. Logo foram seguidos por A Citizen´s Dissent, de Mark Lane (1968).
Lane também viajou bastante mundo afora pregando que os Estados Unidos eram um
“estado policial do FBI” responsável pela morte do seu próprio presidente.
Com tais livros,
a conspiração sobre Kennedy nascera, e jamais morreria. A crescente
popularidade dos livros sobre o assassinato de JFK encorajou todo o tipo de
gente com qualquer conhecimento remotamente relacionado com o assunto a entrar
na festa, cada qual vendo os eventos a partir de sua limitada perspectiva.
Alguns milhares de livros foram escritos sobre o assassinato de Kennedy, e a
hemorragia continua. A despeito desta crescente montanha de papel, uma
explicação satisfatória da motivação de Oswald ainda precisa ser dada,
primeiramente porque a importante dimensão do assunto da política externa
soviética e da prática da inteligência soviética no fim dos anos 1950 e no
começo dos anos 1960 ainda não foi relacionada com Oswald por nenhuma
autoridade competente. Por que não? Porque nenhuma destas autoridades jamais
pertenceu à KGB, nenhuma tem familiaridade com o seu modus operandi.
Por sua própria
natureza, a espionagem é um empreendimento enigmático e dúbio, e nas mãos
dos soviéticos desenvolveu-se e virou uma filosofia completa, onde cada aspecto
tinha o seu próprio conjunto de regras testadas e precisas e seguia um padrão
fixo. Para entender realmente os mistérios da espionagem soviética, de nada
ajuda ver um filme de agentes secretos ou ler um romance de espiões, pois isto
é apenas diversão. Você precisa ter vivido naquele mundo de segredo e falsidade
durante uma vida, como eu vivi, e mesmo assim pode não entender o que está
acontecendo nos momentos mais obscuros, a menos que seja um dos pouquíssimos no
topo da pirâmide.
Por isso, fiz uma
curta apresentação destes momentos sombrios, cruciais para entender como o Kremlin
tem sido capaz de fazer todo mundo de bobo, levando todos a acreditar que os
Estados Unidos mataram um dos seus mais amados presidentes. Clique aqui para
ler “11 Facts That Destroy JFK Conspiracy Theories”. Vamos juntos retornar
àquele mundo de espionagem e falsidade soviéticas. Ao fim do nosso resumo,
espero que você concorde comigo de que os soviéticos têm uma mão no assassinato
do presidente Kennedy. Também espero que depois você veja com olhos diferentes
futuros documentos referentes ao assassinato de JFK. Talvez você possa
descobrir manobras soviéticas/russas neles ocultas.
Notas:
1 - Stan Weber, “A New Paradigmatic Work on the JFK
Assassination,” H-Net Online, October
2009, http://www.h-net.org/reviews/showrev.php?id=25348
2 - Barry Renfrew, “Boris Yeltsin Resigns,” The
Washington Post, December 31, 1999, 6:48 a.m.
3 - Matt Drudge Report, December 31, 1999, 11:00 AM
UTC.
4 - Ariel Cohen, “End of the Yeltsin Era,” The
Washington Times, January 3, 2000, Internet Edition, cohen-20000103.
Publicado no
site PJ Media em 20 de novembro.
Ion Mihai Pacepa,
general da Securitate, a polícia política romena, é o oficial de mais alta
patente que desertou do bloco comunista.
Tradução: Ricardo Hashimoto
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