O Desconstrucionismo Moderno e a Legitimação da Mentira
O Desconstrucionismo, dizem, foi um movimento filosófico moderno caracterizado pela busca da verdade a partir da “desconstrução” do objeto em estudo. Seria este seu núcleo essencial metódico, sua diferença específica basilar. No entanto, não tão dito mas muito mais evidente é o fato de que sempre resta certa perplexidade quando propõe-se a demarcação das reais e efetivas fontes de tal escola, sensíveis desde Nietzsche, mas maduras apenas no âmbito cultural do que alcunhou-se “Escola de Frankfurt” (corpo doutrinário cuja existência mesma, por sua vez e também, é ainda mais discutível).
De fato, a única consideração certeira e
irrefragável a respeito da doutrina desconstrucionista é que, a despeito
de seu arrogado status de sistema de análise fragmentada da realidade,
como única via para a acepção da plenitude da mesma, acabou por
manifestar a inesperada conclusão, produto de seu método, nos seguintes
termos, mais corriqueira e celebremente aplicados às artes plásticas:
cada um tem a sua interpretação da obra; cada um, seu ponto de vista;
cada qual, sua verdade, jamais uma ilusão ou uma mentira, ainda que
diametralmente dissonante de qualquer das verdades alheias.
Extirpa-se do convívio humano, de um modo
tão simples quanto conveniente, a relação secularmente dicotômica entre
os pares falso/verdadeiro, ilusório/real, mentiroso/honesto. O
procedimento é o mais primário possível: com uma pinça filosófica
matreira, suspende-se das díades seus primeiros termos, não mais
possíveis nessa “nova (e flexível) realidade”. Em seguida, atira-se-os
no latão de lixo que guarda as verdades malquistas pela novilíngua –
hoje menos ficta que real – possível apenas com a proliferação do
desprezo desconstrucionista para com a verdade.
O aparente absurdo da conclusão, no
entanto, não se conforma à mera condição de desconforto lógico
superficial. Trata-se, em verdade, do produto puro, natural e inevitável
dessa tradição.
Nesta altura, tal conjunto de
considerações sobre o desconstrucionismo permite-nos subsumi-lo com
perfeição ao conceito de “Paralaxe Cognitiva”, construído pelo filósofo
Olavo de Carvalho, e assim definido: trata-se do “afastamento entre o
eixo da construção teórica e o eixo da experiência real do indivíduo que
está fazendo essa construção”.
Transbordando o núcleo de nosso tema,
convém narrar a revolução filosófica (cujo substrato maior foi
precisamente a postura paralaxitante de seus filhos) que permitiu a
mesma existência da tradição desconstrucionista.
Ocorre que, a partir de certo momento
histórico, deu-se tal ruptura no caminho trilhado pela filosofia
ocidental, até então mansa para com toda verdade que a seus olhos
saltasse. Com efeito, podemos ver cristalinamente que filósofos como
Aristóteles, São Tomás de Aquino e Santo Agostinho teorizavam com os
olhos postos diretamente sobre a natureza que os circundava, cientes de
sua inserção nessa mesma e peremptória natureza, e não como donas de
casa distraídas diante do Discovery Channel, transmutável em novela das oito com um clique no controle-remoto.
Observava-se, de dentro, como quem dentro
se encontra; depois, tão de dentro quanto antes, mas como quem fora e
acima sempre esteve.
Com o Racionalismo, o contraste entre
consciência situacional e ponto de vista lunático acentuou-se e
enrijeceu-se . Descartes, com a “dúvida universal”, põe-se como
observador distante da natureza. Spinosa e Leibniz também deram
continuidade a esse novo caminho, com a readaptação da Teoria dos Dois
Relógios e com a Teoria do Conhecimento. Com Bacon, a universalidade do
empirismo foi posta como critério padrão da Verdade; e uma rede de
legitimação da mentira, travestida de critério de busca do real,
firmemente estabelecida.
Retornando à contemporaneidade, vemos com
certa freqüência o uso das expressões “cada um tem sua verdade”, ou “a
verdade é relativa”. Numa tentativa covarde de fuga de discussões, o ser
humano tem se posto acima da própria natureza, outorgando a si mesmo
como que um título deístico, capaz de fazer nascer uma realidade
desprovida de fontes anteriores e palpáveis.
Essa empreitada de arrogância, como vimos, estende-se de há muito.
Assim Descartes, ao duvidar de tudo,
esvaziando-se por completo de qualquer conhecimento prévio, constrói o
mais puro absurdo. É que o estabelecimento mesmo daquilo que seria o
primeiro enunciado da verdade, “penso, logo existo”, já o faz circundar
por um terreno que é, pura e simplesmente, de domínio do real.
Spinosa, da mesma forma, acaba por se
contradizer ao afirmar que tudo está dentro de Deus, ora entendido como a
totalidade da Natureza. Tudo estando imerso na realidade metafísica,
como o indivíduo pode pretender analisar a natureza como observador
externo? Vale dizer, fora de si mesmo?
De seu turno, o Empirismo, ao tentar
estabelecer a experiência como critério único da verdade, incorre em
erro deveras psicótico. Senão, o que significa a parte da realidade que
não pode ser submetida (ou simplesmente não foi) ao teste da experiência
? Ou, a despeito de qualquer outra fonte informativa, deve alguém
afirmar seguramente a inexistência da China por jamais ter posto os pés
em seu solo?
No seio da própria realidade Cristã, a
qual aceita em Cristo a verdade absoluta, o tal desconstrucionismo tem
emprestado ares de modernidade a padres e pastores. O que se chama de
“Teologia Aberta”, fortemente defendida por pastores amparados num
Rabino de nome Harold Kuschner, trás a idéia de um deus posto como
espelho ante o indivíduo. Um deus que se amolda às carências e
percepções de cada um. Um deus, por conseguinte, relativo, ele sim
moldado à imagem e semelhança desses tantos lunáticos que obtêm seis da
soma de quatro com um.
E assim, paulatina e deliberadamente, é
que vemos nascer a aberração filosófica que permeia nossos dias.
Aberração esta muito visível, para ficarmos com exemplos recentes, nas
peripécias de um tal cartunista que, a despeito de provido dessas duas
bolas que temos todos, exige livre acesso ao banheiro das damas; também
na recente metamorfose do termo “Estado laico” em “Estado ateu”, mágica
essa operada em conjunto por uma associação de lésbicas e pelo Poder
Judiciário, com o fito de que fossem retirados (como foram) todos os
crucifixos que adornassem os tribunais gaúchos; e, bem, quqnato aos
incontáveis direitos humanos que com grande paixão atribue-se a bois,
papagaios e cachorros, cremos prescindíveis quaisquer comentários.
Nesse sentido é que o desconstrucionismo
trás seus males para contemporaneidade. Hoje já se mostra maduro o
suficiente seu mais importante fruto: a possibilidade ilimitada de
manipulação automática da realidade ao bel-prazer de um homem-deus, que
se julga acima e fora daquilo tudo mesmo que é mais evidente a seus
sentidos e a seu intelecto.
No âmbito do Direito, temos um reflexo
irreversível da “revolução silenciosa” operada pelo desconstrucionismo.
Ocorre que as Cortes, donas da verdade contra todos, têm cada vez mais
se preocupado em cumprir ritos que buscar a materialidade dos fatos. Um
indivíduo é evidentemente culpado, mas por contra da mais boboca
nulidade procedimental é livrado de uma sentença que o doa no bolso ou
nos ossos. Quanto à doutrina e à academia, estão seus doutores cada vezm
mais imersos numa chacina cada vez mais cega, em que se quer cada vez
mais moldar uma natureza já tão sangrada aos conceitos, e não
vice-versa.
http://statoferino.wordpress.com/2012/05/03/o-desconstrucionismo-moderno-e-a-legitimacao-da-mentira/
*
QUANTO PIOR, MELHOR: DIALÉTICA DA PERVERSIDADE E REVOLUÇÃO CULTURAL - GRAMSCI E O POLITICAMENTE CORRETO
http://conspiratio3.blogspot.com.br/2013/05/quanto-pior-melhor-dialetica-da.html
O FIM DA VERDADE - HAYEK, MARX, GRAMSCI E MAQUIAVEL
http://conspiratio3.blogspot.com.br/2013/05/o-fim-da-verdade-hayek-marx-gramsci-e.html
POR QUE A CRIMINALIDADE SÓ CRESCE? ESTRATEGIA REVOLUCIONÁRIA PRESSÃO DE CIMA E PRESSÃO DE BAIXO
http://conspiratio3.blogspot.com.br/2013/06/por-que-criminalidade-cresce-estrategia.html
A VERDADE NÃO EXISTE, A MENTIRA ÚTIL É A VERDADE - MARX, GRAMSCI E MAQUIAVEL
*
http://delinks.blogspot.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário