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"No caso do Mensalão, por exemplo, a incapacidade geral de atinar
com a diferença específica do que está acontecendo é produzida pelo
seguinte fator: uma década e meia de denúncias, fomentadas
astuciosamente pelo partido que num choque de retorno veio a tornar-se
depois o principal suspeito delas, criou o hábito de encarar o dinheiro
do Estado como o bem mais valioso, superior mesmo ao próprio Estado, e
de não conceber os crimes contra o Estado senão sob a categoria do roubo
e da corrupção. Isso tornava impossível imaginar a possibilidade de
delitos mais vastos e ambiciosos, que assim podiam ser cometidos sem
medo ante milhões de olhos cegos.
Ora, o partido que infundiu esse hábito na mente do povo fez isso
justamente porque sabia que o calcanhar-de-Aquiles dos adversários a
quem desejava destruir estava na sua ânsia de enriquecimento pessoal,
coextensiva à sua vacuidade ideológica, à sua completa falta de
objetivos político-estratégicos maiores. Ele, por sua vez, tinha um
objetivo político-estratégico maior: a destruição da ordem democrática, a
deglutição do Estado no ventre da onipotência partidária, a criação de
um regime socialista nos moldes delineados pelo Foro de São Paulo, o
alinhamento do Brasil no eixo comuno-terrorista. Tinha esse objetivo e
sabia não apenas que ele era ilegal em si mas que sua realização
exigiria o uso de meios criminosos de envergadura jamais ambicionada por
seus miúdos adversários. Não se tratava de enriquecer o sr. fulano ou
de garantir o futuro do sr. beltrano, corrompendo, para esse fim, meia
dúzia de parlamentares e uns quantos funcionários burocráticos.
Tratava-se de elevar um partido acima do poder do Estado – e para isso
era preciso corromper o maior número de políticos, a classe política
inteira se possível, sobretudo e de preferência os virtuais adversários
do partido, para que, em caso de perigo, corressem em socorro dele ou
pelo menos se abstivessem de dizer o que sabiam contra ele. Tratava-se
de comprar tudo e todos, organizadamente, sistematicamente, para que
ninguém pudesse denunciar nada sem denunciar-se a si próprio."
Olavo de Carvalho
http://olavodecarvalho.org/da-ignorancia-a-maldade/
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