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Nenhuma
opinião política é em si um crime, mesmo quando apregoada do alto das
cátedras e dos púlpitos. O crime começa quando, prevalecendo-se da
autoridade da educação, da ciência e até do Estado, ela implica a
supressão ou deformação deliberada e sistemática das opiniões
concorrentes e alternativas que lhe fazem contraste e sem as quais, por
isso mesmo, ela deixa de ser um discurso político e se torna um fetiche
hipnótico, uma operação de feitiçaria e um instrumento de dominação
mental do seu público.
Isso é precisamente o que parece acontecer nas universidades brasileiras em geral, nas quais o marxismo e as correntes que dele derivam adquirem o prestígio de uma verdade sacrossanta e induscutível precisamente mediante o silêncio ou a adulteração caricatural impostos às teorias e opiniões alternativas. O indício mais claro e indiscutível de que esse é realmente o estado de coisas no ensino universitário brasileiro foi dado pelo “Dicionário Crítico do Pensamento Brasileiro” (São Paulo, Mauad, 2000), no qual cento e tantos professores altamente representativos, patrocinados por verbas públicas, prometem apresentar as doutrinas às quais se opõem, e nada mais fazem do que escondê-las e torna-las inacessíveis, neutralizando mediante esse truque sujo qualquer perigo que elas pudessem oferecer à ideologia que desejavam infundir no seu público. Nesse caso, o discurso político assume as dimensões de um estelionato, agravado pelo fato de utilizar-se de verbas públicas, da autoridade do Estado e do prestígio da ciência.
No entanto, embora o número e o renome dos seus autores façam desse
livro uma amostra significativa, e embora um primeiro exame de algumas
dezenas de teses universitárias nas áreas de filosofia e ciências
humanas sugira a onipresença de fenômeno semelhante em muitas
universidades, seria temerário apontar esse livro como prova cabal de um
crime geral e endêmico. Só a pesquisa exaustiva das teses e suas
bibliografias pode comprovar as dimensões da conduta delituosa e
justificar a adoção de medidas corretivas que, no caso mais extremo,
podem ultrapassar a esfera da “guerra cultural” e tornar-se atos de
ordem judicial ou legislatva. Isso é precisamente o que parece acontecer nas universidades brasileiras em geral, nas quais o marxismo e as correntes que dele derivam adquirem o prestígio de uma verdade sacrossanta e induscutível precisamente mediante o silêncio ou a adulteração caricatural impostos às teorias e opiniões alternativas. O indício mais claro e indiscutível de que esse é realmente o estado de coisas no ensino universitário brasileiro foi dado pelo “Dicionário Crítico do Pensamento Brasileiro” (São Paulo, Mauad, 2000), no qual cento e tantos professores altamente representativos, patrocinados por verbas públicas, prometem apresentar as doutrinas às quais se opõem, e nada mais fazem do que escondê-las e torna-las inacessíveis, neutralizando mediante esse truque sujo qualquer perigo que elas pudessem oferecer à ideologia que desejavam infundir no seu público. Nesse caso, o discurso político assume as dimensões de um estelionato, agravado pelo fato de utilizar-se de verbas públicas, da autoridade do Estado e do prestígio da ciência.
Tudo o que você queria saber sobre a direita – e vai continuar não sabendo
Olavo de Carvalho
22 de setembro de 2000
O leitor sabe quem são von Mises, Hayek, Rothbard, Kirk, Muggeridge, Horowitz, Sowell, Babbit, Scruton, Peyrefitte, Jouvenel, Voegelin, Guénon, Nasr, Schuon, Lindblom, Rosenstock-Huessy, Rosenzweig, Kristol? Se perguntar a um direitista culto, ele lhe dirá: São os principais pensadores de direita do século XX. Mas, se procurar os seus nomes na lista de verbetes deste “Dicionário Crítico do Pensamento de Direita”, não os encontrará. Em lugar deles, topará com uma lista de tarados, psicopatas, esquisitões, assassinos e genocidas — de Röhm a Eichmann –, muitos deles de identidade ideológica incerta, além de autores de terceira ordem e personagens de importância episódica. De escritores significativos, só os mais enfezados e atípicos, como Charles Maurras, que terminou excomungado por um papa conservador, e Ezra Pound, cujos escritos políticos ninguém leu e que o próprio autor do verbete só conhece por referência indireta. Dos direitistas normais sobraram apenas Ortega, Pareto, Schmitt, Michels, Mosca, Heidegger, Gentile e Burke, além de alguns brasileiros. Em compensação, há verbetes sobre Walt Disney, cuja única contribuição ao “pensamento de direita” foi delatar uns agentes comunistas, sobre Eleonora Duse, da qual só não se pode dizer que não deu nada porque foi amante de um direitista, e sobre Monica Lewinsky, que para a direita só deu assunto.
Se você quer saber o que é a direita, não há de ser aqui que vai obter uma resposta. Mas, se quer saber o que a esquerda deseja que você imagine que a direita é, então, amigo, este é o livro para você. Devore estas páginas em que 120 professores torraram o melhor de seus neurônios e uma substancial verba de pesquisa, e sairá ignorando tudo o que é preciso ignorar para passar de ano na escolinha de militantes em que se transformou a universidade brasileira.
É verdade que o Dicionário começa com uma introdução onde o organizador mostra não ignorar o assunto de todo. Mas, se ele sabe o que é conservadorismo, então por que permite tanto esforço, no resto do livro, para confundi-lo com fascismo e nazismo, que tiveram contra si as mais poderosas forças conservadoras da modernidade, o “establishment” norte-americano e o Império Britânico? De 282 verbetes, 67 são sobre nazismo — a quarta parte do livro, sem uma menção sequer ao fato de que eminentes conservadores julgam o nazismo um movimento de esquerda. Especialmente útil para consolidar a noção falsa é a profusão de verbetes sobre anti-semitismo, todos omitindo que esse fenômeno nada tem de essencialmente direitista, já que endossado por Karl Marx e praticado abundantemente na URSS.
Um “dicionário do pensamento de esquerda” que, omitindo a maioria dos autores essenciais, ao mesmo tempo enfatizasse os cem milhões de mortos, o Gulag, os Processos de Moscou e o trabalho escravo que construiu as economias da URSS e da China, mesmo sem faltar com a verdade nos detalhes, seria considerado pura propaganda direitista e não mereceria comentário. Mas este é propaganda enganosa, que atribui à direita pecados notórios da esquerda, como por exemplo a política racial norte-americana que fortalece as identidades dos grupos separados, incentivando o orgulho e a divisão.
As 460 páginas do livro, divididas pelo número de autores, resultam em menos de quatro para cada um, seguidas de indicações bibliográficas que raramente ultrapassam o total de cinco títulos e quase nunca se reportam a textos originais. Não obstante, o organizador proclama que redigi-las custou quatro anos de trabalho e não poderia ter sido feito sem o auxílio financeiro de três instituições patrocinadoras. Espero, pelo bem da reputação intelectual da equipe, que isso não seja verdade.
O que não se pode negar é que se trata de obra original: este é, nos anais da história editorial, o primeiro livro dedicado a um dos autores que o subscrevem.
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